quarta-feira, 16 de abril de 2025

panapanã

quis caçar palavras
como quem caça borboletas,
mas borboletas não se caçam,
e o caça-palavras deveria ser
somente um jogo.
escrever não é um jugo,
viver não é um jugo,
e quem vive assim, não julgo,
mas a vida, pra mim,
é um “jugo”, um suco, em espanhol,
que deve ser saboreado lentamente.
quis caçar palavras
como quem caça borboletas,
mas borboletas não se caçam...

sua beleza é proporcional à sua liberdade.

Igor Ravasco

sexta-feira, 11 de abril de 2025

trilha sonora

é no silêncio que me ouço, 
como alguém que ouve
o que houve ou o que há, 
que relê o não reles bê-á-bá... 
é no silêncio que me escuto, 
que escrevo escritos silentes, 
salientes, 
sem lentes de aumento, 
excelentes pra não falar 
o que já estou dizendo...

sou alguém que está sendo
na senda do silêncio musical. 

Igor Ravasco 

terça-feira, 8 de abril de 2025

abrindo abril

a folha em branco,
a mente em branco,
as letras pretas
dançando diante
dos meus olhos castanhos...
não tenho tantas pretensões
mas às vezes sou pretensioso.
não falo latim nem grego,
não sei a arte da matemática,
sou um professor de língua
que dispensa a gramática
e suas normas,
e minhas normas,
pensando em suas formas...
a folha em branco,
a mente imensa...
amor, acenda um incenso, por favor.

Igor Ravasco

sexta-feira, 28 de março de 2025

por meio da linguagem

palavra, tu és...
és pura, espúria,
escura, és cura,
és espuma,
estrutura,
escultura... 
palavra, tu és fúria,
e se esfuma
como escuna
no espaço
que a vista alcança

Igor Ravasco 

quinta-feira, 20 de março de 2025

desolação

o ser humano, tão parte da natureza
quanto uma árvore, uma águia ou uma ameba
se sente separado dela
e se guia pela dualidade.
não vê que destruir a natureza
não é um crime, mas um suicídio.
que mundo deixarei a meu filho?
em que mundo queimarei
em verões sufocantes?
em que momento nos insensibilizamos
diante do sofrimento do outro,
que também somos nós?
por acaso o choro das crianças em gaza
é menos importante do que o choro
nos campos de concentração
da segunda guerra ou em todas as guerras?
o que não deixa dormir direito
é o cansaço de não me entregar ao pessimismo.
não verei um mundo melhor,
não deixarei a meu filho um mundo melhor,
só posso deixar a esperança.
essa que luto todos os dias para não perder.

Igor Ravasco

domingo, 16 de março de 2025

no bico

o que me distrai me destrói
se não for feito com consciência.
piloto automático
ou ponto morto,
o anestesiado não está absorto
em seus pensamentos.
quando rasgaremos as camisas de força
(auto)impostas pela alienação?

                    nunca existirá na farmacologia
                    um remédio contra a separatividade.

sou beija-flor levando água no bico
pra apagar uns incêndios.

Igor Ravasco

quinta-feira, 6 de março de 2025

o que é um poema?

talvez se eu disser que isto
não é um poema, você leia este texto
como receita ou prova de química.
mas se eu disser que é um poema,
“algodão,
caneta,
ovo de páscoa
e papel higiênico”,
deixam de ser palavras de uma lista
(bastante aleatória) de supermercado,
e é poesia, lida e interpretada
por “olhos-de-ler-poesia”
e que o leitor interprete o que puder,
pois a brincadeira por trás do texto
é uma senha na mão de poucos...
bicicleta, oito anos, voltas pelo labirinto,
desafio, memória, história... poema...
que não era, mas agora é.

Igor Ravasco


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

perdão

se errei te peço perdão...
não!
não funciona assim.             
mas...
porque errei,
e reconheço meu erro,
e não me vanglorio,
e sei o mal que causei,
peço perdão,
sem falsa humildade,
sem botar nos outros a culpa
ou a responsabilidade,
sem achar que, no fundo, tenho razão...
pois não tenho.

Igor Ravasco

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

estimação

não são milímetros
nem quilômetros,
não são centímetros
o que mede o sentimento.
uma relação fria, uma relação plena,
sólida, tóxica, pura... 
relações não se medem com trena.
também há ausência na presença.
ou plenitude na lonjura.
o que distancia não é a distância,
o que separa é a indiferença

Igor Ravasco

sábado, 8 de fevereiro de 2025

saudadear

saudade não é sensação,
é ação, é aperto.
saudade é deserto,
e, decerto, também oásis.
saudade não é miragem,
é imagem da realidade,
experiência concreta,
não um sentir.
então,
não sinto saudade de você,
mas te saudadeio,
e espero o dia em que fui,
ou você veio,
pra dessaudadearmos, enfim

