sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

deslimite

Foto: Jacqueline Hoofendy

nenhum espelho é retrato fiel,
espelhos invertem o que se vê,
espelhos têm moldura e limitam,
se oxidam e delimitam
o que em teoria deveria ser ilimitado.
mas espelhos também são aprendizado,
momento de encarar-se,
de procurar onde melhorar,
de fazer catarse...
espelhos são o exercício de ver
o que não está refletido
instante de ter coragem,
de ser destemido,
e buscar no deslimite
o que há no todo de nós

I.R.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

eus

Foto: Antonio Manuel Pinto Silva

teço com vários eus a teia
que forma a minha vida,
subo e desço em cada fio,
sentindo o arrepio
do roçar da brisa no meu rosto,
tenho na boca o gosto...
aquele sabor que me avisa
que é na corda bamba
que meus eus vão se encontrar

I.R.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

na beira do mar

a gente se abraça
e se equilibra
diante do balanço do mar,
tentando um não pisar
o pé do outro,
como quem aprende a dançar.
a gente se equilibra e se abraça,
achando graça
de nossos corpos ao sabor da maré
e das ondas...
abraçados,
mas quando pisarmos no pé um do outro,
como aqueles dançarinos
que ainda não sabem,
nos olharemos nos olhos,
cheios de sal e carinho
e nos pediremos desculpas,
antes de continuar

I.R.

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Carta e Verso - 9 anos

pouca carta,
porque elas requerem tempo
e me mostrar mais.
muito verso,
no inecessário de ser explícito
onde me coloco nas entrelinhas
ou me afasto do texto escrito
neo-parnasianismo mágico,
falso tropicalismo antropofágico...
igor ravasco brincando de ser
igor ravasco...
carta e verso,
onde curto imerso
essa grande diversão de escrever

I.R.

domingo, 25 de dezembro de 2016

entre o céu e o caos

Foto: Luiz Bhering

entre o sonho e a realidade,
a razão e a sensibilidade,
entre o amor,
a crueldade e a esperança,
entre a têmpera e a temperança,
andamos na corda bamba
e nos equilibramos...
de olhos abertos para ver,
de braços abertos para abraçar

I.R.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

oceânico

sou pacífico
quando estou no atlântico...
e se não indico
banhos de água fria
como terapia,
é porque entre o ático e o ártico,
o antártico, a antártida
e a antártica
há uma coisa fantástica
que se chama livre-arbítrio

I.R.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

o desencontro dos eus

tenho versos abstratos
sem sentido
ou carregados de sentimento,
porque escrevo como quem fala
em voz alta
na frente de um espelho...
escrevo como quem sussurra
palavras de amor ao pé do ouvido
da pessoa amada,
escrevo como quem grita
contra esse mundo injusto,
justamente por saber que o grito
é minha forma de luta.
escrevo como quem se autoanalisa,
como quem pinta sua mona lisa...
mas isto não é um diário.
sou eu, onde o eu não está

I.R.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

encontro de eus

hoje quem fui
se encontra com quem sou
refletido no espelho do mar,
com areia entre os dedos...
meus segredos dispersos na rede,
minha sede de terra e de infinito

I.R.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

sonâmbulo

entre o sono e o sonho
há mais do que um agá
de diferença.
há presença ou potência
e a vontade
de dormir ou de acordar

I.R.

sábado, 17 de dezembro de 2016

tenho que

tenho que escrever,
tenho que trabalhar,
tenho que...
comer, dormir, respirar,
tenho que verbalizar...
e fazer minha mala,
que está quase na hora...

I.R.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

comunicação

encontrar a maneira de dizer,
de comunicar,
é um ato quase de rebeldia.
gritar não é necessariamente
uma denúncia,
e a renúncia a falar
pode não ser uma escolha,
mas uma forma de violência.
é necessário doçura,
é fundamental paciência...
também é preciso firmeza,
clareza,
às vezes um pouco de ironia
e altas doses de bom humor

I.R.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

babel

penso em português,
falo em espanhol,
rezo em hebraico,
com uns toques de aramaico,
a minha volta, há música em inglês,
vendedores que falam chinês...
e escuto o hino armênio com atenção...
não sou poliglota,
só estou cercado de idiomas
por todos os lados

I.R.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

sobrevoo

ideias e ideais sobrevoam
um dos hemisférios do meu cérebro...
mas nada celebro,
enquanto em palavras ou em atos
nenhum deles aterrissar

