segunda-feira, 29 de junho de 2015

construtivismo

Foto: Claudia Cavalcanti

eu,
empilhado
como
engradado,
classificado,
refrigerado,
item
por
item.

nesse interim,
intervalo,
só a voz interior que sou
me segue
e me persegue
com ideias que ecoam...
vozes, luzes verdes...
siga.

prossiga,
consiga,
diga:
vá de escada,
evite o elevador

I.R.

domingo, 28 de junho de 2015

de ovos

Foto: Caíque Fellows

meço as palavras,
mas já não os versos,
cuido o que digo
e o que escrevo
para não ofender suscetibilidades,
filtro minhas verdades
em textos carregados de entrelinhas.
falo de estrelinhas
e de amor,
quando gostaria de mandar à merda.
piso em ovos.
sempre piso em ovos.
talvez seja hora de fazer alguns omeletes.

I.R.

sábado, 27 de junho de 2015

o surreal homem espelho

Foto: Sandra Santos

não temos um pensamento único,
refletimos milhares de ideias
que em geral não são nossas.
repetimos mantras,
recriamos frases,
e nos dividimos em fases.
é bom saber
que se quebrarmos alguns espelhos
não teremos sete anos de azar.

I.R.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

janelas

Foto: Daniel Pereira

dentro do cada um que somos
há cores, padrões e cortinas
há quem curta meninos,
há quem goste de meninas,
há filhos de santo
e filhos da puta
que às vezes se dizem cristãos.
há ateus, kardecistas e judeus,
budistas e devotos de sai baba,
e há baba-de-moça
pra quem não curte brigadeiro.
dentro do que somos, furta-cor,
e a utopia de que a tolerância
o respeito pela janela do vizinho
será o fim de um mundo mesquinho,
a porta aberta de uma mente inquieta,
um cheque em branco por um mundo melhor.

I.R.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

da maçã

Foto: Sandra Leandro

ela se despe das pérolas
como quem se despede dos pudores,
e nós, atores numa vida sem roteiro,
que vivemos primeiro
e escrevemos depois
às vezes usamos tinta invisível,
para fazer do impossível
uma válvula de escape.
só assim falo
dos amores passados que não tive,
das paixões atuais que eu inventei,
dos meus amores declarados,
e minhas paixões proibidas...
os meus suores secretos.
nem a musa às vezes se sabe musa,
algumas músicas não são para todos os ouvidos.

I.R.

domingo, 21 de junho de 2015

a distância do amor

Foto: Igor Ravasco

A pergunta já tinha aparecido em um livro que seu avô, meu pai, lhe dera. Mas nesse dia saiu de sua boca com endereço certo, meus ouvidos. "Papai, você me ama?" A resposta foi imediata, "Amo, meu filho, claro que amo." Mas aquela não era a última pergunta... "Papai, quanto você me ama?" Resposta tão imediata quanto a primeira: "Muito." Mas ele queria medir, queria algo mais concreto que um "Muito" e me perguntou... "Papai você me ama até onde?" Aí a resposta não foi imediata. Parei, pensei, e disse que não podia dar essa resposta que isso não se media assim. Mas ele insistiu, talvez esperando que dissesse daqui à Lua, como no livro que o avô lhe deu, ou daqui a Saturno. E aí a resposta foi clara. Eu me aproximei dele e lhe disse, "Meu filho, nem até a Lua, muito menos daqui até Saturno." E botando a mão no meu peito, no lado do coração, disse, "Meu amor vai do meu coração até o seu", tocando o dele. E sorrimos, por saber que a distância sempre será essa.

I.R.

sábado, 20 de junho de 2015

o ódio

é o que não engrena,
é o que enferruja
e gangrena...
é o que nos enfeia,
nos insensibiliza.
é acharmos normal,
comum ou banal,
o sofrimento,
o lamento de quem sofre,
é o que nos carcome
e nos faz tão podres
que já não somos dignos
da palavra 'humanidade'.

I.R.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

incompletude

Foto: Lucas Lobato/Modelo: Louise Abílio

ninguém é cem por cento demônio,
no entanto, anjo também não.
somos seres de asa quebrada,
enfrentados,
incompletos...
somos complexos,
refletidos,
espelhados,
multiplicados por dois
para parecermos um.

