a galope

nem garanhão nem pangaré,

nem alazão, mustang, árabe

ou mangalarga marchador

nem pônei,

puro sangue ou pégaso,

sou sem sela,

sou sem crina,

sou do mar,

hipocampo,

filho de poseidon,

sofrendo a ausência

de sua própria cria.

I.R.

pipa

depende do idioma

depende do lugar

depende de para quê.

pipa pra soltar...

pipa pra descansar...

pipa pra fumar...

pipa pra tocar...

I.R.

meu sapo

na minha montanha

o sapo sobe num banco,

o sapo sapeca

brinca,

ri

chama a atenção.

um sapo

de sangue franco.

na minha montanha,

meu sapo à distância,

enquadrado,

e eu com os olhos úmidos,

enquanto ele sobe,

meu sapo alegre,

seu banco,

minha montanha,

queria ser bruxo

para tê-lo pular.

I.R.

Sentimentos

Adoro o teu sorriso quando o vejo

E quando você lê as minhas frases

E somos como a lua em quatro fases

Brilhando num espaço de desejo

Eu adoro a lembrança do teu beijo

Que é o final das falácias e das bases

Das minhas estruturas eficazes

E te revivo em sonho e nos revejo

E te quero, eu menino e o peito aberto

Te quero aqui comigo, aqui bem perto

Te quero e te querer é minha sina

Que me enfeitiça como a mesma lua

Enquanto conversamos nessa rua

Sentindo nossa estrela nessa esquina

I.R.

deus negro

espécie de entidade,

preto velho de ainda cabelo preto,

barba branca,

orixá do candombe,

ogã do jazz

suas mãos tem o poder,

seus dedos tem o toque,

o toque do agogô mágico

e o poder de amar o tambor.

'tocá, che, negro rada',

babalorixá do som.

I.R.

manifesto

funk, jazz, soul, eletro, afro, latino... na veia!

I.R.

Rubi, esmeralda, safira?

Depende do site.

Mas isso não importa. Importa que meus pais estão fazendo 40 anos de casados. Deixo o link de uma carta que escrevi para eles. Basta atualizá-la em alguns detalhes.

O dia é 18. O aniversário é de 40, não de 38. O neto já conheceram, e o que espero é que possam conviver mais com ele.

http://cartaeverso.blogspot.com/2008/02/carta-para-papai-e-mame.html


I.R.

Presente de grego

Nem sempre queremos ou gostamos do presente que querem nos dar. Temos o direito de não gostarmos, não querermos e, inclusive, de não aceitarmos um presente. Nem todo presente é sinal de amizade, boa vizinhança ou qualquer outro sentimento positivo.

Vejam só o meu caso. Me colocam contra as cordas, no quadrilátero, na esquina, e o soco vem embrulhado em uma luva. Vejo o golpe vir. Não se trata só de senti-lo, mas de vê-lo realmente. Observar como ele vai ganhando força à medida que se aproxima.

Qualquer um poderia pensar que ele vem direcionado à cara, mas não. Seu trajeto é visivelmente para abaixo da linha da cintura. Não importa que os juízes lancem uma advertência, ameacem de desclassificação. O golpe vem e é meu presente. Abaixo da linha da cintura, mas não no pau, não no saco. Apenas abaixo da linha da cintura.

Mas me esquivo, e sinta apenas o vento, o ar que se movimenta. E rejeito o presente. Não o aceito. Prefiro que volte para quem queria me presentear. Esse é o destino dos presentes não aceitos. Não se trata de devolver alguma coisa. Trata-se de não aceitar certos cavalos.

I.R.

16 e 17

16... 17...

de 16 para 17...

um toninho,

um juninho...

no nosso bar,

a conversa que flui,

a fumaça que sobe,

o sorvo, o gole de cerveja

as duas latas finais...

e o carro de apolo no bairro do apolo

abençoando,

iluminando...

um mês,

o sabor do sol, do sal e da saudade.

um mês,

e o gosto de saber que falta menos.