I.R.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

backstage

Foto: Natal Marques

às vezes a remo,
de vez em quando a motor,
de barco não chegarei a roma,
nem navegarei no mar do amor...
tudo isso é cafonice
ou recurso de verso barato...
talvez eu devesse fazer um trato
com a inspiração ou com a musa
fazer um esforço...
pra não ludibriar o leitor.
no siempre se navega en aguas cristalinas...
a veces es necesario remar en dulce de leche

I.R.

domingo, 11 de dezembro de 2016

solo un fragmento

hablaría de lo mismo
todos los días,
me repetiría,
sería redundante...
yo, que soy mitad profesor,
y cien por ciento estudiante,
reaprendo lo que, tal vez,
nunca lo supe,
o simplemente no lo veía,
como la luna durante el día
semi oculta en el cielo azul

I.R.

sábado, 10 de dezembro de 2016

contate

Foto: Tatiana Aste

no vai e vem dos sentidos,
entra em jogo os sentimentos,
falam alto as sensações...
e ainda que eu saiba
ser fundamental escutar
ou importante ver,
por mais que no paladar
também sinta prazer,
o fato é
que não ponho o foco no olfato,
mas reúno meus cinco sentidos
no ato de tatear
I.R. 

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

biopoema

Foto e Mandala: Laura Taveira

se é verdade que a vida por si só
não tem sentido,
então ao que falta por viver
e ao já vivido
cabe a cada um dar direção...
talvez, motivo.
e os textos escritos,
independente da quantidade de cadernos,
serão sofridos e também ternos,
e as capas não nos dirão tudo...
não sou um livro aberto nem terminado
e a mandala, com suas curvas e linhas retas,
mostram que não existe a palavra certa
para me definir...
para nos etiquetar.
folhas, flores, raios de sol,
um polvo imaginário
sou eu desenhando meu itinerário
reunindo em coletânea
todas essas folhas dispersas

I.R.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

salva-vidas

Foto: Angela Melim

minha alma não precisa de salvação...
mas meus pensamentos
necessitam ser libertos
da escravidão da ignorância,
da prisão das imagens projetadas...
quero ter minha mente como um mar
e os grãos de areia colados na pele
quando volto pra casa.
não conheço a salvação da vida,
talvez o salva-vidas seja uma metáfora
do que é preciso erguer ou destruir,
do que é necessário ressignificar
quero sentir na palma das mãos
toda essa espuma,
sem pressa alguma...
esperando, quem sabe,
que a chuva caia...
não com uma falsa ideia de pureza,
mas para que, encharcado de natureza,
eu me pesque ou eu me perca

I.R.

domingo, 4 de dezembro de 2016

do amor e de outras ideias

Foto: Igor Ravasco

tenho ideias doces,
nem sempre originais,
umas suaves como coices,
outras legalmente marginais.
ideias que iluminam
e que ajudam a reler
que a vida é arte do encontro
ou que é impossível
ser feliz sozinho...
tenho ideias, sinto ideias
que alumbram meu caminho...
preciso dar amor...
de amigo, de irmão,
de filho, de pai,
amor de amante numa relação,
preciso dar amor de ser humano...
amor sem engano,
sem medida...
sem pieguice
desses que curam qualquer ferida,
que não nos deixa cair na mesmice
tenho ideias doces,
que não são ideias minhas...
mas não preciso de originalidade,
quando, na verdade,
só quero aprender a amar mais

I.R.

sábado, 3 de dezembro de 2016

declaração

declaro para os devidos fins,
que pretendo até o fim
tocar a vida com bom humor...
apesar de algum momento ranzinza...
com a certeza de que o cinza
também é uma das cores do arco-íris
declaro neste preciso momento,
precioso e pleno de sentimento
que todo dia é dia de viver,
plenamente e em abundância,
com a constância de abrir os olhos
e pensar por conta própria.
todos temos digitais, que não são iguais,
não se repetem em nenhum humano...
declaro que já sei qual é meu plano:
meu plano é viver,
sem deixar a peteca cair.

I.R.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

como em oz

um céu de ouro
estampa o dia
num fim de tarde
na terra da prata...
e eu, nem feito de bronze,
mas armado de lata,
redescubro o coração
numa estrada de tijolos amarelos

I.R.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

no tom

Foto: Jose Pedroso

afirmo,
como forma de afirmação...
afino,
como estrela em ascensão...
rasgo o solo
e planto no meu colo,
cordas e riffs,
modas e moldes,
formas
e fome de glória...
mas não sou um astro de rock
nem um personagem da história
e estou mais para clown
do que para menestrel...
não conhecerei o céu...
sou o bobo de uma corte sem rei,
sou o xerife e o fora da lei
atravessando o deserto
sem sair do tom

I.R.