segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Carta para um devoto de Maria

Buenos Aires, 07 de fevereiro de 2011

Prezado,

Das figuras com quem mais me identifico no Panteão religioso, independente de sua denominação, a que se mais se destaca é Maria. Sei que escandaliza um pouco quando digo, mas prefiro não chamá-la de virgem, afinal eu não sei se foi, e também não acredito que a virgindade seja uma virtude em si mesma.

Deus, que é unissex, se tivesse gênero seria mulher. Mãe Cósmica, Mãe Terra, Mãe Natureza. Nenhum mulher surgiu da costela de um homem. Mas nós, serem humanos, nascemos do ventre de uma mulher. Assim, Maria não é o lado feminino de Deus. Maria é Deus, a que gera, a que cria.

Mas não me interessa falar de gênero ou sexo ou virgindade. Me interessa Maria, e sua figura amorosa, compassiva, protetora, acolhedora, dolorosa, mulher que incentiva, que luta, de fibra, geradora de vida, de milagre, de força.

Verdade ou mito? Realmente importa?

As palavras do Gita se tornam menos importantes se Krishna, de fato não existiu? Os ensinamentos de Jesus se tornam vazios se a sua figura não passar de um mito? Ideais como o desprendimento, a superação, o amor seriam menos importantes se Maria fosse apenas parte de uma história? Verdade ou não, Jesus é a mais do que a continuação de Maria. Jesus é Maria. Tudo é Maria.

O meu único problema com Maria é que a oração proposta pelo catolicismo para reverenciá-la (dizer adorá-la seria mais honesto), contém uma palavra na qual não acredito. Diz a oração: ..."rogai por nós pecadores". Nós os pecadores? Espera aí. Não acredito no pecado. Acredito que cometemos atos justos e injustos. Somos responsáveis pelo que fazemos. Creio na lei da ação e da reação. "Quem semeia vento, colhe tempestade." Lei do karma. É, no pecado eu não acredito. E se não acredito, não posso dizer que sou um pecador. Tenho acertos, erros, faço coisas boas, ruins, sou generoso e mesquinho. Enfim, um típico ser humano.

Nesse dilema, não me sobram muitas opções. Ou paro de rezar a Ave Maria ou tenho que transformá-la. Talvez uma opção seja:

Ave Maria, cheia de graça,/o Senhor é convosco./Bendita sois vós entre as mulheres/e bendito é o fruto de vosso ventre, Jesus./Santa Maria, mãe de Deus (próprio Deus),/Rogai por nós pequeninos/agora e na hora da nossa morte.

Amém.

Um abraço,

I.R.