terça-feira, 18 de agosto de 2009

Labirinto


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Quando coloquei meus pés no labirinto, minha primeira reação foi a de soberba, a de dizer que em questão de minutos estaria do outro lado. Um simples labirinto não era nada comparado à minha astúcia, à minha sagacidade, ao meu engenho.

Foi assim, armado desse espírito que dei meu primeiro passo rumo ao desconhecido.
No início, munido dessa autoconfiança, caminhei seguro, com passos firmes, sabia que o outro lado estava perto. As paredes e as passagens se sucediam, mas todos os becos tinham saída, até que me vi passando duas vezes por um mesmo lugar.

Eu sabia que era o mesmo. Aquela parede tinha uma mancha de mofo peculiar. Um mapa de mofo como a bota italiana. A bota italiana chutando uma ilha. Eu já tinha passado por ali.

Senti certo incômodo. Talvez insegurança seja a palavra. Mas a minha confiança em mim, no meu senso de direção, não me deixou aceitar o que já intuía estar acontecendo.

Como dotado de um sexto sentido, me deixei levar pela minha intuição e procurei as passagens que estavam à minha direita. Passei por uma parede vermelha, muito vermelha, com bolinhas azuis, contrastando com as demais, todas pintadas com o mesmo tom sem vida.

As paredes voltaram a se suceder. A confiança havia voltado. Meus passos eram firmes, até que aconteceu de novo.

Seguindo à minha direita, depois de virar na primeira entrada possível ali estava ela, mais uma vez. A bota de mofo na parede. Tive medo. Sentia como se o próprio Berlusconi e seu harém de prostitutas estivessem tramando para me impedir de sair dali.

Pensei em correr, mas era inútil. Para onde iria? Não andava em círculos, embora voltasse sempre ao mesmo lugar. Resolvi mudar de lado e ir pela esquerda. Talvez esse labirinto fosse uma fábula socialista.

Me enganei depois da primeira curva. Ali estava a parede vermelha. A mesma parede vermelha com bolinhas azuis, única em todo o labirinto.

Tomado pelo pânico iniciei uma corrida desesperada sem direção. Mesmo sabendo que era inútil, corri como se minha vida, minha liberdade, dependessem disso.

Só parei quando, horas mais tarde, sem saber onde estava, vi novamente aquela mancha de mofo com o formato do mapa da Itália, com um Berlusconi e seu harém pago sorrindo para mim.

I.R.