quarta-feira, 16 de outubro de 2013

aos pés da porta

Foto: Jose Pedroso

a porta dos sonhos está fechada
e a rua da realidade é fria.
a porta fechada, grande, alta e fechada
já não dá esperança.
a realidade da rua,
da noite na rua,
dormindo na frente de uma enorme porta fechada
é fria,
é dura.
e não há uma janela aberta...
a noite devora o homem,
e a carne que dorme ao relento
é a sobra à sombra de nossa cumplicidade.
a porta fechada, longa, alta, grande e fechada,
não tem fechadura.
devemos abri-la por dentro.
devemos arrombá-la, se preciso for.

I.R.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

na trincheira

Foto: Fabio Giorgi

penso,
logo dispenso.
porque é preciso repensar...

não se trata  do enlatado que nos dão,
do alimento mastigado,
porque somos cúmplices.
o luto e o lixo intravenosos
são o luxo nosso de cada dia.

repenso,
logo insisto.

é preciso ser
um ser imperfeito
ser livre é mais  do que um direito,
é caminho, é instrução.

a liberdade não é um propósito...
é de propósito,
e só sou livre quando me desvisto.
conscientemente nu...
a nudez não será castigada.

dispenso,
logo resisto.

I.R.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

38 em tempo

nem todo tempo é cronológico
algum é atemporal
e quase ilógico
mesmo também sendo impermanente.
a permanência é resultado do todo dia
e dá no mesmo se são 38 horas
ou 38 semanas,
38 anos ou 38 meses.
às vezes, é importante nem mesmo contar.
importa que o tempo permaneça,
não importa o drama.
importa ser plenamente feliz,
sem cronômetro, sem barômetro,
sem cronograma.

I.R.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

sentir e fingir

Foto: Jose Pedroso

sobre o que o poeta sente
ou finge
não posso escrever.
uma das pessoas de pessoa
já o fez com mestria.
sobre o que sinto
ou finjo
posso. mas nem sempre quero.
sou pessoa tímida,
mas quando sei que sinto
quando me sento e sei que finjo
prefiro não dizer.
meus poemas não são meu testamento
meu poeta versifica sem tanto pretender.

I.R.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

na cabeça e nas mãos

Foto: Nadja Santos

na cabeça uma ideia
dá voltas, gira, fica na ponta do pé
e para, nos dando um sentimento de proteção.

mas é só uma ideia,
e as ideias podem ser polidas,
lapidadas,
podem ser usadas,
e gastas, ser reinventadas
ou correm o risco de não nos servir mais.

na cabeça uma ideia.
e nas mãos muitas outras,
para pensar diferente.
na cabeça uma ideia,
um pensamento...
nas mãos, o sentimento
e a  possibilidade de poder repensar.

I.R.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

velocidade

Foto: Anne Frisque

não é por ser rebelde
com ou sem causa,
mas no ir da valsa
o ritmo pode acelerar.
e quando as leis ou os costumes
nos obrigarem a pisar no freio,
a diminuir a velocidade,
e não passarmos de setenta.
pode ser a hora de trocar a estrada
por uma pista de decolagem.

I.R.

domingo, 6 de outubro de 2013

na ponta do bico

Foto: Isabel Carvalho

a verdade não está nas palavras
assim como nos cartões do realejo
não se encontra o futuro.
a verdade não está nas palavras.
nem naquilo que vejo.
e o futuro é como um quarto escuro
onde aos poucos revelamos o presente
que o passado não pode ver.

as coisas não são como são.
são como somos.

periquitos não são papagaios
e papagaios não falam.
a verdade não está nas palavras.
nem o futuro na ponta de um bico.
onde estou, onde fico?

e nós... quem somos?

I.R.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

momento de cor

Foto: Sasha Ivanovic

no meio de vidros, concreto,
passando por portas giratórias,
olhar o arco-íris invertido
é nosso investimento na vida,
nosso propósito de que viver de propósito
é ser vivo com intenção.
no final do lado escuro da rua
não existe um pote de ouro.
existe uma existência que é preciso colorir.

I.R.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

a garota do outdoor

Foto: Antonio Manuel Pinto Silva

a garota do outdoor não me olha
a garota do outdoor não olha,
não fala, não sorri,
não sente dor...

a garota do outdoor
tem camadas de photoshop
sob camadas de retoque.
o ser humano à serviço da beleza,
garota natural, sem natureza.

e seus olhos postos nos galhos secos
é reflexo apenas do meu desejo
de que ela esteja viva.

I.R.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

sobre filtros e máscaras

Foto: Luiz Alfredo Ardito

nem todos os bons modos são bons
nem toda boa educação é educada
coamos nossas ações,
filtramos nossas palavras,
usamos máscaras sociais
como num carnaval veneziano,
para esconder nossas carrancas.

é...

às vezes é saudável perder a linha,
descer do salto
e sair dos trilhos.

I.R.