segunda-feira, 30 de novembro de 2009

espelho, espelho meu



o espelho quebrado não é sinal de azar,
é apenas um aviso.
não acredite no espelho,
ele não é você.
se olhe,
se permita olhar diferente,
e deixe que a vida entre
por entre os cacos do espelho partido.

I.R.

domingo, 29 de novembro de 2009

Mensageira dos Deuses, a Deusa da Lua

61.
e aqui, a ordem também é aleatória.
mãe,
paciente,
forte,
frágil,
amorosa
e de sorriso aberto,
dentro dos meus mutismos, confidente,
sem críticas ou julgamentos,
abraço amigo,
cafuné amoroso,
palavra de consolo,
amiga.
parabéns.
que mais 61 possam
te ajudar a semear ainda mais amor neste mundo.

I.R. (ou B. ou G.)

sábado, 28 de novembro de 2009

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Bilhete para quem vai debater

Buenos Aires, 26 de dezembro de 2009

Prezado(a),

Num debate, não aceito Deus ou um argumento religioso para justificar posições e/ou opiniões no que diz respeito à vida civil.

Definitivamente, Deus não é um argumento válido. Afinal, se vivemos numa democracia, num mundo livre, a lei e os direitos e os deveres e o tratamento dado devem ser os mesmos para todos, tratando-nos por igual, sem preferência do credo ou da moral da religião A, B ou C.

Se a lei de Deus discrimina, das duas uma, ou é falsa e seu autor também, ou seus intérpretes ainda não puderam, quiseram ou se esforçaram para entendê-la.

Viva a pluralidade!

I.R.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

fresta

não me importa a fôrma
ou a forma.
me importa o forno onde
as palavras assam,
o caldeirão onde se misturam.

nem o fim ou o começo
me importam tanto.
quero o meio, o agora.

sou hermético,
embalado a vácuo
e o único ar que entrou em mim
foram dois pneumotórax espontâneos.

I.R.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

viagem de volta

os dias passam e a ansiedade aumenta.
como evitar,
como não ser assim
quando se está perto
da realização de um sonho?

era uma vez uma lagarta
que se transformou em borboleta,
mas queria ser lagarta,
não borboleta,
e um dia iniciou a viagem de volta.

não sou digno da sua fé
nem do seu amor,
eu tantas vezes falho,
eu tantas vezes vil,
que não me dou por completo,
não porque não quero,
mas porque não sei.

os dias se passam e a ansiedade aumenta
as cinzas estão quase no ponto
e a fênix quase pronta para renascer.

divido tanta felicidade,
e sinto como própria
essa emoção de voltar a ser lagarta.

I.R.

domingo, 22 de novembro de 2009

Vigésimo-sexto bilhete para um world músico

Buenos Aires, 22 de novembro de 2009

Prezado,

uma das coisas que mais gosto na música é a falta de fronteiras. Você já reparou que os limites e as distâncias não são nada quando falamos de música? É por isso que um compositor uruguaio de Montevidéu pode ser tocado pela Siberian Brass, de Novosibirsk, e ouvido aqui em Buenos Aires por mim, e por você, onde quer que esteja.


Um abraço,

I.R.

sábado, 21 de novembro de 2009

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Entrega em domicílio

Envio uma energia positiva
Que é grátis e embalada pra presente
Que sai de mim pelo poder da mente
Que as pilhas recarrega e o corpo ativa

Uso uma fórmula xamã nativa
Pra enviar essa energia transparente
Que nos renova assim tão simplesmente
Deixando a cara boa e a alma viva

E a energia que brota de eu-menino
Chega imediatamente ao seu destino
E se renova em mim toda a magia

Assim, reenviá-la eu posso uma vez mais
Por cima do Himalaia e dos Urais
Com a força do pensar, telepatia

