quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

amarelinha

Foto: Ronaldo Nacarati

talvez a gente não perceba
que chegar ao céu
não é importante...
talvez seja hora apenas
de saber brincar,
talvez nos levemos a sério demais
e nos atribuamos importâncias
e pedestais sem sentido...
talvez nos preocupemos demais
com o céu,
esquecendo que o importante
é o caminho, o pé no chão,
é aprender a pular
sem perder o equilíbrio,
é saber avançar
sem deixar a pedrinha cair.

I.R.

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

memórias

Foto: Jacqueline Hoofendy

leio notícias velhas,
porque o tempo não passa rápido
nem passa devagar,
o tempo apenas passa,
e me aproprio dele
em cada presente que vivo.
e em cada experiência,
em cada café que não tomo,
em cada verso que não escrevo
ou em cada cigarro que não fumei
um segundo transcorre,
as coisas que não escolhi
ou as que escolhi não viver
também são parte de mim.

I.R.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

no parque

Foto: Jorge Alberto Soares

nem tanto ao mar
nem tanto à terra,
nem oito
nem oitenta,
caminho do meio.
e se é bom aprender
a pular as poças,
é necessário saber
que às vezes
vamos nos sujar.
equilíbrio,
jogo de cintura,
impulso.
é preciso saber balançar.

I.R.

domingo, 27 de dezembro de 2015

Carta e Verso - 8 anos


este texto autorreferente
não é diferente de outros
que escrevi,
este rascunho
é um testemunho,
um diário
da vida em movimento.
com doses de realidade,
com toques de ficção,
onde mostro uma fração
do que estou sendo,
do que penso
e do que engano
no correr desses anos,
num armar e desarmar planos...
o jogo continua,
até quando não sei,
até quando quiser...
enquanto escrever for bom,
vou adiando a bola oito.

I.R.

sábado, 26 de dezembro de 2015

o que fingimos não ver


a falta de amor,
mais do que o ódio,
explicam o que é hoje
o trabalho servil.
o amor ao dinheiro,
a ganância,
a adoração ao lucro,
explicam, mas não justificam,
nos dias de hoje,
a escravidão.
isso não se chama carma,
mas falta de dignidade humana,
e não é da vontade de nenhum deus,
mas é nossa conivência,
que preferimos olhar para o lado,
que tapamos o sol com a peneira
e enchemos a boca
pra falar de 'amor'.

I.R.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Outro mito natalino

Era uma vez Papai Noel, nascido em algum lugar do Polo Norte, não se sabe exatamente se na Finlândia ou na Noruega, exemplo vivo de um milagre. Nasceu velho, como Benjamin Button, mas não ficou jovem à medida que o tempo passava. Jamais foi criança. Diz a lenda que quando nasceu se alimentou de leite de renas, o que lhe deu superpoderes.

Não se sabe exatamente quando nasceu, mas os seres humanos viram nele uma espécie de santo, de messias, de deus e começaram a lhe fazer pedidos por carta, sentados em seu colo e, mais recentemente, pelo whatsapp para serem realizados entre 24 e 25 de dezembro, dia em que se comemora sua existência.

Há quem peça por saúde, pela paz mundial e como seu dia está perto do último dia do ano, há quem aproveite e peça por uno novo ano melhor. Há quem peça bicicletas, bonecas, bolas e videogames. Os poderes do velho Noel são quase infinitos, mas arraigadamente capitalistas. Noel é uma espécie de deus do consumo, maquiado com uma coisa chamada espírito natalino, que vende uma fraternidade e um amor que, muitas vezes, dura até a necessidade do primeiro envelope de antiácido.

Há quem fale de um tal Jesus também, mas acho que a ideia de um cara que ganha presentes, em vez de dar presentes não vai funcionar muito bem. E só mesmo um ser divino para aguentar o calor tropical vestido de roupa de frio e coturno sem derreter.

Ho Ho Ho,

I.R.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

costura

Foto: Lassina Badolo

entre as coisas que falo
e os textos que escrevo,
estão as coisas que sinto
aberta ou veladamente...
está tudo o que vivo.

colcha de retalhos,
de um ser cheio de falhas,
que sabe que costurar
não é exatamente o seu forte

I.R.

domingo, 20 de dezembro de 2015

dos sentimentos

às vezes uso palavras
pra dizer que não tenho palavras,
mas não posso usar o sentimento
para dizer que não sinto,
pois tudo é sensação
ou sentimento
e ao que sentimos
não se necessitam palavras,
apenas sentidos.

