quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

perpendicular

Foto: Lu Duarte

o texto é uma diagonal,
não uma reta,
pois reto é o horizonte
em seu desejo de permanência,
ou reta é a vertical
no seu sonho de transcendência.

mas o texto,
esse não quer permanecer
nem transcender,
quer questionar.

o texto, esculpido no paralelepípedo,
tosco, frio, impreciso,
quer apenas ganhar a beleza do detalhe,
a fuga da linha diagonal,
quer perverter a simetria,
adquirir a textura da poesia,
aquela obliquidade transversal.

I.R.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

interação

Foto: Ricardo Apparicio

eu me inclino,
mas não me curvo,
lá onde o rio faz a curva,
depois de nadar contra a corrente.

não sou um deus
nem sou seu servo...
espero as asas de um corvo
para subir a montanha,

a vontade de chegar é tamanha,
é a força que me move para a frente.
já não me ajoelho.
só aceito interagir em pé de igualdade.

I.R.

domingo, 13 de janeiro de 2013

vinte e nove

não há fórmula ou receita
nem caminho certo,
esquerda ou direita,
que possamos formular.
só é possível
dizer o já dito,
se podemos dizer o mesmo
com palavras diferentes,
porque o amor de hoje
é diferente do amor de ontem,
e o que fui e já não sou,
se transformou nesse novo eu
que festeja a cada mês
o cantar para você.

I.R.



sábado, 12 de janeiro de 2013

carriço e ouriço quântico

Foto: Igor Ravasco

desprezando a física e a biologia,
mas atacando o físico de quem escuta,
o ouriço atiça seus espinhos
e os lança
direto ao ouvido e ao coração do homem.
o som que plana,
nos aplana,
como um rolo compressor.
e o maestro,
regente sem batuta,
artista da estética,
incansável na labuta,
rege riffs e solos,
canta, encanta,
transmuta,
espeta,
se faz malabarista,
entre a tela e a corda,
e nos recorda que o universo é música.

I.R.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

mar de vidro

Foto: Didier Lavialle

somos como peixes
num oceano imaginário
que teimamos de chamar realidade.
mas se chamamos de realidade,
e é o único mar que conhecemos,
até que ponto é teimosia
nadar à procura de alimento,
ou em busca de proteção?
somos como peixes num oceano...
ou num aquário,
onde temos de ter cuidado
com o que falamos,
ou como falamos,
pois nossas paredes são de vidro,
e o nosso telhado também.

I.R.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

poema fotográfico

Foto: Igor Ravasco

o fotógrafo pode escrever
versos com imagens,
ou então descrever,
denunciar.

o fotógrafo, com um clique,
pode captar,
transformar a realidade.

mas não é verdade,
que uma imagem vale mais
do que mil palavras.
palavras e imagens não são adversárias,
nem podem ser medidas, comparadas.

o fotógrafo pode escrever
versos com imagens.
o poeta pode registrar imagens
com palavras.

e ambos fazem da realidade
matéria pré-estelar,
que não pode ser comprada,
apenas anunciada ao mundo,
brilhante como o sol,
como um pôr-do-sol,
numa segunda-feira qualquer.

I.R.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

onde estou?

Foto: Georgie Jerzyna Pauwels

sou um desses postes de cabeça verde,
e não digo verde por causa da cor,
mas pela falta de maturidade.

sou um desses postes,
desses de cabeça verde,
mas qual deles sou eu?

se alguém disse o primeiro,
não sabe de mim,
que se posso,
apareço pouco.
não sou o primeiro,
não tenho tais pretensões.

a partir do segundo,
adivinhe quem for capaz...

mas antes se lembre
de que somos todos iguais,
e que posso ser um daqueles
que a neblina já escondeu.

I.R.

domingo, 6 de janeiro de 2013

janela e cerca

Foto: Denise Autran

a janela cerca nos cerca de nós
e tem dupla função.
por um lado impede
que os outros se aproximem,
por outro,
não permite que nos abramos a ninguém.
a janela cerca nos cerca de nós
e não é nem cerca nem proteção,
mas isolamento,
segurança aparente,
em um mundo de luz e de sombras.
a janela cerca não abre,
não vê o mundo
nem se deixa ver,
e pelas frestas
ou por entre as ripas
não pode ver as pipas
fazendo malabarismos no céu.

I.R.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

como uma estátua

Foto: Luis Saraceni

nem toda liberdade é livre.
nem toda liberdade é liberdade.
criamos cercas,
adotamos ídolos,
entregamos nossa vontade
e nosso poder de decisão,
fazemos afirmações que não são próprias,
e nos cremos senhores,
quando somos escravos.
nem toda liberdade é livre.
nem toda liberdade é liberdade.
mas todo ser livre,
qualquer liberto,
sabe que entre o errado e o certo
o limite é bem mais do que uma cerca.

I.R.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

38


nem mais sábio
nem mais experiente,
pois a sabedoria e a experiência
não são ciência certa
daqueles que envelhecem.
vou ficando mais longe do dia inicial,
aquele que aparece no documento,
e não sinto (nem tento)
esse tempo passar.
e se procuro aprender,
e se busco vivenciar,
e se quero saber e experimentar,
é porque trago em mim
o bichinho da curiosidade
e a vontade de me superar...

enquanto seguia o devaneio
me puxaram o 38...

apaguei as velas
e fui correndo para a praia.

I.R.