I.R.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

a fogo lento

o movimento suave, calculado,
a caixa na mão
e os dedos que a abrem

vagarosamente
a parte central desliza
deixando à mostra vários pedaços de madeira

a caixa aberta na mão esquerda
o indicador e o polegar
fazendo pinça,
escolhem um fósforo

a caixa na mão

o movimento suave, e a tampa deslizando
com lentidão,
fechando-a novamente

caixa fechada e os dedos friccionam
o palito contra a lixa

um instante...

em milésimos de segundo
a primeira fagulha
acende o fogo da eternidade


I.R.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Recreio

Tá cansado? Precisa de uns minutos de descanso, mas as aguinhas de feng shui e os .pps com fotos de paisagens e mensagens de paz te deixam irritado?

Relaxe pouco mais de 9 minutos ao som de Mongo Santamaria.



I.R.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

pelo caminho

não quero voltar aos vinte
e ter certeza de tudo
e ser bom em quase tudo
tendo todo o mundo,
toda a vida, pela frente

não quero voltar aos vinte
e ser um gênio
e ser poeta
tendo todos os versos,
todas as rimas, pra escrever

não quero voltar nem ter vinte
não agora que as certezas são dúvidas
e que sei não ser poeta
nem gênio, nem grande

sou quase nada

e isso não me torna um ser especial
nem faz de mim um escolhido
sou poeira cósmica no universo
pronto para ser varrido

e se de mim se sabe quase nada
se sabe muito, se conhece a minha essência,
ainda mais se a sobrevivência for o meio
e a felicidade a parada final

aos trinta e meio
sei que não sei, que não vivi
sei que não vejo, nem conheci
sei que falta
sei que bato na trave, bato na porta

sei que sou quase

I.R.

domingo, 15 de novembro de 2009

aqueloutro

aquelas queixas repetidas,
aquele queijo vendido a quilo,
nada disso ou daquilo
é o que danilo ou o que aquiles quer
tampouco querem queixo,
tampouco querem gueixa,
um, por pouco, quer o nilo,
isto que corre pelo egito
e seus peixes
e o outro não quer ouro,
só quer que aqueles
que o seguem
queiram deixá-lo chegar à farmácia
pra comprar band-aid
pro seu calcanhar

I.R.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

universo



quero ser buraco negro
no seu céu de uma estrela
ai, sê-lo <...>
e assim poder comê-la.

I.R.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Atualização em Lá Menor

Buenos Aires, 11 de novembro de 2009

Prezados,

depois de um tempo com a Rádio Carta e Verso tocando "Dona Zica", chegou a hora de dar uma renovada. A partir de hoje, e não sei até quando, a rádio toca "La Minor".


I.R.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Às margens do rio Ob



Me chamo Igor, olá, muito prazer,

Não sou monstro nem tenho uma corcunda
Nem peito definido ou boa bunda,
Alguém normal, legal de conhecer

Vivo o que dá e não o vir-a-ser,
Sou o que posso, vida não profunda,
Sonhador, sonho com um sonho que me inunda
E se renova a cada renascer

E em meu sonho sou livre, sou guerreiro,
Nascido n'algum dia de janeiro,
Lutando dia a dia com a matéria,

Pois o meu corpo está bem amarrado,
E pra evitar que eu fique congelado,
Aqueço minhas veias na Sibéria.

I.R.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

cercado


20 anos depois do muro

constroem-se muralhas,

e, se não existe segurança,

sempre existirá o orgulho

da supremacia burguesa ocidental

arrotando suas virtudes

doutrinando-nos com sua moral,

destilando nosso modo de pensar

e de agir

com os seus bons costumes.

e não é difícil se achar superior

ou se aceitar inferior,

pois difícil mesmo é saber-se igual.