Igor Ravasco 

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

naturezo

sou um fenômeno,
um fenômeno da natureza,
um fenômeno complexo,
um ser multicelular complexo,
não dissociado do meio ambiente.
e ao mesmo tempo que sou único,
        irrepetível,
sou parte de um todo indissociável,
sou um com o um,
        comum.
sou eco e ressonância,
conhecimento e ignorância,
sou ego, não nego...

mas me descubro rio desaguando no mar

Igor Ravasco

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

sendo-canção

quando eu morrer,

quero reencarnar em melodia,

em música e letra,

quero tocar no rádio, 

em todas as plataformas,

quero ter forma de som.


quero ser escrito e composto, 

por alguém de santo, 

de terreiro, 

que se dedique por inteiro, 

e incorpore Gilberto Gil. 

serei canção de Gil, 

de Gilberto, 

que é mais que um mestre, 

ou poeta, 

Gilberto Passos profeta, 

o primeiro orixá do Brasil 


Igor Ravasco 




quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

titã

cansei das metáforas,
mas das contradições
sou amigo há tempos,
dá trabalho ser apenas um,
no meio de tanta dualidade
que criamos.
e se o ser é e não é,
sou isto e aquilo,
polos complementares
que não se excluem.

        o que admiro e critico no outro
        fala mais de mim do que dele

Igor Ravasco

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

antena

o que vivo, o que escrevo,
o que penso, sinto, vejo, leio,
faz uma pirueta
descrevendo uma parábola.
e eu, parabólica,
que não escreve parábolas,
mas poemas,
que nada mais são
que receitas de pudim,
digo do mundo,
falo de mim,
como todos fazem...
alguns sentados na porta
outros debruçados na janela,
nas salas de espera,
à espera das palavras
que nos façam falar

Igor Ravasco

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

es-prema

o momento nem sempre precioso
do imprevisto,
é a chave de que nem tudo é preciso,
e de que por mais que eu precise
de previsibilidade,
o impreciso da vida se impõe,
sem preço, sem prece,
às vezes com pressa e imperícia,
prensado na pele
impresso em palavras em times new roman 12.
pedras no caminho, flores com espinho,
nem tudo é tão bom, nem tudo é tão ruim,
talvez nem tudo tenha um fim
e o início da vida invadindo os pulmões
é a continuidade de um mistério,
um momento precioso
acertado na mosca com precisão.

Igor Ravasco

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Maiúsculas

Eu não tenho medo das maiúsculas,
acolho as maiúsculas
com o carinho
que tive pelas minúsculas para ser,
para sobreviver.
Sou um Eu maiúsculo,
e abraço e afago o minúsculo que fui,
pois cresço, adulteço,
e me maiúsculo no momento exato
em que o sapato aperta.
Sou Igor, sou Deus, sou Consciência.
Sou Humano, Cabista, Portenho,
sou a Impaciência, sou a Fome
e a Espera, o Manso e a Fera,
botando pra fora a Raiva
que também habita em mim.

Igor Ravasco

domingo, 12 de janeiro de 2025

manualidade

a vida é o que é,
a vida é o que há,
viver é artesanal,
arte humana, manual,
sem manuais de instrução.

ser sábio não é ser instruído,
amar não é falar de amor,
e o cuidado está no que se faz,
não na intenção.

sou artesão,
com tesão na arte,
pois a vida é o que é,
pé ante pé.
a vida é o que há
de triste e de bonito,
de calmaria e de atrito...

        viver é artesanato
        que leva uma vida pra ficar pronto

Igor Ravasco

sábado, 11 de janeiro de 2025

mascarados

usamos máscaras
diante das câmeras
e dos olhos que nos encaram.
usamos máscaras diante do espelho,
pra não encaramos nossos olhos,
e damos tapinhas nas nossas costas
apenas pra fugirmos de nós mesmos...

              evitamos o autoconhecimento,
              esse caminho sem volta,

porque quando acontece
o movimento de acontecer,
o tecido que se tece
cai na conta de se ser
sujeito de si...
              seguro de sua singularidade.

Igor Ravasco

sábado, 4 de janeiro de 2025

humanidade

mais que meus pensamentos, 
minha linguagem, minha abstração,
minha capacidade de fazer arte
e meu dedão opositor,
são minhas contradições
que me fazem humano,
humano demasiado humano.
são minhas contradições
e a consciência dos meus erros
que me fazem homem... 
sem culpas que consomem, 
quando a gente se perdoa, 
e aprende o que antes perdia, 
quando não se perdeu
e pediu perdão... 
aí me descubro doce e insensível, 
carinhoso, teimoso, insubstituível, 
manso, amoroso e insuportável 

Igor Ravasco 

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

50

cinquento com o mesmo gosto
de quem um dia quarentou.
já trintei, já vintei,
destrinchei caminhos
encontrei meus passos,
e abraço minha sombra,
com a mesma importância
que me ilumino na minha luz.
cinquento com um gosto pela vida,
essa única que tenho,
que sinto, que pulso, que vivo...
esse não sei fantástico
que acontece a cada respiração

Igor Ravasco