na alegria e na tristeza,
na saúde e na doença.
sozinho, acompanhado,
à toa ou atarefado,
na riqueza e na pobreza,
na abundância de dúvidas,
a única certeza:
não importa o que tenho
nem se vou nem se venho
só sinto que viver é bom
I.R.
terça-feira, 30 de agosto de 2016
segunda-feira, 29 de agosto de 2016
transitória
Foto: Luiz Bhering
transito a arte
como um pedestre,
não como condutor.
arte efêmera,
imaginária, inconsciente
nem sempre coletivo...
transito o transitório,
pequeno envoltório
que me desarticula,
arte que gesticula
e salta das paredes...
transito a parte,
o ouro de tolo,
o todo não é para mim
I.R.
domingo, 28 de agosto de 2016
eletro
Foto: Sergio Ceribino
na linha, o desalinho,
transporte de energia,
pilha gasta,
220 ligado em 110,
sem transformador...
na linha, as linhas,
diversidade de caminhos,
abastecimento,
energético, alimento...
e meus postes,
que não resistem
às fracas tempestades,
parecem de concreto armado,
mas, na verdade, são de papel.
I.R.
sábado, 27 de agosto de 2016
felinamente
tenho poemas em preto e branco
e versos em tons de cinza...
já quis ser diferente,
mas sou um descrente,
que dá murro em ponta de faca.
insisto, repito,
descubro, encubro...
repito, encubro...
tapo com pedrinhas
antes de voltar a miar.
I.R.
quinta-feira, 25 de agosto de 2016
árvores de inverno
Foto: Igor Ravasco
gosto de árvores de inverno,
árvores desfolhadas,
como uma fênix vegetal,
metáfora do renascimento...
gosto de árvores de inverno,
que não dão sombra,
que não dão frutos,
árvores que parecem veias
irrigando o céu...
gosto de árvores de inverno
e daquela última folha,
que, como um simbolo de resistência,
ou de resiliência,
teima em não cair.
I.R.
quarta-feira, 24 de agosto de 2016
apenas palavras
palavras soltas ao vento,
porque toda palavra dita está solta,
mas nem sempre é livre...
palavras que voam,
que navegam,
com ou sem destino...
palavras de menino
e de homem feito...
palavras de um imperfeito
em busca de porto,
de aeroporto...
palavras de guarulhos,
de silêncios e barulhos,
palavras de cumbica e de galeão,
palvras que buscam um cais,
um desembarque feliz,
uma pista...
onde fazer um pouso alegre.
I.R.
porque toda palavra dita está solta,
mas nem sempre é livre...
palavras que voam,
que navegam,
com ou sem destino...
palavras de menino
e de homem feito...
palavras de um imperfeito
em busca de porto,
de aeroporto...
palavras de guarulhos,
de silêncios e barulhos,
palavras de cumbica e de galeão,
palvras que buscam um cais,
um desembarque feliz,
uma pista...
onde fazer um pouso alegre.
I.R.
terça-feira, 23 de agosto de 2016
astros celestes
Foto: Rene Leal
ora lentos, ora agitados,
vão além de um estado de espírito,
independem de um estado de humor.
são um estágio de amor à arte,
é a liberdade que nasce da vontade,
que parte de um mistério nada secreto,
acessível a todos, descoberto por poucos...
dançar é se comunicar com o universo
num movimento cósmico,
como um abalo sísmico,
sístole e diástole sideral...
e o corpo, brilhando como estrela,
indica o norte,
como um sinal de boa sorte,
um pulsar que não tem final.
I.R.
segunda-feira, 22 de agosto de 2016
das correntes
Foto: Luiz Bhering
elas vêm como ondas,
como massa encefálica,
emaranhado intestinal...
corredeira terminando
em cachoeira,
prendendo minha atenção,
nublando meu juízo,
minha percepção,
me amarrando ao que penso
ou ao que não digiro,
enquanto dirijo em zigue-zague,
procurando uma falha num elo,
no meio do relevo,
o que não revelo...
quero ser a outra corrente,
quero fluir sem obstáculos,
estender meus tentáculos
em direção ao desconhecido.
I.R.
quinta-feira, 18 de agosto de 2016
olimpismo
Foto: Bruno Kaiuca
enquanto a grécia é no rio
e o espírito olímpico paira
sobre as águas podres da guanabara,
meninas continuam sequestradas na nigéria,
seres humanos, escravizados,
continuam produzindo roupa
e colhendo cacau...
pessoas continuam morrendo
na guerra síria
e nas águas manchadas de sangue
às margens da europa...
enquanto a grécia é no rio,
a democracia brasileira cambaleia,
e naufraga num mar de golpe
e de corrupção...
enquanto a grécia é no rio,
na esquina dos jogos olímpicos,
nosso pão e circo de quinze dias,
um ser humano ganha o pão de todos os dias
numa enorme lata de lixo,
às margens das águas podres da guanabara...
enquanto não desgrudamos da televisão.