20 anos depois do muro

delimitam-se fronteiras

e conhecemos,

sabemos quem são os excluídos,

e eu, por ser imperfeito,

mas não querer ser contraditório,

escolho estar com eles,

do lado de fora da cerca.
I.R.

domingo, 8 de novembro de 2009

o dia de galileu



no dia em que galileu veio ao mundo
as estrelas souberam
que não seriam mais as mesmas
o mundo descobriu
que não teria a primazia
de ser o centro do universo

houve festa na via láctea,
foguetório no sol,
e um cometa marcou
seu lugar de nascimento.

no dia em que galileu veio ao mundo
não se fez um silêncio profundo,
houve chuva de estrelas cadentes,
baile de meteoros,
e o cosmo sorriu satisfeito
ao ver o jogo a seu favor.

e agora, estrelas, cometas, sóis e luas,
meteoros, planetas
e até o buraco negro
com vida no céu sobre nossas cabeças
podem dizer como gagarin
que a terra é azul.

I.R.

sábado, 7 de novembro de 2009

Voltamos


Buenos Aires, 07 de novembro de 2009

Não sei se disse alguma vez que morar longe do Brasil me fez torcer menos, me emocionar menos com o futebol. Nunca fui um torcedor fanático, nem do meu clube nem da seleção. Mas sempre torci, sempre acompanhei e se fiquei triste com a última eliminação do Brasil na copa do mundo, muito mais triste fiquei quando o Vasco caiu para a segunda divisão no ano passado.

Hoje, 11 meses depois, morando longe, ouvindo o jogo pelo rádio, vibrei como há muito tempo não vibrava. Me emocionei com o segundo gol, com o final da partida, com a torcida vibrando no Maracanã lotado.

Resta ser campeão brasileiro em 2010 para consolidar que “o Vasco é o time da vida, o Vasco é o time do amor”. Bem, na verdade, espero apenas que o time seja armado, estruturado e faça um bom campeonato no ano que vem, para que a segunda divisão seja apenas um fato isolado na história vitoriosa do clube.

E já que estou falando de segunda divisão, faltando 4 rodadas para o final da série B, não posso deixar de dizer que quero esse título. Quero ver o Vasco campeão da segundona. Quero poder dizer ao meu amigo G., torcedor do Flamengo, que tenho um título que ele não tem.

O gol da volta:

I.R.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Um pouco de sol

Sexta-feira costuma ser um dia cansativo para mim. Coloquemos um pouco de luz, um pouco de sol, e um pouco de um amor quase adolescente nesse dia.



I.R.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Para começar


O meu sexto sentido me desperta
Lendo o mundo que vive à minha volta,
E o espírito do corpo então se solta
Saltando rumo à vida, à descoberta.

Sexto sentido agudo que me alerta,
Ícone meu servindo como escolta,
Alerta máximo, alma sem revolta,
O dom de adivinhar que me liberta.

Livre pra receber o seu afago,
Escrevo como um bobo ou como um mago,
Sabendo não ser mais um prisioneiro

Sou todo, por inteiro, coração,
Inteiramente entregue à sensação,
Assim como aprendiz de feiticeiro.

I.R.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O que importa

Não.




Não importa.


Não importa o que temos em cima da cabeça



Importa o que temos dentro dela.

I.R.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Mais de 4 décadas

Quando meus pais se conheceram, minha mãe tinha namorado. Cresci ouvindo a história do trabalho fino que o meu pai fez para que ela terminasse com o outro e ficasse com ele. Como ele, fazendo uma comparação com um filme da época, avisou, de maneira nada sutil, que os aviões às vezes partem e as pessoas que chegam tarde aos aeroportos nem sempre tem a possibilidade de um segundo voo.

3 de novembro. Acho que já se passaram uns 41 ou 42 dois anos, meu pai ou minha mãe me corrijam e me confirmem, dessa decisão de pegar esse avião.

Amo vocês.


I.R.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Carta para um coveiro

Buenos Aires, 02 de novembro de 2009

Prezado coveiro,

sei que seu sindicato tem trabalho o ano inteiro, sem interrupções, sem se dar ao luxo de que ninguém trabalhe aos domingos ou feriados como hoje. Seu trabalho é constante, diário e de sol a sol.

