terça-feira, 28 de novembro de 2023

cronoscópio

a contagem do tempo,
em anos ou segundos, é secundária,
a vida deveria ser medida em gangorra
ou em roda gigante,
nesse sobe e desce de humores,
nesse girar de emoções.
a vida é essa sucessão
de sucessos que acontecem no parquinho,
no parque de diversões,
num campo minado,
que às vezes não é literatura, mas literal.
a vida é fácil, a vida é dura,
é circo, palco e picadeiro,
é a incerteza por inteiro,
é o que não para e acontece
enquanto insistimos em contar o tempo,
esperando o cuco cantar

I.R.

terça-feira, 21 de novembro de 2023

certidão

quis escrever como drummond,
bandeira, como vinícius,
usei dos meus artifícios
e não percebi que era besteira.
quis escrever como carriço, victorino,
mas sou tão menino e ainda tão sem viço...
não quis escrever como eraldo amay,
poeta místico,
pois sou terrenal, pai... perdoai!
e então escrevi franco, como Franco,
escrevi como Moreira a amoreira,
como Maia e não como asteca.
escrevi como quem peca,
como Igor sem ser russo,
quando o bigode era só um buço,
escrevi sem medo do fiasco.
escrevi como eu mesmo,
como Ravasco.

Igor Franco Ravasco Moreira Maia

terça-feira, 14 de novembro de 2023

sem título

como explicar uma dor, 
explicitar um amor, 
como transmitir um vazio
e se comunicar
de forma menos imprecisa, 
nada implícita? 
como evitar os vocábulos 
ou usá-los até consumi-los 
na ponta da nossa língua? 
é possível pensar em silêncio? 

a fala é falta, 
é falha,  é falaz
e não traduz o que sinto, 
e nem diz o que sou. 
mas não me põe ou me ponho
na condição de seu escravo, 
sou contradição....
o filho da mãe 
e o filho da minha mãe, 
jekill e hyde, 
depende do dia, do contexto 
e às vezes até
só depende de mim. 

I.R.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

sátira

dizem que a vida é séria,
dizem que é uma brincadeira,
fala-se demais, vive-se de menos...
assumo que não sei, mas gosto...
e talvez só possa dizer isso
por causa do acaso
que aproxima ou afasta
os calos e o caos...
nesse encadeamento de fatos,
de acontecimentos,
de alegrias e aborrecimentos.
a vida é enquanto me oculto,
enquanto me exponho,
e quando me ponho na brasa,
a vida não é rasa,
é cor de rosa,
uma câmera defeituosa
por onde mostramos
só uma parte de nós

I.R.

domingo, 5 de novembro de 2023

alteridade

a vida é associação ou desassociação livre,
no encontro e desencontro com o outro.
quem é o outro senão o diferente de mim?
mas quem sou eu? pergunta de aparência simples,
e cuja resposta talvez seja apenas ‘eu não sou o outro’,
enquanto ainda não posso responder quem sou.
falo do que gosto, do que como, do que bebo,
por que time torço, com o torso cheio de pintas,
enquanto pinto esboços verbais e bobas reflexões de bar,
e deixo de falar sobre qualquer questão fundamental...
não digo séria, nem o que seria,
pois também há seriedade numa lista de supermercado.
quem sou? talvez não tenha resposta, nem precise,
as perguntas importam mais
e suportam um existir de reticências
...

I.R.