I.R.

terça-feira, 16 de junho de 2015

do meio

Foto: Camila Neves

entre o mar e o cimento
há uma faixa de terra
onde me sento
e a espuma beija meus pés.
entre o cimento e o mar
há uma faixa de areia
há um encanto de sereia
que não tenta me enganar.
(o sol me faz um cafuné.)
não creio no concreto,
não tenho fé no anzol,
entre o mar e a selva de pedra
também posso me esconder
como um tatuí.

I.R.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

diversificando

Foto: Janete Cohen

me copio sem nenhum pudor,
faço plágio de meus versos,
reescrevo poemas...
ou talvez apenas mude a letra,
mantendo uma estrutura
que longe de ser pura
ou purista,
não tem nada de artista,
mas de amante.
me copio, me plagio,
não como um círculo,
mas como uma espiral errante,
versos e reversos
que por amor de vez em quando
teimam em aparecer.

I.R.

domingo, 14 de junho de 2015

oz

Foto: Antonio Manuel Pinto Silva

quando tudo aquilo que finjo
cai por terra
como máscara quebrada
personagem
que se recorda pessoa,
todos os meu sentidos
em estado de alerta
me dizem que minha sina,
meu fado,
é ir passo a passo
ou lado a lado,
por uma estrada
que não sei aonde vai dar.

I.R.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

diluindo-se

Foto: Jacqueline Hoofendy

os rigores superficiais,
embora ondulados,
são apenas simples metáforas
a nos aliviar de qualquer dor...
e a plasticidade que nos envolve,
paliativo à dor que nos é inevitável,
nos transforma em mosaico,
nos devolve o poético e o prosaico,
em movimentos imprevisíveis
sobre o espelho das águas.

I.R. e Walter Firmo

quarta-feira, 10 de junho de 2015

consciência

Foto: Janete Cohen - sobre obra de Yayoi Kusama

sou faíscas conectadas,
um todo em partes,
a arte de se desdobrar,
de refletir sobre o reflexo,
de saber-me complexo
e ver o que parte de mim.
me desfaço em mil pedaços,
big bang...
centelha,
fagulha,
pó de estrelas,
poeira cômica...

pirlimpimpim.

I.R.

terça-feira, 9 de junho de 2015

liberdade de expressão

Foto: Jose Pedroso

a liberdade de expressão,
a liberdade de sensação,
liberdade para amar e ser amado...
e o ser amado,
independente do gênero,
nos lembra que, neste mundo efêmero,
o que falamos,
o que sentimos,
são galhos, troncos,
são raízes,
que só nos fazem felizes
por ser expressão da liberdade.

I.R.

domingo, 7 de junho de 2015

de ansiedades e ervilhas

canalizo ansiedades
em versos que talvez
careçam de valor.
mordo a língua
para não falar,
seguro os dedos
para não escrever...
o coração,
do tamanho de uma ervilha,
é uma pilha... de nervos,
de vontades e de emoções.
ainda sou um menino,
querendo construir o destino
na velocidade da luz.

I.R.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

sutis impressões

Foto: Jacqueline Hoofendy

sabe aquela coisa do subtexto,
e do contexto
ou do sexto sentido?
eu não sei.
tenho a impressão
de que quando falo ou me calo
sou explícito.
peço desculpas
por qualquer erro cometido,
pois tenho a sutileza
de uma manada de elefantes.

I.R.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

encantamento

Foto: Simão Salomão

puxo a timidez,
reacomodo a vergonha,
faço um contra-peso
na conversa que flui.
o mundo visto de cima
sempre será diferente...
e nisso que se constrói
passo a passo
a fumaça branca tem mesmo
que sair das duas chaminés.

I.R.

terça-feira, 2 de junho de 2015

linguagem

Foto: Jacqueline Hoofendy

a língua vermelha,
visceral,
linguagem codificada,
visual,
fronteiras que limitam
o ilimitado,
o universal que somos
se reduz a nada
se a língua cala,
se a boca não fala,
se o corpo inteiro não denuncia.

I.R.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

de cenouras e girassóis

há gerações os girassóis giram
até o momento de florescer,
depois, voltado para o leste,
ele se entrega agreste a seu viver.
enquanto isso,
corremos atrás
de uma cenoura hipotética,
desvirtuamos a dialética,
pra correr atrás
do que não se alcançará jamais.

I.R.