terça-feira, 20 de junho de 2023

arraiada

não há poema
que dê conta de um nascer do sol,
e eu que não sou poeta,
não sou astrônomo,
que não sou fotógrafo
e desconheço as medidas do metrônomo,
apenas observo.

e já não conservo a luz identificada na retina,
mas guardada na memória,
me traz a história de um amanhecer.
imagem decodificada,
foto jamais tirada,
de um sol que nasce pra todos,
de um som em forma de onda
que ainda está por vir.

I.R.

terça-feira, 13 de junho de 2023

zen-sível

a emoção à flor da pele
que se aproxima e que repele,
balé encantado,
biologia e psiquê. 
um nós de eu e você,
o meu e o seu jeitinho
desatando nós,
com diálogo e com vinho,
cercania e distância,
tranquilidade e ânsia,
vida que segue, que é e persegue,
sem mesmo ter porquê

I.R.

quinta-feira, 8 de junho de 2023

a-corda

a consciência que acorda cedo
desfruta do amanhecer,
da cor de fogo do céu,
do alaranjado do mar...
curte a cor do sol no horizonte
a cor da água translúcida avançada a manhã...
a consciência que acorda,
acorda com o outro uma direção,
sem o afã de chegar, mas com afã, com afinco,
e se encorda ao outro sem se amarrar,
porque nem todo laço é daninho,
nem todo nó é mesquinho,
e a corda que me amarra ao outro
pode ser música,
e proteger da brisa e da maré,
amar é amarrar a ama e deixar fluir

I.R.

segunda-feira, 5 de junho de 2023

euQUILIBRANDO

a casuarina finca as raízes no areal,
por uma causa, não por acaso.
causa e efeito, 
onde o acaso não tem de ser o caos.
as dunas se movem, 
as baleias estão de passagem
e as tainhas são pescadas nas prainhas,
às margens do pontal.
a casuarina tem raízes profundas,
assim como é profundo o mar,
que, assim como a duna, não se enraiza...
as tartarugas vivem, mas não desovam aqui,
na praia já quase não se vê tatuí,
e o que resta da restinga resiste,
e eu também resisto, e existo na insistência,
sendo duna e casuarina, mar e areal,
o que permanece e o que está de passagem
o ferrão e o que é ferrado, derruba e é derrubado...
rabo de arraia remando no arraial.

I.R.

sábado, 3 de junho de 2023

(des)romântico

o amor que se revela
se rebela contra o sistema.
revelar e rebelar,
eis o tema,
eis a questão,
um amor novo
não é um novo amor,
mas relação fora da caverna,
a consciência
de que com ciência
não se vive em fantasia,
mas em desromantismo.
amores reais entre pessoas reais
em construção.

amar sempre é construir
descontruindo com urgência

I.R.