sábado, 31 de agosto de 2013

abrir

Foto: Sandra Santos

com muita concentração,
abro minha cabeça
para ver o que há.

ideias fazem sinapse com sonhos,
reencontro memórias,
encontro histórias
e poemas que ainda não escrevi.

abro minha cabeça
como quem abre um mexilhão
num cenário de açúcar...
e se isso mexe comigo,
é porque mais do que um marisco
encontro um cérebro arisco
que se arrisca.

I.R.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

indecifrável

Foto: Adriano Mello

na busca do inalcançável
o irrepetível,
na vontade do indefinível
o inimaginável.

na busca da vontade
a vontade da busca
na ponta da asa
e no indescritível daquele que crê.

I.R.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

quando me contarem

Foto: M. Candida Marques

quando me contarem que você é feliz
me contarão mais do que sua felicidade,
me dirão sobre sua vida...

e quando lhe falarem da minha,
nos diremos que somos como folhas ao vento

folhas soltas ao sol,
onde secamos nossa seiva
sem perder a nossa sede.

I.R.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

como catarata

Foto: Daniel Antunes

o que digo com os olhos
pode ser mais forte
do que o que profiro com os lábios.

assim, de vez em quando
uso óculos espelhados
que não refletem a realidade,
mas repetem minhas pupilas.

e quando prefiro não dizer
ou quando pretendo me calar,
levanto uma muralha de espelhos
e espalho minha alienação.

meu astigmatismo
e minha miopia
não são desculpa
para a falta de utopia...
não existe pragmatismo na poesia.

e me torno responsável quando meus olhos se calam.

I.R.

domingo, 25 de agosto de 2013

manequim

Foto Luiz Cavalli

um modelo imposto
não tem rosto,
é uma imposição cultural.

e uma imposição é um pressuposto
de que todo gosto
é linear, ou igual.

destruir modelos é como quebrar ídolos,
e só é doloroso
para quem, afobado ou ansioso,
pretende mudar o mundo
sem reconhecer os próprios manequins.

I.R.

sábado, 24 de agosto de 2013

direitos humanos

Foto: Rafaela Reis

o sangue derramado nas mesquitas de trípoli
e o das crianças mortas em damasco.
é o mesmo de quem os matou.
o sangue dos famintos na áfrica
ou dos assassinados em guerras tribais
é o mesmo de quem os mata
é o mesmo de quem os ignora.
o sangue de um cristão ou de um judeu,
de um muçulmano ou de um hinduísta,
de um sikh ou um umbadista,
o sangue de um índio, de um morador de rua,
de um homossexual ou do pastor feliciano,
o de um negro ou o de um cigano,
é o mesmo.

mas preferimos ignorar que cada um
de nós é um homem.

aos direitos humanos, o arame farpado...
direitos para poucos.

porque nós permitimos.

I.R.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

passagens obscuras

Foto: Helo Von Gal

nem só de espaço é feita a vida,
nem todos os caminhos são fáceis de transitar.
algumas passagens são estreitas,
alguns becos, obscuros,
e os tijolos que formam as paredes,
que conformam os muros,
parecem se fechar sobre nós.

nem só de ar puro ao ar livre a vida é feita,
um pouco de labirinto,
em sua medida perfeita,
nos dá o que pressinto ser,
(mais do que um enigma)
um desafio ou um paradigma.

uma passagem obscura ou um beco
é um eco do que somos
em medida micro,
é um espelho de nossa trajetória,
ou um trajeto cujo final
desconhecemos onde fica.

I.R.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

utopista

Foto: Janduari Simões

coloco utopias no cérebro
com um pouco de óleo.
aqueço,
chacoalho e mexo,
até que elas pulam.

utopias pulam do meu cérebro
e à luz de um candeeiro,
transformam-se em farol,
em um luzeiro,
pipocam como flocos de neve,
iluminam como raios de sol.

utopia como resposta real
à fantasia ou ao sonho irrealizáveis,
utopia doce ou de sal,
meu candeeiro encantado,
alimentado com o sabor da esperança.

I.R.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

hipertexto

Foto: Gisele Ferreira Lobo

neste mundo hiperconectado,
nem olhamos para o lado,
nem percebemos que não estamos sós.

não falamos cara a cara,
tuitamos ou retuitamos,
palavras próprias e alheias,
postamos num muro virtual
nossa fé e nosso vazio.

neste mundo hipermercado
em que todos estão conectados
querendo vender seus caracteres pelo melhor preço,
falta um pouco do caráter humano
que nos identificava...

já não conversamos.
falamos mais e com menos qualidade.
perdemos tempo com palavras desnecessárias,
nos desconectamos da vida em diálogos inúteis.

a vida em 142 toques por segundo,
esperando o ônibus,
comentando uma foto no instagram
ou enquanto seu lobo não vem.

