Buenos Aires, 09 de abril de 2009.
Prezado pedreiro,
Se alguém entrar em contato com você para certo tipo de trabalho, por mais que a crise seja grande e o trabalho realmente esteja em falta, diga não. Aceite construir edifícios, escolas, casas, cinemas, teatros, e um longo etc. Mas não aceite construir muros.
Não sei quando foi construído o primeiro muro com o fim de segregação. Fique claro, não falo de muralhas como as da China ou a de Jericó que tinham como função defender uma população de invasões estrangeiras, mas falo dos muros que procuram “defender” os ricos dos pobres, do que procuram mostrar aos inferiores militarmente que eles não têm direito a um Estado próprio, daqueles que indicam a sua condição social, dos que são construídos com base na mentira em que é necessário defender a ecologia. Falo dos muros da vergonha, dos que separam ideologias e isolam famílias, amigos, dos que mostram que os fortes realmente pouco se importam com os fracos.
Aqui na Argentina, na grande Buenos Aires, o prefeito de San Isidro, município famoso pelos seus mauricinho e suas patricinhas (isso não significa que todos seja assim), quer construir um muro para separar o seu município do vizinho, San Fernando. O limite entre os dois município é marcado pelo contraste econômico e social. É mais fácil construir um muro do que pôr em prática um projeto de políticas públicas que aumente o emprego, que invista em educação.
No Rio de Janeiro, o governo quer cercar as favelas, em nome da proteção à mata, para que as favelas não continuem crescendo sobre a vegetação que ainda resiste. Um muro “ecológico”. Mentira. É mais fácil construir um muro e segregar os “favelados” do que executar um projeto real de urbanização das favelas, de postos de trabalho para os seus moradores.
Nos EUA, o muro foi construído na fronteira com o México, para impedir que os mexicanos (e outros pobres) “invadam” o território americano, norte-americano, estadunidense, chame como quiser. Preciso fazer algum comentário?
Em Israel, o muro é para separar os palestinos “terroristas” do verdadeiro povo de Javé. A quem importa se famílias são separadas ou se pessoas têm dificuldades para chegar a seus trabalhos ou se são tratadas como seres humanos de segunda, não é mesmo?
Bem, amigo pedreiro, é isso. Boas construções, mas nada de muro. Eles discriminam, separam e “legitimam” a desconfiança, o medo e nunca são solução, apenas mais um tempero ao problema.
Aos muros, as marretas!
Um abraço,
I.R.