sábado, 26 de julho de 2008

Carta para os travestis

Buenos Aires, 26 de julho de 2008.

Prezados Travestis,

Antes de mais nada, acho que devo lhes dizer que a condição de vocês não me importa. Para que não haja dúvida, não me importa se você dá ou come, e que me perdoem os olhos sensíveis que lêem esta carta.

Sabemos que a maioria de vocês vai parar no mundo da prostituição. Por que será? Ou a sociedade realmente não dá trabalho aos travestis, ou tá cheio de machão que curte uma mulher ovinho Kinder, aquele que vem com surpresa. Tá certo, me desculpem a piada sem graça, fácil e inevitável.

Na minha maior e total ignorância, não sei o que é o travestismo. São homens, são mulheres, são homens que querem ser mulheres, são homens que se vestem de mulheres, agem como mulheres, mas têm pomo-de-adão? Não sei... e, para dizer a verdade, não me importa muito saber.

Apesar de achar um pouco estranho que um homem se vista de mulher e saia por aí em cima de plataformas altíssimas e usando shortinhos e tops, eu não tenho nada a ver com isso. Cada um é feliz como pode. E se vocês, travestis, vão parar no mundo da prostituição, não sejamos hipócritas... se há oferta é porque há demanda. E ponto final.

O que me intriga não tem nada a ver com questões morais ou sociais ou de caráter psicológico. Não sou psicanalista, não sou sociólogo, nem padre, pastor, nem consumidor, gostaria de esclarecer... sem preconceito.
O que me intriga é pensar naqueles postos de gasolina de beira de estrada, aqueles especializados no público caminhoneiro. O que me intriga são as rodoviárias, as pizzarias, os McDonald's, os institutos de idiomas, as universidades, etc., especificamente os seus banheiros.

Sim, os seus banheiros me intrigam, e a única pergunta que eu faço é se vocês, travestis, vão ao banheiro masculino ou feminino desses lugares? Vocês são “mulheres” que fazem xixi em pé? Vocês são homens que vão ao banheiro em dupla para retocar a maquiagem?

O banheiro, e isso é motivo para outra carta, nos diferencia, homens e mulheres. E para vocês, travestis, o banheiro é uma síntese ou é apenas um lugar que causa mais confusão ao que já é confuso?

Sem mais, os saúda,

I.R.