quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

anjo da rama

o anjo abre as suas asas de seda
sob a lua minguante
e a neblina da noite.

tenta, mas não pode voar.

há manchas de óleo
em seu corpo,
há piche nas suas asas,
está num porto sem saída.

atracadores, rebocadores, navios,

sua auréola enferrujada sobre sua cabeça
é posta em seu pescoço
suas asas de seda,
sob a neblina da noite,
desistem de tentar.

seu corpo é amarrado
no topo de uma plataforma
também coberta de ferrugem,

e o dedo de um imediatista
se estica para que o anjo,
entre barcos, canoas, restos de tartarugas,
navios e plataformas
desapareça no que um dia foi um mar.

I.R.