sexta-feira, 20 de setembro de 2024

anátema para eros

anamnese feita,
analisada pelo analista,
análise de diálogo, de escuta:
há na obra uma anáfora
que, transbordando uma ânfora,
troca a metáfora pelo anacoluto.
há na obra um anagrama,
uma anarquia,
há dois seres, anatomia,
voltando da anabiose
(sinônimo bonito para a hibernação).

I.R.

terça-feira, 17 de setembro de 2024

assim seja

te ponho na mira,
te cheiro na mirra do incenso
da missa pagã da manhã,
que nada apaga.
(lenha macia como o lençol.)
você me lê e sabe,
meus amigos me leem e intuem.
enquanto penso em voz alta,
navegando nessa caravela,
recatado e lascivo.
sinto que há vida e sei o porquê.
sinto... porque estou vivo.

I.R.

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

vastidão (revisitada)

olha, ouve.
vê, vê.
vem, vou...
viagem de vagões inusitados,
vulneráveis...
verdades e vacilações.
o variado de sempre
ou o de várias vezes,
o variado novo.
ouvindo o vento de novo,
sorvendo o vinho,
vivendo...

(com a intensidade de um vaga-lume)

I.R.

sábado, 7 de setembro de 2024

absurdo

as aparências não enganam,
são só aparências,
(não são essências florais,
nem florais de bach)
são apenas a essência do que se vê...
e quem vê cara, não vê coração.
essencial é ser a pessoa que se é
(que sou)
-essencialmente-
-somente-
assumir minha própria existência,
beber no poço das minhas contradições.
talvez o progresso seja um engodo
e o caminho circular...

vou dando sentido a esse nonsense

I.R.

domingo, 1 de setembro de 2024

cabo da nau

não acredito em deus,
(ou talvez em quase todos eles)
mas acredito na tia que canta o louvor,
acompanhando o violão do sobrinho.
acredito em sua fé,
que não é a minha,
e somos um no amor à música.
me alegrei com sua alegria
cantei com ela, com gosto,
enquanto ela louvava seu deus
e eu celebrava a nossa humanidade.

I.R.