muro em construção

Foto: Leonora Fink

o que há do outro lado do muro da vida

é uma pergunta que ficará sem resposta...

pelo menos para mim,

que estou interessado no muro.

e esse muro, compartilhado com quem amo,

é construído pedra a pedra.

em cada pedra uma história,

em cada história uma nova pedra.

o que há do outro lado do muro da vida?

só estou interessado na vida,

e nas pessoas que passeiam ao seu redor.

I.R.

se essa rua fosse minha

Foto: Jose Pedroso

não diria se essa rua fosse minha,

pois é minha,

como todos os caminhos são meus.

todos os caminhos são meus,

mas não transito por todos...

sempre escolho algum

e por esse vou.

e no caminho

vou e volto.

vou e viro a esquina

e viro a esquina e volto,

saio correndo pela grama,

pelo cimento,

deixo minhas marcas em cada coluna

e na minha coluna se escreve uma história

a cada passo dado.

meu telhado não é de vidro,

é vivo.

e a vida me deleita

momentos exatos de luz e sombra.

I.R.

sabiá letrado

Foto: Vicente Sampaio

a vida já não se escreve na ponta do lápis,

mas na ponta do lapso.

o círculo do destino,

se existir,

não é anunciado com trombetas,

pois cabe a cada um abrir suas próprias asas

e alçar seus próprios voos.

somos como o sabiá que sabe

que a pessoa sábia

não é sabia pelo que sabe

ou pelo que sabia.

somos como os sabiás

que sentem que o saber

é sólido quando se sente o sabor do sol

e o calor da vida sobe por cada centímetro

do nosso corpo.

somos a existência

em cada lapso escrito

em cada sopro descrito.

a vida já não se escreve na ponta do lápis,

mas os sonhos e os poemas, sim.

I.R.

before the show

Foto: Odilon Araujo

todo mundo tem dentro de si um palhaço

triste,

como todo palhaço,

e que só é palhaço 

para dissimular sua tristeza.

todo mundo tem dentro de si um marinheiro,

curioso, aventureiro,

e triste,

como todo palhaço,

e que só é marinheiro

para navegar e não ter dia a dia,

para fugir da rotina,

até mesmo na calmaria,

para sair por aí.

todo mundo tem dentro de si

uma tristeza que quer esconder,

da qual quer fugir.

mas sejamos palhaços,

e também marinheiros,

abracemos nossa tristeza sem disfarce...

quem foi que disse que para sermos felizes

temos de matar a tristeza que também somos?

I.R.

arriba

Foto: Adriano Mello

se alguém um dia me dissesse

que viver é rodar e rodar,

e girar e dar voltas

em um mesmo eixo

de um teto multicolorido,

talvez eu achasse estranho.

ou não acreditasse.

mas viver é rodar e rodar

e girar e dar voltas

em um mesmo eixo

de um teto multicolorido,

com os pés pendurados,

sentado em uma cadeira,

sentindo um sopro de vida

batendo na cara

e um frio na barriga a cada volta nova.

I.R.

placa silenciosa

Foto: João Luiz Lobo Ferreira

a preguiça de domingo

existe apenas como desculpa.

não como preguiça real.

na realidade,

o que queremos é ver os amigos,

é dar uma volta.

queremos tomar algo

e sentar à toa,

vivendo a vida passar lentamente

como uma brisa suave,

sentindo o próprio sorriso na cara

como uma das faces de deus.

I.R.

sol e sombras

Foto: Adriano Mello

o que fazer quando decidimos sair da caverna

e percebemos que por mais que o sol brilhe

não podemos ver a realidade?

o sol ainda brilha no ocaso...

o caso é que a caverna

muitas vezes habita em nós.

nem destino nem acaso.

a realidade só pode ser percebida

com muito trabalho...

ver o sol no entardecer

é apenas  primeiro passo.

I.R.

desértico

Foto: Fernando Gimenez Innecchi

importa se o sinal está aberto ou fechado?

nos desertos das palavras existem montanhas,

nos desertos da mente existem trilhos,

nos desertos do coração existem cercas,

mas nos falta um oásis.

o trem da vida...

vai passar ou já se foi?

onde estamos que não vemos

o que vai além da curva?

existe tanta solidão.

importa se o sinal está aberto ou fechado?

talvez importe...

ou talvez não.

I.R.

natureza humana

Foto: Lena Maia

às vezes não temos portas,

só portinholas que não podemos abrir.

e se nossas janelas estão fechadas

ou são escuras,

e se ninguém pode entrar

nem nós queremos sair,

talvez o que nos revele

sejam as plantas no parapeito,

as plantas penduradas,

as plantas que crescem

em nós para fora de nós,

que mostram nossa humanidade,

nossa natureza,

nossa conexão,

apesar das aparências.

I.R.

stop

Foto: Antonio Manuel Pinto Silva

um mapa da vida em cada traço,

em cada ruga, uma testemunha

do que se viveu ou não.

quase um sinal positivo,

mas a força é pouca

e a vontade é nula.

nem toda vida é vivida,

algumas são queimadas,

lentamente.

a fumaça branca pode anunciar papas

ou tornar preto qualquer pulmão.

I.R.

vinte e três

apesar da momentânea distância física
e do presente momento triste,
a vida segue.
e nisso que convencionamos
passagem do tempo,
nomenclatura de nosso ciclo,
fazemos mais 30,
completamos outro 13
e já vão 23.
mas respeitemos o momento,
guardemos os fogos
para o mês que vem.

I.R.

supernova

o coração parou
e deixou de respirar.

um mistério...

muitos anos depois.

I.R.

los caminos de uno

Foto: Igor Ravasco

los caminos de uno

son los caminos que uno hace.

cómo explicar,

convertir en palabra lo que siento...

lo que sé

que es mi vida misma?

a veces me faltan palabras.

me callo.

sigo la estrella.

I.R.

à moda de comodo

amada à moda de comodo,
sente um estranho êxtase,
que não incomoda.

estático e efusivo,
a cauda acode o incômodo verso,

deus nos acuda!

se queimo a grama verde, ela fica preta,
mas se queimo a grana preta, fiquei louco,
ainda mais se a grana preta é verde.

in god we trust

uma tartaruga-marinha é para muitos,
um franklin não.

o traste já não marca o semi-tom.

amado amigo mudo comido à moda de comodo,
não houve são jorge para você.
no seu caso, venceu o dragão.

I.R.

mensagem

algumas mensagens devem,
mais do que estar gravadas na pedra,
ecoar e ser repetidas
em nossas ações.

I.R.

renova ação

Foto: Igor Ravasco

mesmo onde houve dor e tristeza

e a vida parece sombra 

parece seca,

a água que jorra nos lembra

que a vida constantemente se renova.

rejeito a violência,

abomino o sofrimento nascido do ódio,

mas recuso a vingança.

sem água não há vida,

sem perdão não há vida.

sem vida não há amor.

é importante dialogar...

é fundamental construir a paz.

I.R.