I.R.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

ao encontro

Foto: Ana Galano

uma pedra ao lado da outra
forma um mosaico,
constrói um calçadão.
enquanto o mar de areia da praia
é feito de grão a grão.
gota a gota nasce um oceano,
sob o céu que é,
sem precisar de um plano,
nem de um pano de fundo...
amar não deveria ser profundo,
é necessidade básica,
a base de onde podemos construir.

I.R.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

leitor

Foto: Miguel Côrte-Real Matias

quero ler os cometas,
declamar as estrelas
e interpretar os planetas.
desejo recitar os mistérios da natureza,
decorar os mapas e os planisférios,
desconstruir os mitos,
entender o infinito...
entender? infinito?
preciso aprender o beabá
e o alvoroço
de minhas próprias entranhas.

I.R.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

monumento

a humildade,
ao passo que a humanidade caminha,
deveria ser preocupação de todos.
enquanto passamos,
à medida que passeamos,
deveríamos nos reconhecer humanos
e abraçar essa não divindade que somos
em nome de cada um e para todos.
não se trata de passividade,
mas de luta.
muito menos de agressividade,
mas de respeito e justiça...
para todos, não só para mim.
também estarei disposto
a descer de meu próprio pedestal?

I.R.

domingo, 13 de dezembro de 2015

acontecer

Foto: Jacqueline Hoofendy

dedilho nossa verdade
como quem toca
uma melodia
nas cordas de aço...
componho um espaço,
meio dueto e meio solo
nessa sinfonia...
sou aranha de jardim
tecendo sobre teia usada,
sou aranha ausente,
tecendo num jardim
de um éden inventado,
pois não há paraíso possível,
só a música...
dedilhada nas cordas de aço,
nascida como um longo abraço,
café da manhã do amanhã de nós dois.

I.R.

sábado, 12 de dezembro de 2015

ele e eu



há um pouco de mim nele
e um muito dele em mim,
mas nem sou ele,
nem ele sou eu,
assim como já não sou eu
e nem ele é ele...
momentos congelados
de um passado diferente,
genética e vida,
presente reatualizado,
atualidade de um futuro
que só ganha sentido
e significado
ao se tornar (ou ao se saber)
presente.

I.R.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

paraquedas

Foto: Laura Mancini

talvez tudo seja risco
e o que chamamos
de traço fino do artista
não passe de rabisco
feito por mãos que pouco tremem.
talvez tudo seja risco
e os que temem
sair da zona de conforto
para viver o traço torto,
não percebam que reto
não é sinônimo de certo
e o incorreto
pode ser o paraquedas aberto
em nossa descida.
talvez tudo seja arisco
e o desejo de não seguir à risca
nenhum roteiro
entre uma piscada e outra.

I.R.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

resistência

Foto: André Lucas Almeida

a violência chega em forma de pé,
calçado, lustrado,
armado e investido de autoridade.
violência que ultraja o sonho,
e vandaliza a realidade.
violência paga,
autoridade de sicários,
que, sem argumentos,
mas de armas na mão,
lançam bombas de efeito moral,
reflexo imoral
do governo ou do poder
que representam.
a violência pisa, machuca,
conivente com quem a autoriza
e com aqueles que se calam...
porque muitos de nossos pés,
impolutos,
estão em cima desse pulso,
que insiste, valente,
estuda,
toma porrada,
e resiste...

I.R.

sábado, 5 de dezembro de 2015

mar

Foto: Antonio Carlos Silva

vou ao mar
como quem vai
à fonte da juventude.
me lanço ao mar
como quem
não confia no destino
e se vê um menino
que só quer ir pescar.
me dirijo ao mar,
como quem abraça a vida.
amar,
verbo transitivo,
por onde transitam meus sonhos,
minhas utopias...
amor,
e a paz que se aproxima
querendo pousar.

I.R.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

caleidoscópio

Foto: Hudson Modesto

ver a realidade por um tubo,
no fundo de um triângulo de espelhos,
num jogo de reflexos,
mas sem aceitar
que as miçangas coloridas
que vemos ou que nos dão
são a verdade.
mudamos de ideia,
trocamos de discurso
erigimos e destronamos
nossos deuses
com a velocidade do raio de zeus,
e um leve girar de pulso...
sentimos a pulsação
em seu máximo por minuto,
vida na veia,
a realidade caleidoscópica
pode durar uma fração de segundo.

I.R.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

jogo de linhas

Foto: Antonio Manuel Pinto Silva

há quem caminhe na vertical,
há quem prefira a horizontal,
mas nem todos os caminhos
levam a roma.
há quem não siga um padrão,
quem ande na diagonal
em ziguezague,
há quem divague,
e mesmo tentando a contramão,
nem todos os caminhos
chegam ao amor.

I.R.