Buenos Aires, 21 de outubro de 2008.
Prezado vascaíno,
Já sei que você está se considerando um sofredor. De fato, analisando o atual campeonato brasileiro e as possibilidades que temos... de cair para a segunda divisão, você é um sofredor. Digo, nós somos sofredores.
Cada um tem uma história que explica o porquê de nos termos tornado vascaínos. A mais comum é a herança familiar, a genética, ou paterna ou materna. Esse não é o meu caso. Sou filho de flamenguistas, por mais que eles rejeitem a palavra flamenguista. Eles dizem que são Flamengo. Com dois anos de idade eu vi uma camisa com a caravela e a cruz de malta e pedi ao meu pai. Ele, que sempre quis ser diferente, comprou a camisa para me agradar. Fiquei tão feliz que com dois anos de idade já tinha escolhido um time: o Clube de Regatas Vasco da Gama. A bem da verdade, depois ele até que me comprou uma camisa do Flamengo, mas já era tarde.
Nestes 31 anos de torcedor vascaíno, tive muitas alegrias e muitas tristezas também. Vi o Vasco três vezes campeão brasileiro, campeão da Libertadores, várias vezes campeão carioca, campeão da copa Mercosul, mas vice mundial duas vezes, vice na copa do Brasil, vários vices no campeonato carioca, o que me amaciou para ser vice. Já não me surpreende tanto e já não fico tão frustrado. Ser vice já se tornou coisa corriqueira. O Vasco, você se lembra, já foi tri-vice-campeão carioca.
Agora, estar em último, na lanterna do campeonato, com mais de 80% de chance de ser rebaixado é uma sensação nova para mim. E acho que para você também, amigo vascaíno. Espero que você saiba que isso é resultado de 20 anos de administração do Sr. Eurico Miranda, um dos cânceres do futebol brasileiro. Eurico Miranda é como Paulo Maluf, aquele que é conhecido como rouba, mas faz. O problema, meu amigo, é que depois as conseqüências aparecem, inevitavelmente. E para infelicidade nossa, a série B só bate à nossa porta agora com o Roberto Dinamite como presidente.
É triste, ridículo, vergonhoso, ver o Sr. Eurico Miranda se comportando como o poderoso chefão mafioso dando entrevistas e dizendo que vai acabar com o Roberto. Espero que você, vascaíno, não apóie essa truculência, essa postura de quem se sente acima do bem e do mal, essa violência tão peculiar aos ditadores.
Não aceite esse discurso euriquiano. E se a gente cair para a segunda divisão, que seja de cabeça erguida, pronto para dar a volta por cima, com um clube renovado, livre do câncer e da metástase. Talvez até nos faça bem essa terapia intensiva.
Um abraço e saudações vascaínas,
I.R.
PS: Pensei em continuar torcendo pelo Vasco, mas pelo Vasco da Índia. Só que isso serviria apenas para manter a coerência, já que o Vasco de lá também está em último no campeonato .