I.R.

fantasia

sou índio sem taba,

nativo sem oca,

folha de coca para mascar.

adoro batida,

e se for de coco

não quero sua água, pois pode hidratar.

sou carnavalizado,

carne-seca assada

ao sol do trabalho,

voltando pra casa

de carona num carro alegórico.

e se curto o trio,

e se vou atrás do trio elétrico

porque não morri,

não me imitem,

pois não sou tijolo oco

pra preencher espaços vazios

nem sou cabeça oca

pra completar a cuca de ninguém.

sou só um índio sem coca,

nativo sem coco

querendo sambar.

I.R.

efemérides

passo um domingo de carnaval

longe da folia,

um dia de são valentim

à distância.

me resta o abraço a buenos aires,

rainha do prata,

em nossos 12 anos de convivência,

de conivência diária.

I.R.

Trâmites e burocracias

Para conseguir este documento, primeiro vá ao guichê 828 e peça o formulário 103S. Vá a uma das mesas para preenchê-lo e só depois se apresente ao guichê 9264. Aí colocarão um carimbo que só terá valor depois que você pagar a taxa correspondente e apresentar o documento, já carimbado, no guichê 92745 que não fica neste edifício. Fica a cinco quarteirões daqui. Desça até o térreo e saia, não pela porta principal, mas pela terceira porta lateral contando da direita para a esquerda. Ela vai dar num corredor que dá numa rua paralela à que você tem que ir. Recomendo que faça os cinco quarteirões a pé, mas apesar de paralelas, cuidado, pois a rua onde você vai sair não tem saída e você vai ter que passar para a rua do edifício do guichê 92745 antes. No segundo edifício, vá ao 2° andar, entre na fila e peça uma senha para o guichê 92745. É provável que eles tenham algum horário disponível em uma ou duas semanas para validar o carimbo.

Para sair com essa menina, saiba, você vai ter que esperar, pelo menos, seis meses. É que, até ela aceitar sair com você, vocês vão ter que conversar horas a fio como se fossem bons amigos como se ela não soubesse que você está louco para transar com ela. Seis meses depois ela vai aceitar sair, desde que você pague a conta e seja apenas para conversar. Talvez depois de uns dois meses, muitos e-mails ou conversas no Messenger ela deixe você pegar em sua mão. Aí um beijo tímido, mas sexo só depois de um relacionamento mais firme. Antes você vai ter que conhecer a família dela, o pai e os três irmãos mais velhos, além da futura sogra. Sexo? Talvez depois de um ano que a história tiver começado. E vá decorando, nada de sexo oral, luz acesa ou um tapa na bunda. Papai-mamãe, convencional e se possível em menos de cinco minutos.

Complicado? Rebuscado? Burocrático?

Tô fora!

Terceiro bilhete para um sambista

Buenos Aires, 12 de fevereiro de 2010

Prezado,

o carnaval de São Paulo realmente não é novo, mas entre a tradição de suas escolas e o padrão Globo de carnaval, acho que o segundo está vencendo com longa margem de diferença.

No entanto, hoje à noite vou dar uma olhada no desfile até dormir na frente da televisão.

E para que você não se esqueça de que São Paulo não é exatamente o túmulo do samba:

Um abraço,

I.R.

no rabo da estrela

no rabo da estrela eu vim,

montado e galopando os pampas celestes.

no rabo da estrela,

na cauda do cometa,

me fiz cadete,

estrela cadente,

decadente pela descida.

no rabo da estrela de belém

vi o menino na estrebaria,

senti a doçura de maria,

remédio do corpo e da alma,

deusa-mãe, estrela da manhã.

no rabo da estrela da doçura,

senti na boca

o gosto da jujuba,

de praia a praia,

cavalgando uma estrela do mar.

I.R.

