nem tudo está dito,
quase nada está escrito
e o percorrido até agora
sempre será só uma parte...
não há descarte,
pois tudo se transforma
e se nada me conforma,
é por não querer me conformar
I.R.
domingo, 31 de julho de 2016
quarta-feira, 27 de julho de 2016
la mirada
Foto: Silvia Ferreira
la mirada genera una mirada
que produce otra mirada,
de donde nace una mirada más...
ni juego de espejos
ni muñeca rusa...
lo opuesto a una mente obtusa,
la libertad de pensamiento
(y de acción...)
reinterpretación.
búsqueda de resignificado
que hace que el hacer
no sea mera copia,
sino una escritura propia
sin azar y sin destino.
I.R.
segunda-feira, 25 de julho de 2016
bocado
Foto: Antonio Manuel Pinto Silva
caminho pela boca
à procura de cáries e coroas
por entre dentes pontudos
prontos pra me devorar...
caminho na ponta dos pés
por uma língua afiada,
antes que a boca se feche
e que as reminiscências despareçam...
caminho por la boca,
bombonera, quinquela,
castelo de grayskull,
um caminito de experiências,
antes que o siso cresça,
ou tenha que fazer um canal
I.R.
domingo, 24 de julho de 2016
atrás da porta
Foto: Davy Alexandrisky
por trás de uma porta
há outra porta
e outra pergunta
que não comporta
uma resposta...
uso a chave,
dobro a aposta,
e não respondo,
repergunto...
sinto que última
também é só aparência.
mas não se trata de metafísica,
nem de ciência,
se trata de perguntar
o que há por trás da porta
e usar as chaves ou os aríetes
para descobrir
I.R.
quarta-feira, 20 de julho de 2016
fluxo
Foto: Igor Ravasco
inspiro,
expiro,
escrevo,
transpiro,
dedico...
relembro
novembro,
conjugo,
partilho
trilho, trem, vagão...
substantivo, verbo,
adjetivo, emoção...
nada.
nado,
nem sempre sincronizado,
nem sempre na raia...
golfinho que faz pirueta,
arraia que fere com seu ferrão
I.R.
segunda-feira, 18 de julho de 2016
entre o hipocampo e o hipotálamo
Foto: Marcos Lôbo
e preconceitos,
sentimentos de superioridade
guardados no peito,
racismo,
machismo,
a crença de que é natural
o que na verdade é cultural
ou imposto...
preciso tirar dos ombros
minha desumanidade,
preciso esvaziar meus armários,
liberar meus cabides...
todo dia, o dia todo.
pois sempre acho uma peça puída,
desbotada, sem graça,
comida pelas traças,
que ainda teimo em usar
I.R.
quinta-feira, 14 de julho de 2016
sequencial
Foto: Wivson Machado
o que pula não é o que chega,
o que começou a escrever,
não é o que termina,
sou um quebra-cabeças de eus,
que nem sempre se tocam,
mas se acoplam...
eus sucessivos
que vão deixando de existir
para dar lugar a um novo,
um novo que aos poucos
muda a forma do anterior,
e todo o tempo se transforma,
se reinventa,
reinterpreta a sequência
seja num salto,
seja na escrita...
nunca vou de 'a' a 'b',
o que chega a 'b'
não é o que partiu de 'a'.
nunca vou de 'a' a 'b'...
quem sabe como chegarei a 'z'?
I.R.
quarta-feira, 13 de julho de 2016
instruções para tocar
Foto: Jacqueline Hoofendy
o que não significa tocar com o coração.
abra a boca e toque em voz alta,
sinta como cada palavra flui,
o ar saindo do corpo,
as palavras ganhando massa sonora...
repita lentamente:
palavras repetidas,
palavras repetidas,
sinta...
bem devagar...
pa-la-vras...
deixe o s,
sibilante ou chiado,
se estender...
saboreie a repetição,
molhe os lábios com a língua
antes de seguir,
mas não me siga...
se aproprie dessas palavras repetidas,
e descubra por que as repete,
cada um tem o seu porquê.
muita atenção, pois de vez em quando,
alguma frase deve ser tocada num estirão,
com maior velocidade,
dando a intensidade que o momento merece...
mas não se exceda,
volte ao ritmo...
pausadamente...
leia devagar,
esvazie sua mente...
pausa...
respire...
respeite-se
e desrespeite a partitura...
