terça-feira, 26 de abril de 2016

de molho

tosse, tosse, tosse,
calafrio.
a garganta doendo,
calafrio,
anunciando que a febre
se aproxima...
nada me anima...
trinta e oito,
tosse, tosse, tosse...
repouso,
antibióticos,
traqueobronquite
e nenhuma vontade
de escrever.

I.R.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

nascente

Foto: Bruno Kaiuca

ninguém nasce poeta,
a 'poetitude'
é uma abertura do olhar,
um rasgar do sentimento...
não se trata de momento,
mas de trabalho...
sol a sol,
para talvez cantar a lua
com mais graça,
louvar o amor,
destilar tristeza...
pra dedilhar a natureza
e versar sobre a existência...
não tem ciência
nem fórmula,
talvez nem versos...
ninguém nasce poeta,
estar poeta
é só um estado de espírito.

I.R.

terça-feira, 19 de abril de 2016

o lixo da história



o lixo da história pula
de suas páginas
e se espalha
pelos microfones,
como um monstro à espreita,
não para assustar nossos sonhos,
mas mostrando o pior de nós.
o lixo da história
transborda suas páginas
expondo marcas, reabrindo cicatrizes,
e sob nossos narizes,
fere o espírito, dilacera a carne...
passado presente,
tristemente
aplaudido em rede nacional

I.R.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

preto básico

nem verde e amarelo
nem vermelho...
o preto é mais adequado
para este luto democracia

I.R.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

respostas para o amor atemporal

Foto: Jose Pedroso

os galhos frondosos
transportam a seiva
captada pela raiz...
num emaranhado
de ramificações,
num sem-fim
de sensações,
suavidade,
vida...
galhos frondosos
que se entrelaçam,
pulsação...
raízes profundas
que se entrelaçam,
pulsação...
no pulso da árvore
somos o fruto
do fruto da árvore
do conhecimento,
no pulso da árvore,
o sentimento
de que somos fruto
do indefinível

I.R.

terça-feira, 12 de abril de 2016

repetición

Foto: Daniel Antunes

nadie entra
dos veces al mismo río,
porque ni nosotros, ni el río,
seremos los mismos,
aunque sea un segundo después
de habernos entrado a este mismo río
por primera vez.
por eso repito temas
y reescribo palabras,
porque cuando me repito,
en verdad, no me estoy repitiendo...
ya que jamás voy a ser el que fui,
aunque sí sea obvio
y lleno de lugares comunes...
cabe a cada momento su obviedade,
no todo lugar común
es apto a cualquier peatón.

I.R.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

...no olho

Foto: Maria Luiza

o que não olha
e o que não é olhado,
desencontros urbanos inesperados,
isentos de salvação.
e num instante,
como se de um reflexo se tratasse,
um olhar em esbarrão,
uma fração de segundo...
e nada...
mundo que gira...
vida que segue...
momento surreal.

I.R.

domingo, 10 de abril de 2016

enquadramento

Foto: Carlos Bertao

há vida no que enquadramos,
mas a vida que fica de fora
da moldura
não é menos vívida
nem menos vivida...
afinal, nem tudo é moldura
nem tudo é molde
e se enquadramos,
talvez seja só por necessidade
de contenção,
vontade de segurança,
mesmo que falsa...

nem tudo é farsa,
há vida no que enquadramos,
recorte da realidade,
verdade entre verdades,
ou apenas opinião.

I.R.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

com fio

Foto: Simão Salomão

sou emaranhado entrelaçado,
difícil de desembolar,
marimba sem cerol,
rabiola sem gilete,
sou carroça a frete
carregada de histórias...

mas não sou saudosista...

sou a saudade
e a esperança que vai à frente,
sou diferente,
sendo igual a qualquer um.

I.R.

terça-feira, 5 de abril de 2016

exposição diária

Foto: Jacqueline Hoofendy

quase não me exponho,
eu me escondo
atrás dos versos,
por trás de notícias falsas,
fantasiado de palhaço
durante cinco minutos,
talvez exilado, isolado,
afastado de mim...

quase não me exponho,
couraça de papel...
mas pra você eu choro,
me rasgo, me declaro,
não preparo frases de efeito,
me mostro como sou,
imperfeito,
e assim você me lê...
e sinto suas mãos
passando minhas folhas,
sabendo que tenho falhas...

eu quase não me expunha...

I.R.

domingo, 3 de abril de 2016

caminhos do futuro

Foto: Antonio Manuel Pinto Silva

como humanos,
criamos regras,
pautas,
vida em sociedade
(dirigida, domesticada,
nem sempre limitada contra a barbárie),
linhas retas, caminhos
que escapamos em diagonais...
ninguém escreve certo por linhas tortas,
e se deus escrevesse,
talvez precisasse
de um caderno de caligrafia.

I.R.