Vigésimo-oitavo bilhete para um world músico

Buenos Aires, 10 de fevereiro de 2010

Prezado,

muitas vezes querem nos vender a ideia de que se não somos brancos, cristãos e com dinheiro não teremos futuro neste mundo, não seremos felizes. Ideia essa vendida em altas doses de mensagens subliminares ou nem tanto. E o pior é que muita gente compra esse preconceito.

É necessário vermos o outro sorriso da moeda.

Por um mundo mais pacífico, um abraço,

I.R.

Libertango

"E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará." (João 8:32)

Qual verdade? A da Bíblia, a do Gita, dos Vedas, ou do Corão, a do Tripitaka, talvez a do Talmude ou a do Livro de Mórmon? A sua verdade? Qual é o ângulo da sua verdade?

Preto ou branco. Sim ou não. Verdadeiro ou mentiroso. Um mundo onde as pessoas são uma coisa ou outra, sem nuances, matizes, sem um semi-tom, uma paleta de cores. Todos compartimentados num supermercado simples. Bons de um lado. Maus do outro. Cuidado com os maus infiltrados, lobos em pele de cordeiro. Lata amassada com botulismo no meio das latas boas.

Sejamos sinceros. Uma vida assim? Passo. Ninguém é cem por cento bom ou ruim. Somos plurais, muitos em um, computadores que tocam música, reproduzem DVDs, conectam-se à internet, mandam e-mails, trabalham, veem pornografia, jogam paciência, fazem downloads ilegais.

Conhecereis a liberdade e a liberdade se fará tango.

Com dança:

Sem dança:

I.R.

Alguns assuntos, inevitavelmente, sempre voltam a este blog.

fluindo

deixo as palavras fluírem

e não penso no que escrevo.

a cada dia basta o seu cuidado.

e sei que as palavras certas aparecerão

no momento equivocado, no momento certo,

enfim, aparecerão.

sinto. quero. sou.

saudade. saudades.

ser o vilão é parte da história,

é necessário que alguém faça o trabalho sujo

e seja apontado na rua.

culpado. culpado.

queimem-no.

sentir a paixão nas veias também faz parte,

é bom que a vida siga,

te adoro.

saudade, saudades.

culpado.

me queimem em praça pública

façam um quadro de mim na casa da poesia.

I.R.

tico tico

se o tico tico quer comer o meu fubá

que me dê milho pr'eu moer,

e se continuar com fome

e quiser fubá, bolo, broa,

angu e polenta

que vá comer minhoca,

pois o fubá tá caro

e nenhum poeta aguenta.

I.R.

Como cantaria Carmen Miranda... Tico tico.

I.R.

Cheia de Juventude

sua juventude não está apenas no seu nome

e menos na idade que você tem.

sua juventude está no frescor da sua alma

no seu sorriso de mulher

que sabe o que quer,

que se arrisca,

que enfrenta,

que se apaixona,

que vive,

que se entrega.

sua juventude não está apenas no seu nome

e menos na idade que você está fazendo,

sua juventude está no seu toque,

na sua entrega,

na sua vontade de ser

e deixar se fazer feliz.

I.R.

podolatria

uma joaninha passeia pelo teu pé,

caminha por um ramo verde

e traz boa sorte.

teu pés com dedos de mandona,

adornados,

enfeitados pela joaninha,

e por um anel,

atraem meus olhos

e a sorte toca em mim

no momento em que roçamos

nossos pés,

nossas pernas,

nossas coxas,

temperados com canela

e a pimenta que te arde qual chocalho.

I.R.

odo iyá

não sei se sou teu filho de cabeça,

se sou um filho-peixe,

mas sei que sou de teu reino.

cresci em teus domínios

e neles me sinto, me sei em casa.

neles sou eu.

grande, anjos, forno, prainha,

prainhas, farol, brava, pontal,

teu mundo me abraça,

tuas ondas me lavam,

do nascer ao pôr do sol

me deixo, me quero envolver por tuas águas.

I.R.

Homenagens para todos os gostos:

I.R.