sexta-feira, 30 de março de 2012

o que sou


Foto: Fede Nemetsky

sou barco rumo ao poente,
sou sol rumo ao ocaso,
entardecer, que por acaso
antecede a noite,
o crepúsculo.
sou crédulo, mas não sou ingênuo.
não sou um gênio,
mas sei pensar.
um dia serei livre,
um dia serei o mar.

I.R.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Carta-resposta a um comentário anônimo

Buenos Aires, 29 de março de 2012

Prezado Anônimo,

Antes de responder a você, gostaria de explicar aos que não sabem do que se trata esta carta, para que, de certa forma, possam participar.

Há 3 anos tive a ideia de escrever algumas cartas que pudessem ser utilizadas por quem quisesse para diferentes situações. Escrevi duas: Para terminar um relacionamento, e Para terminar um relacionamento com fúria. E parei aí. Talvez escreva outras algum dia, mas não vem ao caso.

O caso é que a primeira é um dos links mais acessados deste blog e ontem me deixaram (você, anônimo/anônima deixou) um comentário e uma pergunta: "como eu queria terminar assim mais ele chorra muito e eu tenho pena dele o que eu faco?" Apesar de não ser um consultor sentimental, sou responsável pelo que escrevi e que não custa nada dar uma opinião sobre o assunto.

Mas Anônimo, antes de mais nada, preciso fazer uma pergunta: por que ele chora? Afinal, há muitos motivos para se chorar. Ele chora como uma forma de manipular você? Ele chora por que andou te tratando mal, te enganando, e demonstra com o choro que está arrependido? Ele chora porque é um covarde? Ou ele chora apenas porque fica triste com o fim do relacionamento?

Como eu não sei. Opto que ele chora porque fica triste com o fim do relacionamento, porque não quer terminar e pensa que esse relacionamento é TUDO em sua vida. Algumas pessoas acham que a vida acaba quando um relacionamento termina. Quanta ilusão!

Sabe, Anônimo, eu não posso dizer a você "faça isso ou faça aquilo". Mas, se você quer um conselho, pergunte ao seu coração. Pergunte se o relacionamento terminou mesmo. E se você tiver certeza de que terminou, pergunte-se por que terminou. E se não puder terminar com ele por escrito, encare-o, encare-se, chame para uma conversa e diga como você se sente, mostre o que você sente.

Ficar com alguém por pena nos torna escravos do outro, de suas vontades, de seus desejos. Ficar com alguém por pena não nos deixa crescer, não nos permite viver um relacionamento pleno, feliz, aberto e impede que o outro também seja feliz, não permite que o outro cresça como ser humano. Ficar com alguém por pena nos anula e não nos faz melhores pessoas. Você gostaria que ficassem com você por pena? Não é melhor chorar um pouco (ou muito) e depois deixar a vida seguir?

Mas como disse antes, pergunte ao seu coração, Anônimo. O que você quer? O que você sente? Tome "as rédeas" da sua vida. Não existe nada melhor do que tomar as próprias decisões, assumindo todas as suas consequências. Ficar por pena ou terminar é uma decisão sua. Você tem de ser livre para decidir.

Um abraço,

I.R.

quarta-feira, 28 de março de 2012

el camino

Foto: Valeria Wolsey

somos libres para elegir el camino.
pero los caminos fáciles no existen.
el camino es siempre interno y personal,
y aunque pisemos una playa o una calle
es en las pisadas del corazón
que nos movemos de un punto a otro.

y movernos no requiere entrenamiento,
sino voluntad.
no necesita zapatillas especiales,
pero el valor de ir.
solo y sin seguridades,
solo, sin respuestas, con muchas preguntas,
solo, pero en comunidad,
el lugar donde las soledades se unen 
haciendo un camino de comunión.

I.R.

terça-feira, 27 de março de 2012

cadeados


Foto: Juan Manuel Vecchiarelli

na vida nós trancamos segredos
e trocamos as combinações
de onde os guardamos.

mas nem só de segredos é feito o cofre do homem,
e guardamos nossas experiências,
não compartilhamos habilidades, nem aprendemos a compartilhar.
escondemos sentimentos, trancafiamos vontades,
inventamos verdades 
e quando quase nos esquecemos do conteúdo
do que está guardado no fundo escuro desse cofre de pedra,
pensamos que somos o cadeado que tranca, esconde e guarda.

na vida, nós trancamos a vida,
e para que ela não ouse sair por aí
um cadeado só nunca basta.

I.R.

segunda-feira, 26 de março de 2012

milimetricamente

Foto: Felix Kaing

milimetricamente
a mente monta frases,
omite verdades, 
mas não mente.
só que em milissegundos
a mente, em segundo plano,
já não tem planos
e não desmente 
o que a verdade já não pode omitir.
milimetricamente,
milímetro a milímetro
admiro e ponho na linha de mira
a maravilha da criação.
e as mentiras e verdades,
os planos e as omissões
se perdem como um pote de ouro
no final do arco-íris.

I.R.

sexta-feira, 23 de março de 2012

nós e os outros

não é preciso ser cristão
ou acreditar em deus para ser livre.
não é preciso ser uma pessoa de ciência
ou ser ateu para viver em liberdade.

a liberdade não nasce do que professamos,
mas de como nos comportamos frente ao que chamamos "eu".

importante não é acreditar em deus,
importante é como nos relacionamos com os outros.

os outros são coisas que usamos
[para satisfazer os nossos desejos
ou são seres humanos, pessoas,
[com quem criamos uma relação de iguais?

I.R.

quinta-feira, 22 de março de 2012

sentido de aranha

Foto: Adriano Mello

enquanto vivo, vivo histórias,
construo tramas,
reinvento inícios e finais.

enquanto vivo, revivo fábulas,
tramo construções,
reescrevo meios e invenções.

e me alegro, me entristeço,
reexisto, recomeço do começo,
e termino outro final.

teço realidades em teias de aranha
e vivo a vida que morde, sopra, arranha,
beija e pede um bis, ou um pouco mais.

I.R.

terça-feira, 20 de março de 2012

la giralda

Foto: Pablo Varela


la giralda gira en mis sueños,
y en mis recuerdos de niño
el cante resuena y renace.
mis oídos bailan en un tablao,
y mis ojos, mientras oscurece
se dicen que nada se parece
a todo lo que no puedo escuchar.

I.R.

segunda-feira, 19 de março de 2012

em um copo d'água

Foto: Felix Kaing

a realidade é tão pequena que pode caber
em um copo d'água
na mão de um ser humano qualquer.

mas a realidade, algo irreal,
é o espelho de outra realidade,
é reflexo invertido em um copo d'água
na ponta dos dedos de qualquer um de nós.

esse qualquer um que um dia pegará esse copo
de realidade invertida
e sairá por aí, montado em uma bicicleta,
equilibrando esse reflexo
sem entornar uma gota sequer.

I.R.

sexta-feira, 16 de março de 2012

a complexidade de ter

se não tenho o que deveria ter
é porque talvez não devesse ter o que realmente não tenho.
mas se não tenho, e talvez nem mesmo devesse ter,
então não deveria ter,
e o condicional nada mais é do que parte do desejo de ter
o que não tenho e não sei se deveria
ou talvez devesse.

é certo que já tive.
mas se não tenho mais, isso não significa nada.

I.R.