quarta-feira, 30 de setembro de 2015

del oficio

Foto: Patricia Blasón
 
lo que te pueda decir en español,
solo te podré decir en español,
porque las traducciones ayudan,
acercan,
pero algo siempre cambian,
aunque sea un bemol
o una milésima de segundo...
y aunque no me entiendas,
no te lo podré decir de otra manera.
o que eu disser em português,
só poderei dizer em português,
porque as traduções ajudam,
aproximam,
nem que seja um bemol
ou um milésimo de segundo...
e mesmo que você não me entenda,
não poderei dizer de outra maneira
y lo que no te pueda decir,
quedará solo conmigo,
en el idioma que sea...
o entre nosotros.

quem sabe?

I.R.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

apesar das janelas

Foto: Jacqueline Hoofendy
 
até onde a vista alcança
aquilo que não se compra,
nem a prazo nem à vista,
sem data de vencimento,
sem prazo de validade...
e quando a vista já não chega
nos restam as palavras
e o pensamento
nem à vista nem a prazo
sem prazo de vaidade,
com sede de conhecimento.
e onde a vista já não chega
e as palavras já não bastam,
sem prazo, sem ordem, sem data,
sem contas nem prestação,
existe a imaginação,
que resiste,
que insiste nessa brincadeira
de seguir seguindo.

I.R.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

lua de erê

Foto: Manuela Cavadas

ver a lua vermelha,
amarela, cinza ou azul,
é olhar apenas para a porta
que dá para o quintal,
esse quintal enorme
onde não vemos o muro,
não imaginamos a cerca,
mas podemos divisar a horta,
distinguir o pomar...
eclipse de um dia doce,
num universo sem fim,
como um brinquedo de erê.
salve cosme, salve damião,
salve lua,
salve jorge e seu dragão.

I.R.

domingo, 27 de setembro de 2015

na beira do mar

Foto: André Rocha
 
a humanidade somos um,
mas esse um que é cada indivíduo,
este que sou,
no meio da multidão
ou na beira do mar,
está só,
caminha só,
e e só ao aceitar essa solidão
que se pode ser um com os demais.
ninguém está a meu serviço
ou feito sob medida para mim.
talvez eu me deixe enganar
pelas espumas como neve
ou pelo dourado do mar...
talvez eu não consiga ver
que as pegadas na areia
são sempre individuais.

I.R.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

nada

nada a dizer,
nada a declarar,
nada para compartilhar.
crise poética.

I.R.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

freudiano

 Foto: José Eduardo F. Boaventura

sou tímido...
ou em todo caso,
levemente acanhado,
e por isso falo demais.
falo para cobrir o meu eu,
uso o ego para mascarar o ego
e cubro minha boca, para mostrar
o que falo, o que expresso ou desejo.
escrevo por meio de alguma entrelinha,
desenho estrelinhas e/ou mapas do tesouro,
não sou um artista, estou longe disso, eu já sei,
mas me divirto com o que faço ou com o que sou.

I.R.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

da unidade

 Foto: Junior AmoJr

somos um,
não podemos ser mais do que um,
mas só somos um se formos dois,
se formos três, quatro,
se formos muitos.
e seremos luz que transpassa,
sombra e reflexo,
seremos simples
por sermos complexos,
seremos como deus
ao sermos humanidade.

I.R.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

balão mágico

Foto: Ingrid Merenfeld


nos jornais
e nos noticiários,
na via pública,
nos cruzamentos
e semáforos,
no trabalho,
nas fronteiras da guerra
e nas portas das igrejas,
nada é colorido
nem elevado...

mas ainda nos cabe a utopia
e o sonho transformado em ação.

I.R.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

o tempo e o centro

 Foto: Jacqueline Hoofendy

não quero parar o tempo...
trabalho hercúleo
e também impossível.
quero habitá-lo,
senti-lo e me sentir,
viver o instante,
a cada instante
e de repente,
sob um céu craquelado,
ser um com o todo.

I.R.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

um poema não termina com o título

nenhum poema dos que escrevo
está terminado...

todos podem ser mudados,
sempre há uma palavra
para entrar
ou pra sair,
uma vírgula para mudar de lugar,
uma letra
que modifica um sentido,
um sentido que pode ser escondido,
um sentimento que pode ser descoberto,
um redescobrimento,
uma releitura.
nenhum poema dos que escrevo
é um poema.
sou um poeta que só escreve rascunhos.

I.R.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

hora certa

Foto: Jefferson Ferreira

no meio do escuro,
onde tudo é incerteza,
e tudo é incerto,
tudo é dúvida
nunca há hora exata.
nunca há hora certa.
porque a hora é agora,
o momento é hoje.
o futuro é desconhecido,
o passado, sem volta.
não há hora certa ou exata,
pois o exato, a certeza,
é o presente em que estamos,
sempre reescrevendo,
sempre reinterpretando,
sempre aprendendo a viver.

I.R.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

sete de setembro

Foto: Bob Menezes

não acredito nos nacionalismos
ou nas delimitações de fronteira,
não creio na pátria
nem nos seus ritos.
mas acredito no ser humano
e que a verdadeira fronteira
se dá no limite
entre uma pessoa e outra.
acredito nas pipas
que elevamos ao céu
como forma de nos elevarmos,
experiência quase mística,
equilibrada na ponta da rabiola.

I.R.

domingo, 6 de setembro de 2015

peixaria

Foto: Pepe Fiorentino

se cada um vendesse seu peixe,
seu próprio peixe,
em paz...
sem se meter
com o peixe dos outros,
talvez vivêssemos
em um mundo mais tolerante.

I.R.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

na tragédia

as tragédias humanas,
não as da natureza
aquelas
que poderiam ser evitadas,
aquelas
que não deveriam acontecer
é que me fazem crer
que o deus dos contos de fada
não está morto...
ele nunca existiu.

I.R.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

à procura

Foto: Danilo Caymmi

nos fincamos em plataformas
à procura de uma riqueza
que não sabemos
que não está escondida.
decolamos em voos
à procura de um infinito
que não percebemos
que não está distante de nós.
nem no profundo
nem nas alturas.
porque habitamos a riqueza
e vivemos no infinito
isso que não está dentro nem fora.
isso que não está,
mas o que somos...
o que é.

I.R.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

ver poesia

Foto: Jacqueline Hoofendy

num mundo onde a guerra
e a fome
criadas por seres humanos
matam outros seres humanos
e isso não nos escandaliza...
num mundo
onde nos cobrimos
com o véu da ignorância
e da alienação
e já não sabemos
se elevamos nossos galhos
ou aprofundamos nossas raízes
e preferimos nos manter suspensos
ou em suspense
em vez de entrarmos em ação...
nesse mundo,
se eu quiser... eu vejo poesia,
pois só a arte equilibra,
nos devolve a humanidade,
traz de volta quem somos
e que insistimos em destruir.

I.R.