I.R.
terça-feira, 16 de agosto de 2016
no espírito
Foto: Kariane Pontes
se o que importa é a medalha,
se o que vale é a vitória,
não a o esforço e a batalha,
se só torço por vencedores,
por vendedores de falsas conquistas,
se aceito a trapaça,
na água, no tatame ou na pista,
eu não entendi o espírito da coisa...
sou medalha de ouro
no espírito de porco,
exorcizaram o espírito olímpico
deste meu corpo que não lhe pertence.
I.R.
sábado, 13 de agosto de 2016
questão de equilíbrio
Foto: Amora Mel - Beatriz Lima
meu equilíbrio está em minhas mãos,
mais do que em meus planos...
enquanto acumulo acertos,
desenganos,
apertos e folgas,
me equilibro...
como ponteiro que não marca as horas
e não vê os segundos que passam...
não sei dos primeiros que vencem,
pois ganhar não me interessa,
não tenho pressa,
mas olhos pra frente,
com minha vontade presente
e meu corpo malabarista,
ensinando minha mente vigarista
aos poucos a se equilibrar
I.R.
quinta-feira, 11 de agosto de 2016
em clave instrumental
Foto: Duwane Coates
tons alegres, notas tristes,
carrego em mim a dança
que não se traduz em passos,
mas é um espaço de mim comigo...
sou feito de sons
e carrego na pele
minha partitura vazia,
onde escrevo uma canção...
levo meus trastes
no braço, na perna,
música clássica e moderna,
tatuada na pele,
marcada a fogo no meu coração
I.R.
quarta-feira, 10 de agosto de 2016
de cabeça
Foto: Jane Cassol
minha cabeça, não meus olhos,
são minha janela para o mundo,
meu pensamento raso,
meu idealismo profundo
são fruto de como olho pra fora
enquanto vejo para dentro.
viver é me relacionar
com esse dentro/fora,
que não se refere à posição,
a ficar ou ir embora,
mas das grades que ponho,
das claraboias que abro,
dos basculantes que fecho...
minha cabeça olha o mundo,
nem sempre com um olhar
desprovido de preconceito...
quero tirar esse colar elizabetano,
procuro um plano,
para escancarar as janelas
e ver as estrelas como algo real,
não mais um reality na televisão.
I.R.
segunda-feira, 8 de agosto de 2016
da gravidade
Foto: Marcelo Horta
a lei da gravidade não depende da fé,
ela é,
e nos prende ao chão por onde andamos...
somos anteu, nutridos da força da terra,
não importa se ateus, crentes ou agnósticos,
simples ou exóticos,
a gravidade não erra, existe pra todos.
e se desafiá-la é um exercício,
que, independente do sacrifício,
gostamos de exercitar,
é porque é preciso transgredir
é necessário transmitir
que o sonho é livre
e que o mundo ao revés
às vezes é o antídoto
para os reveses do mundo.
I.R.
quinta-feira, 4 de agosto de 2016
autoindiscrições
Foto: Igor Ravasco
olho para minha janela
e vejo as minhas grades,
como o cisco no meu olho...
estou preso,
enquanto os pombos, livres
voam e sujam meu parapeito...
mas não invejo os pombos,
no fundo do peito
não quero toda a liberdade...
falamos de ser livres
com o celular da moda na mão,
tuitando em 144 caracteres,
publicando fotos no instagram.
aspiramos à liberdade
preocupados com a roupa,
talvez de grife,
com o alimento,
talvez de marca,
assistindo o futebol pela televisão...
o preço pela plena liberdade
é um salto no escuro,
uma solidão...
é um mergulho na incerteza,
que, com certeza,
eu já sei que não quero dar.
I.R.
quarta-feira, 3 de agosto de 2016
pena e lágrima
Foto: Antonio Manuel Pinto Silva
com pena de si mesma,
a lágrima solitária repousa,
cansada da viagem
rumo a ser sal sobre a ferida.
a lágrima que lambe o dissabor
é só... e oceano,
é pena, desengano...
e a tristeza de não rir...
minha pena, minha lágrima,
são semente, são semântica,
são a face romântica do que escrevo,
sem chegar a ser parte de mim
I.R.
segunda-feira, 1 de agosto de 2016
no final do arco
Foto: Luis Saraceni
me resisto a frases bombásticas,
lançadas como flechas erráticas,
insisto em não me comprometer,
em não me meter no texto até a medula...
escrevo a partir do cético,
do estético e do racional.
e se não me envolvo
ou não me comprometo,
é porque pouco prometo
e a vivência do sentimento
não é tão sentimental...
talvez exista um pote de ouro
ou o beijo de um outro
no final do arco-íris...
quem sabe?
julgar não me cabe...
talvez, no final do arco-íris,
se esconda um poema de amor.
I.R.
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