Enterrar pessoas deve ser uma tarefa dura. Cavar sepulturas, carregar caixões, limpar jazigos, lidar com a tristeza dos parentes e dos amigos da pessoa falecida, nada disso deve ser fácil. Sei que nos acostumamos com tudo, e que vivemos em uma espécie de anestesia constante quando nosso trabalho envolve dor e sofrimento, mas, confesso, não gostaria de estar nunca em seu lugar.

Não sei se ao trabalhar com a morte tão de perto, você também se faz essas perguntas que filósofos, teólogos e frequentadores de bar, entre os quais me incluo, sempre fazem. Para onde vamos? O que é a morte?

Aviso, se você espera de mim uma resposta, esqueça. Não tenho nenhuma. No entanto, posso dizer em que não acredito. Espero que você não se choque. Não acredito no céu ou no paraíso, chame como quiser, assim como também não acredito no inferno.

Não posso acreditar que existam esses dois lugares para onde vamos depois de termos sido julgados (?!). Como acreditar em um julgamento feito por um deus que já sabe de antemão o veredito? E não me falem de livre-arbítrio. Se Deus, por causa do meu ‘livre-arbítrio’ fosse um juiz que não soubesse com antecipação o resultado do julgamento, então ele não seria deus.

Julgamento? Não acredito. Céu, inferno, um lugar para tocar harpa sobre uma nuvem ou levar chicotadas o dia inteiro, ardendo num fogo que não se apaga? Não sei, mas acho que os autores dessas histórias deveriam ser contratados como roteiristas nos grandes estúdios americanos.

Voltar ao mundo reencarnado em qualquer coisa? É uma opção. Mas não consigo acreditar que um dia serei como o porco que comi hoje no almoço, e que me servirão assado com uma maçã na boca, seguindo a melhor tradição das revistas em quadrinhos.

Outra opção é a reencarnação pura, voltar à vida em outro corpo, viver novamente, me esbarrar com seres queridos de outras encarnações e procurar reconhecê-los através dos sinais, das marcas do destino. Não é uma ideia ruim, mas também não me interessa.

Talvez reste apenas não acreditar em nada, só que essa proposta também não me convence e de maneira alguma me atrai. Ter estado aqui, comer, beber, transar, ter filhos, ler, sofrer, ouvir música, navegar na internet, tomar Viagra, conversar, amar, um longo etc., depois morrer e acabou? Bom para ateus, o que não é meu caso.

Prefiro acreditar que esta é a última vez que estou aqui. E que no futuro me integrarei com a natureza, e a minha energia resistirá naqueles que se lembrarem de mim, e a minha força existirá nas coisas que eu tiver feito, e que minhas cinzas serão espalhadas por aí, em um quintal, na Praia Grande, aos pés do Obelisco, no meio da 9 de Julho ou da Presidente Vargas na hora do rush.

Bom trabalho para você. E aos seus “pupilos”, feliz dia.

I.R.

domingo, 1 de novembro de 2009

Bilhete a um fundidor

Buenos Aires, 1° de novembro de 2009

Prezado fundidor,

Hoje é dia de São Nunca. O dia de São nunca à tarde é agora, e todos os desejos são permitidos, são atendidos. Tudo se torna realidade.

Nesse espírito, agua e azeite se misturam e a fusão é con, é in, é di. Tudo ao mesmo tempo agora. O destino escrevendo seu caminho, sem as interferências de um acaso cada vez menos real. E a fé em São Nunca como única afirmação libertária.

Por isso, neste dia fundamental, quero dividir com você esta mistura, que não se dá na forma, mas na concepção e na leve malícia do jogo de palavras.

O que tem a ver isto:


com isto?


Aparentemente nada. Até o nascimento de Luiz Gonzaga, o rei do baião.


I.R.