quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Presente de grego

Nem sempre queremos ou gostamos do presente que querem nos dar. Temos o direito de não gostarmos, não querermos e, inclusive, de não aceitarmos um presente. Nem todo presente é sinal de amizade, boa vizinhança ou qualquer outro sentimento positivo.

Vejam só o meu caso. Me colocam contra as cordas, no quadrilátero, na esquina, e o soco vem embrulhado em uma luva. Vejo o golpe vir. Não se trata só de senti-lo, mas de vê-lo realmente. Observar como ele vai ganhando força à medida que se aproxima.

Qualquer um poderia pensar que ele vem direcionado à cara, mas não. Seu trajeto é visivelmente para abaixo da linha da cintura. Não importa que os juízes lancem uma advertência, ameacem de desclassificação. O golpe vem e é meu presente. Abaixo da linha da cintura, mas não no pau, não no saco. Apenas abaixo da linha da cintura.

Mas me esquivo, e sinta apenas o vento, o ar que se movimenta. E rejeito o presente. Não o aceito. Prefiro que volte para quem queria me presentear. Esse é o destino dos presentes não aceitos. Não se trata de devolver alguma coisa. Trata-se de não aceitar certos cavalos.

I.R.