quinta-feira, 7 de julho de 2016

reflexões subterrâneas

Foto: Didão Barros

Andar de metrô pela manhã, em direção ao centro, não é apenas um exercício de paciência ou quase a chance de provar que dois corpos podem chegar a caber em um mesmo lugar ao mesmo tempo. Andar de metrô pela manhã e ir para o centro da cidade é a possibilidade que temos de perceber como somos capazes de estar tão próximos e tão distantes de todos. Checamos o celular, travando uma luta para manter a conexão à internet, lemos um livro e fazemos malabarismos para ler o jornal (próprio ou o do vizinho). Não temos espaço para olhar para o chão, então nos fixamos em algum ponto do teto ou do ombro dos que compartilham esse container com rodas. Vamos sérios, ouvindo música ou escutando a conversa de quem não viaja sozinho, mas não nos olhamos nos olhos. Evitamos todo e qualquer contato visual, mesmo que os rostos quase se toquem. Andar de metrô pela manhã, indo para o centro, é a reafirmação de que estamos sós, apesar de nossas companhias. Tudo isso, enquanto tomamos cuidado com os tarados e com os ladrões.

I.R.