segunda-feira, 30 de novembro de 2015

bifurcação

Foto: Eduardo Lisker

chega um momento
em que os caminhos se dividem,
e as simbioses se desfazem...
um filho que cresce,
um amor que termina,
uma ideia que germina,
uma separação...
a chegada da morte,
uma mudança de norte...
bem me quer
e me mal me quer.
um mundo paralelo
de possibilidade infinitas
entre as coisas que são
o que ainda não é
e aquilo que não foi.

I.R.

sábado, 28 de novembro de 2015

na ponta dos dedos

Foto: Danilo Caymmi

os degraus não são iguais
nem têm a mesma cor
e não importa o material,
ou seu formato,
mas o seu conjunto,
formando uma escada.
há uma vida,
uma existência velada,
há uma comunidade,
um mundo
a se redescobrir...
há metáfora,
quase deixando de ser,
nessa escada,
que nem sobe nem desce,
mas inerte,
espera ser um caminho...
talvez de transformação.

I.R.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

abrindo os ouvidos

Foto: Ronaldo Nacarati

o surdo marca o passo
como um marcapasso,
corrigindo o coração,
e eu caminho o calçadão
um caminho sonoro,
som primitivo
convocando à resistência,
repensando a consciência...
surdo que abre os ouvidos,
e que nos arrepia,
comunicação tribal,
além de qualquer música.

I.R.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

questão de ótica ou ética

Foto: Rafael Rezende

se as pessoas se detestam
e  a vingança é moeda corrente,
se o ódio pelo diferente
é o tom da conversa
e a ordem inversa
põe a indiferença como valor,
não me desculpem,
prefiro ir na contramão.

I.R.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

falta

Foto: James Patrick Suplicy Conway

o que nos trava,
ou o que nos impede,
aquela dificuldade
que ninguém pede...
a barreira
não está onde pensamos,
mas no lugar em que queremos.
posta na frente,
disposta atrás,
saindo do meu campo de visão,
batendo em retirada...
enquanto pego na veia,
com o peito do pé.
um chute forte,
rumo a um norte
que não sei qual é...
uma bomba,
que não sei
se vai se transformar
em gol.

I.R.

domingo, 22 de novembro de 2015

escancarar

Foto: Jacqueline Hoofendy


tem dias que não quero conversa
e abomino bate-papo...
dias amargos,
tardes cinza,
modelo antissocial.
mas tem dia,
ah, tem dia...
que escancaro a janela
como quem abre o melhor
ou o maior sorriso,
como quem perdeu o juízo,
e a partir de agora é o próprio sol
de meio-dia.
e falo, gesticulo,
abro os braços,
envolvo o mundo em meus abraços
e ultrapasso a linha da mediocridade,
aquela que quer apontar o que é loucura
aquela que querem impor como sanidade.

I.R.


quinta-feira, 19 de novembro de 2015

como peter pan

 Foto: Apolo Salomão Sales

independente de quanta poesia,
apesar de tanta filosofia,
apesar dos pesares
ou de tanta erudição,
às vezes não passamos de crianças
em nossas emoções
num sem fim de interações
divinas e humanas,
em nossos dramas...
de vez em quando somos crianças
presos a uma falsa segurança,
enganados pela ilusão
de não querer crescer.

I.R.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

uma pitada de fé

Foto: Lily da Silva Prado
 
tenho uma fé diferente,
que desanima,
mas é persistente,
tenho uma fé utópica.
de que não olharemos
por cima ou através dos muros,
que só separam,
sem nos deixar seguros...
tenho fé em derrubá-los.
muros escorrendo pelos ralos
de um mundo novo,
sem divisões, sem divisórias,
uma nova história,
uma humanidade una com a natureza
e, nas diferenças, unida entre si.

I.R.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

desânimo

pouco e nada inspira
enquanto o mundo
lentamente expira.
talvez a arte se retroalimente...
não sei.
tem dias que a humanidade me desanima,
mas não considero deus
uma resposta satisfatória.