(silêncio)
e desrespeite a partitura...
(silêncio)
repita o exercício.
não vejo necessário um final...
I.R.
terça-feira, 12 de julho de 2016
pés no chão
Foto: Ricardo Eiras
pois desconheço os motivos
nem conheço as razões...
quando as emoções confundem
ou se fundem com a dúvida
num momento de existencialismo
semiexagerado,
realismo mágico longe da fantasia...
quando o quanto não tem resposta
nem todo dia,
preciso de uma nova perspectiva,
arrastar os móveis
e sentir a mente viva...
de ponta cabeça talvez não seja melhor,
mas já é diferente
I.R.
domingo, 10 de julho de 2016
pontar
Foto: Breno Teixeira
entre o ir e o vir
existe o devir,
resiste o viver...
experiência cotidiana,
autoanalítica,
de se repensar
e de pintar o sete
I.R.
(para entender "pintar o sete":
http://www.aulete.com.br/sete)
sexta-feira, 8 de julho de 2016
salino
Foto: Mario Howat
nem o espírito
que sopra onde quer...
sou limitado
e autolimitante,
sou militante da liberdade,
mas com alguma sinceridade
vou descobrindo meus limites...
não sou vento,
estou mais para cata-vento,
se apropriando do seu sopro
e transformando em energia...
sinto o raiar do dia,
mas não sou o sol,
sou o sal que se forma no chão,
sou a emoção
de me saber daqui.
I.R.
quinta-feira, 7 de julho de 2016
reflexões subterrâneas
Foto: Didão Barros
Andar de metrô pela manhã, em direção ao centro, não é apenas um exercício de paciência ou quase a chance de provar que dois corpos podem chegar a caber em um mesmo lugar ao mesmo tempo. Andar de metrô pela manhã e ir para o centro da cidade é a possibilidade que temos de perceber como somos capazes de estar tão próximos e tão distantes de todos. Checamos o celular, travando uma luta para manter a conexão à internet, lemos um livro e fazemos malabarismos para ler o jornal (próprio ou o do vizinho). Não temos espaço para olhar para o chão, então nos fixamos em algum ponto do teto ou do ombro dos que compartilham esse container com rodas. Vamos sérios, ouvindo música ou escutando a conversa de quem não viaja sozinho, mas não nos olhamos nos olhos. Evitamos todo e qualquer contato visual, mesmo que os rostos quase se toquem. Andar de metrô pela manhã, indo para o centro, é a reafirmação de que estamos sós, apesar de nossas companhias. Tudo isso, enquanto tomamos cuidado com os tarados e com os ladrões.
I.R.
quarta-feira, 6 de julho de 2016
de sombras e sonhos
Foto: Antonio Manuel Pinto Silva
as sombras passam pela praça,
elas caminham com graça
e de mãos dadas,
carregando recordações.
as sombras passeiam,
velando o sono alheio,
alheias ao sonho
instalado em bancos de madeira...
bancos que não se movem
como os do metrô,
o tempo passou,
mas sei que não é meio-dia
I.R.
segunda-feira, 4 de julho de 2016
o passado
a interpretação do passado que vivemos
é uma construção em retrospectiva,
que analisa com uma atual perspectiva
aquilo que já se viveu...
não existe passado objetivo,
o filtro da subjetividade
espalha o vivido em verdades,
migalhas de um todo...
o passado é um quebra-cabeças
que se arma hoje,
o passado é agora
I.R.
sábado, 2 de julho de 2016
oficina
Foto: Luiz Bhering
não sou sempre paciente
nem mesmo cordial,
também sou irritado,
irracional...
e às vezes me invade o mau-humor.
sinto a pressão
no motor à explosão,
combustão interna
que me desgoverna,
me desorienta...
por isso,
pra recuperar o viço,
preciso do escapamento,
cano de descarga,
válvula de escape
pra aliviar a sobrecarga
que me tira do eixo
I.R.
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