I.R.

domingo, 18 de agosto de 2013

levitação

Foto: Iara Nunes

uma ideia pede um verso
que ao ver-se pronto
se descobre conto.

uma rima,
de trás para frente,
de baixo para cima,
para um parágrafo,
e não o deixa prosseguir.

suba, texto,
deixe o subtexto emergir...

entrelinha,
entre nos corredores da prosa,
flutue qual fingidora,
não como mentirosa,
cubra nossas cabeças,
e descubra essa mulher,
que um livro requer,
e que ao fundo caminha.

I.R.

sábado, 17 de agosto de 2013

outridade

Foto: Sasha Ivanovic

de um ao outro uma ponte
e um braço que termina em uma carícia.

com perícia,
como num teatro de sombras,
desdobram-se histórias,
cobram vida personagens
e a entrega é com voragem
à arte de atuar.

de um ao outro uma ponte
e a boca que se transforma em fonte
a própria fonte dos desejos,
onde o beijo não é moeda de troca,
mas a emoção que descoloca
de ser um no outro.

ser dois. ser um, ser beijo.
ser a vontade e o desejo
de ser ponte e de atravessar.

I.R.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

como houdini

Foto: Marta Monaco

temos a habilidade
de colocar cadeados
em qualquer lado,
até mesmo nos menos comuns.

cadeados sociais,
prisões naturais,
pressões pessoais,
com ou sem correntes...
somos habilidosos para nos impedir
e deixar que nos impeçam.

assumimos fechaduras portáteis
que se tornam fixas,
e assistimos sentados
o desenrolar de nossas prisões.

mas eu decido ficar de pé.
e se perdi a chave para me destrancar,
serro os elos, corto os galhos,
e exerço o meu viver em liberdade.

I.R.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

zoom

Foto: Gilberto Gonzales Serrano

no meio do concreto,
de frente pra rua,
na sacada, como se saudasse a multidão,
a arte se eleva.

e embeleza a vista
no meio da tontura diária.

harmoniza os sentidos,
melodia os ouvidos,
mas se mostra apenas
aos que sonham com os céus.

a arte nos dá vertigem
e coragem para não andar cabisbaixos.
a arte é a passagem para administrar o caos.

I.R.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

terceira revolução em torno do sol

Foto: Joice PG

em um instante,
a água que antes não era de ninguém
ao mesmo tempo é de dois.

os anos passam
como a água flui,
e não há segredos nem fórmulas
para se tomar da mesma fonte
aos três, aos treze ou aos vinte e três.

sincronicidade?
cumplicidade?
talvez apenas simplicidade,
na forma e no gosto
de beber da fonte da vida.

I.R.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

balde

Foto: Tani Guez

no espelho d'água
o reflexo do universo
onde mergulho
me convida a brincar.

na beira d'água,
me espelho em meu semelhante,
onde com o outro mergulho
e me esbaldo.

e no balde do divertimento
cabe toda a areia e toda a água do mundo,
cabem todas as praias e galáxias,
o universo todo, com todas as suas estrelas
e mais algumas estrelas do mar.

I.R.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

livro aberto

Foto: Sasha Ivanovic

como se fosse passarela
o pier invade as águas,
e esse cais onde atraco
meu livro e minha aquarela
me vê desfilar
num ir e vir sem âncora.

viver é pisar o pier,
passar por sobre as águas
e por sob o céu,
que como uma página virada
nos convida a avançar os capítulos
desde que os interessantes
nós voltemos a ler.

I.R.

sábado, 3 de agosto de 2013

caras

Foto: Ahmad Shihabuddin

a cara de timidez
ou de curiosidade,
a de tristeza
ou de seriedade,
são expressões
de nossos estados de espírito.

já a cara de alegria
não é uma expressão,
nem um estado,
é o próprio espírito
vivendo em liberdade.

I.R.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

pousando

a distância modela a saudade,
e com sinceridade moldeia minha ânsia de vê-la.
não acredito nos amores de novela,
só os de verdade são parceiros da esperança.

I.R.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

amor de mar

Foto: Stanley Wagner

tenho os olhos no horizonte
e os pés na areia,
enquanto a onda se levanta
beijando com sua espuma.

venha, mar!
venha amar nessa praia linda.

I.R.