sábado, 29 de agosto de 2009

Carta para Belchior

Buenos Aires, 29 de agosto de 2009

Prezado Belchior,

Talvez você esteja acompanhando o rebuliço que causou a reportagem do Fantástico, comentando o seu desaparecimento. O resultado da matéria foi uma série de brincadeiras e também de homenagens, valorizando o seu trabalho, trazendo de volta a sua arte e tratando com humor essa sua ausência de dois anos.

Antes de mais nada, espero que você esteja bem.

Quanto ao sumiço, não nos conhecemos além de algumas das suas músicas, não me sinto capacitado para dizer ou comentar os motivos que levaram você a essa decisão. Dívidas? Falta de reconhecimento? Depressão? Não sei e provavelmente não me interesse saber.

Sei que você é de uma geração importante na música brasileira. A geração nordestina dos anos 70. Geração de trovadores. Você, Fágner, Amelinha, Ednardo, Zé e Elba Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo. Juntos e, principalmente, separados, vocês mostraram ao ‘sul maravilha’ que o nordeste era mais amplo do que a Bahia e que sua música não era apenas xote, xaxado, baião, forró e frevo, mas também urbana, de protesto, romântica, com letras instigantes, sem abandonar toda a herança da música regional.

Não sei se você se lembra, mas há alguns anos, Tom Zé estava no ostracismo. Não era conhecido pelas novas gerações e as antigas gerações também não lhe davam o reconhecimento de seu valor musical que lhe era devido.
Tom Zé estava de malas prontas para ir cuidar de um posto de gasolina no interior da Bahia, quando uma ligação de David Byrne o trouxe de volta ao cenário musical, nacional e internacional.

Não digo que isso vá acontecer com você. Afinal, vocês são pessoas diferentes, com carreiras diferentes e talvez a sua música não tenha esse perfil internacional. Mas o que importa, não? O importante é ter o próprio espaço, ser reconhecido por ele e, no seu caso, continuar produzindo.

Bem, Belchior, é isso. Se você estiver me lendo, espero que volte. A sua família, o seu público e a música brasileira estão te esperando.

Um abraço,

I.R.

PS: Acredito que as brincadeiras feitas com o seu desaparecimento se devam ao caráter jocoso do brasileiro, de brincar com tudo, com todos, inclusive em momentos que exigiriam maior seriedade. Espero que você esteja bem e se divertindo com todo esse fuzuê.

PS1: Que falta Elis Regina fez à sua carreira, não?





I.R.