I.R.

domingo, 15 de novembro de 2015

não se trata só...

não se trata só da frança,
nem só do líbano,
não se trata só de mariana,
de israel ou da palestina
do iraque ou da nigéria,
se trata da miséria...
da ganância,
das armas, do tráfico,
do pequeno fanático
que todos carregamos
dentro de nós.
se trata do coração do homem,
e do dever de casa,
que cada um poderia fazer.

I.R.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

derivaciones de un rostro

Foto: Duda Firmo

no somos uno,
sino miles,
porque somos múltiples,
polifacéticos,
contradictorios.
somos poéticos,
románticos o patéticos,
lectores medios y mediocres.
y en nuestros rostros
traemos las marcas
de nuestras derivaciones.
sonreímos y lloramos
como variaciones
sobre un mismo tema,
porque sabemos
que el verdadero anatema
es creerse una unidad.

I.R.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

guerra e paz

se não atiro a primeira pedra,
não é por ser puro
ou livre de pecado.
se procuro não revidar,
isso não significa que
aprendi a dar a outra face.
não sou santo
nem penso que sou napoleão.
mas cinquenta por cento de paz,
sempre é mais tranquilo
que cem por cento de guerra.

I.R.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

a um passo

 Foto: Rachel Louback

dar um passo
rumo ao desconhecido
é embarcar na descoberta
do conhecimento...
um passo difícil,
incômodo,
que nos faz confrontar
nossas verdes verdades
pré-estabelecidas,
nossa suposta maturidade,
imatura,
nosso não saber
de que nada sabemos.
corpo e mente em movimento
dando um passo à incerteza,
onde não existe uma área de conforto.

I.R.

domingo, 8 de novembro de 2015

qual bolha

Foto: Luis Saraceni


escrevo
uma história que se acopla
a outra história,
experiência gregária,
formação da memória...
vida volátil
que voa ao sabor do vento
ou talvez das marés
imprevisível como bolha de sabão.
vou nesse voo sem escala,
colorido, caloroso,
que cala no fundo do peito,
vou, mesmo sem jeito,
me solto no mundo,,
vou brincando... vou brincar...
até a bolha explodir.

I.R.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

connivencia

si me callo,
lo acepto...
si no grito
o no digo,
si no pregunto
y no hago valer mi voz,
lo acepto.
y si lo acepto,
aunque mucho me moleste,
soy cómplice de toda esta farsa.

I.R.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

bolshoi

Foto: Jacqueline Hoofendy

no exercício do olhar
damos sentido ao passado,
interpretamos o futuro,
e reconhecemos fragmentos da realidade
nos roteiros que escrevemos...
por isso na ponta do pé da bailarina,
as piruetas já não têm calos nem dor,
mas emanam calor,
música, movimento, emoção...
e rodopiam no coração da bailarina,
como uma  folha que se estiliza e que se afina,
num emaranhado de ramificações.

I.R.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

contraposição

Foto: Binno Frann
 
gostaria de poder ver
as coisas com tranquilidade
e essa paz que hoje não sinto.
não ponho o acento na tristeza,
mas não vejo a beleza do natural,
nem a lagoa azul,
nem o céu de brigadeiro,
apenas a simplicidade perdida,
o incômodo primeiro,
aquela estranha espinha de peixe
atravessada na garganta,
que se multiplica por mil.

I.R.

domingo, 1 de novembro de 2015

no cimo do silêncio

Foto: Jacqueline Hoofendy
 
aquilo que se esconde,
como um segredo
ou um bem precioso,
talvez não esteja escondido.
talvez seja um botão de rosa,
regado na água que corre
antes de desabrochar.
talvez seja uma pedra,
pronta pra ser levantada,
a ponto de ser lançada,
movendo a água em círculos
que se espalharão
como um despertar da consciência...
ou talvez seja um soco,
desses que assustam um pouco
quando vem à boca do estômago,
nos tirando a respiração
e nos fazendo acordar.

I.R.