quinta-feira, 19 de junho de 2008

Segunda carta para o Zé

Buenos Aires, 19 de junho de 2008.

Prezado Zé,

É a segunda vez que escrevo para você em tão pouco tempo. Desculpa incomodar, mas sei que você sabe que amigo é para essas coisas, ou não?

Viu o jogo ontem? Eu só vi parte do segundo tempo, mas confesso que há muito tempo um jogo da seleção me motivava tão pouco. Acho que foi por uma série de fatores. Você me entende, não é? Primeiro a vitória suada em cima do Canadá, depois as derrotas para a Venezuela... Não, amigo Zé, pára tudo... derrota para a Venezuela!!!!!, e para o Paraguai... apostando numa tática de defesa e contra-ataque... Pára tudo, Zé! Pára o mundo da bola que eu quero descer. O Brasil, a seleção brasileira, pentacampeã, terra de Pelé, Garrincha, Zico, Roberto Dinamite, Bebeto, Romário e até Túlio Maravilha resolveu apostar no contra-ataque... Não pode ser sério.

E veio o jogo de ontem, feio, chato, com alguns poucos lances, que alguns jornalistas aqui insistiram em dizer que a Argentina foi muito superior ao Brasil. Se foi, não vi tamanha superioridade. Não sou crítico esportivo, mas como torcedor foi o pior Brasil e Argentina dos últimos 10 anos.

Falando em Argentina, hoje ta chovendo aqui em Buenos Aires. Já vejo a sua cara lendo esta carta e pensando que eu não tenho nada para falar e resolvi escrever sobre o tempo. Não, amigo, Zé, nada disso. Não sei se você sabe, mas as calçadas daqui não são de cimento, mas cobertas com lajota, com piso, que aqui são chamadas de “baldosas”. Caminhar por estas calçadas em dias de sol pode ser toda uma aventura, elas parecem um campo minado onde temos de driblar os inúmeros cocôs de cachorro instalados caprichosamente, pronto para se instalarem debaixo de nossos calçados. E em dias de chuva, como hoje, o problema é que muitas dessas lajotas estão soltas (a famosa “baldosa floja”), e caminhar por essas calçadas é uma aventura, onde podemos pisar numa dessas lajotas e ganharmos, em troca, uma chuva de baixo para cima de água suja (como a que inundou/sujou a minha calça hoje). Você não imagina, Zé, que maravilha!

E já que falei nos dias de chuva, essa história do piso solto não é tudo. Nesse vídeo-game bizarro em que se transformam as calçadas daqui podemos incluir o pessoal que anda com seus guarda-chuvas sem se preocupar se vão cegar ou não as outras pessoas da calçada. Não sei, mas talvez os que furarem mais olhos ganharão mais pontos, algum tipo de bônus ou até mesmo uma vida extra.

É, Zé, mas contando não tem graça. O bom é viver essa experiência, pelo menos uma vez na vida. Bem, agora vou fazer o Santiago arrotar.

Um abraço,

I.R.

PS: Quando encontrar a Adrianne, manda um abraço para ela. Diz para ela que é claro que me lembro dela.