quinta-feira, 30 de julho de 2015

primeiras leituras

Foto: Danilo Caymmi

é uma questão do olhar,
uma emoção, um sentir.
é aquele momento
em que o caminho dá voltas
e você não sabe
se sobe, se desce,
ou se desliza pelo corrimão...
aí onde o ferro faz a curva
você percebe
que não há nada definido
nem definitivo,
você sabe que não há nada igual...
como um mármore
que não vira escultura,
mas traz em si a possibilidade,
de ser potência em potencial.

I.R.

terça-feira, 28 de julho de 2015

ao pé do ouvido

Foto: Gilvan Borges

quero te contar uma história,
um conto,
aumentando um ponto
e muitas histórias,
quero te contar meus sonhos,
alguns ou talvez todos meus segredos,
aqueles planos secretos
que talvez eu já tenha esquecido,
aqueles desejos
que ficaram no fundo de algum baú.
eu quero te contar,
assim ao pé do ouvido
que entre um suspiro
ou um gemido,
uma ventania derruba os livros
que eu tentava arrumar.

I.R.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

vivo

Foto: Jacqueline Hoofendy

deixei as palavras de lado,
as traduzidas
as faladas,
deixei de lado as corrigidas.
deixei os poemas
e as palavras descansarem
e fui viver poesia.

I.R.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

transitório

Foto: Jacqueline Hoofendy

os planos que fizemos
e os mapas que traçamos,
tantas noites insones
para realizarmos um sonho...
mas não acredito no destino,
só no caminho que escolhemos
e no imponderável.
cada linha traçada
pode ser redesenhada
enquanto em nós existir vida
tudo é transitório,
nem por isso risível
ou irrisório.
somos areia do tempo
em constante transformação
de forma e significado.
pó de estrelas
ao sabor dos ventos e das marés.

I.R.

domingo, 19 de julho de 2015

impulso

Foto: João Bosco de Almeida

escreverei poemas que você não lê,
traduzirei alguns pra você entender,
e os detalhes se perderão,
mas a essência continuará ali...
enquanto a garrafa se esvazia
e uma conversa quilométrica
parece não ter fim.
nossas mãos se balançam
enquanto um vento gelado
acaricia nosso rosto.

numa fria madrugada portenha,
nossas vontades se balançam
no meio do inesperado.

I.R.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

caranguejo

enquanto eu pensava em palavras...
elegantes, rimadas e difíceis
enquanto projetava versos sinceros
desses que rasgam o peito
e fazem confessar o quase inconfessável...
você me falou de um caranguejo,
de um pequeno caranguejinho,
que vindo sozinho, perdido no mar,
espetou de leve seu dedo.
e ali no toque da garra com o dedo,
naquele segredo, envolto em mistério,
abriu-se um clarão, no meio da água cristalina,
e enquanto imaginava esse azul turmalina,
soube que ali eu já não era mais o mesmo.

I.R.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

noite rasgada

Foto: Jacqueline Hoofendy

de altos e baixos feita,
entre dedos que apontam
pro infinito,
vida imperfeita
rasgando o céu.
mas nada do que tenho dito,
ou tudo do que tenho feito
rasgam a normalidade,
falsa tranquilidade imposta.
pois importa o que eu digo
e ainda mais o que faço...
no traço irregular
se esconde uma história.
não sou alpinista
nem mesmo artista,
minha luta inglória,
diária,
é ser uma alma libertária,
ainda que contraditória
em seu próprio ser.

I.R.

domingo, 12 de julho de 2015

arrasto

Foto: Suzana Valério

tecemos ideias,
redes,
relações,
tecemos relacionamentos
e emoções.
cortamos nós
que nós tecemos
ao complicarmos
o que é simples.
em nossas mãos,
calejadas ou lisas
qualquer arrastão,
vendaval,
qualquer brisa,
pode ser uma fantasia
e então se tornar real.

I.R.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

volts

Foto: Vicente Sampaio

há entre nós
um fio de energia
talvez tênue
que nos une
por onde passam
correntes alternadas.
há entre eu e você
um transformador
que modifica nossas tensões,
essas correntes,
a uma mesma frequência.
há entre você e eu a distância,
o caminho entre dois postes
a força de duas potências
que você insiste em não acercar.

I.R.

terça-feira, 7 de julho de 2015

esquisitice espacial

não são só gestos,
mas gostos que mudam
porque os desejos mudam,
e em nosso rosto é possível ler
o que as palavras silenciam.
nem sempre opino o que opinava
nem sinto o que sentia...
algumas vezes quero sem poder,
outras desejo sem querer...
mas me arrependo mais
daquilo que não fiz,
o que está feito é vida, experiência,
resiliência e alguns pedidos de desculpa.
escrevi e rasguei um poema de amor
que você pode imaginar,
mas não pode receber.

I.R.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

último baile

Foto: Jaguaracir Alves

impérios terminam,
monarquias caem,
repúblicas e ditaduras,
regimes nobres,
ideias puras,
chegam ao fim.
ódios passam,
amores acabam.
tudo acaba, tudo passa.
só o eterno é eterno,
mas somos finitos
e não podemos entender
algo sem começo ou fim.

I.R.

domingo, 5 de julho de 2015

lectura


Foto: Igor Ravasco

me acerco al cuero
con palabras pintadas
letra por letra,
sin vocales,
esperando a que yo lo rellene
con mi voz,
con mi actitud.
me acerco al cuero
y lo leo,
me adueño,
no de un sueño,
sino de una realidad,
cuya interpretación
es lo que me toca escribir.

I.R.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

talvez

nunca te dei flores
nem te escrevi poemas.
nunca sussurrei
palavras de amor
ou de tesão
no teu ouvido...
talvez por não te conhecer
ou porque seja cedo...
talvez porque ainda não te ame,
ou saiba que as flores da sua pele
escrevem crônicas
e expelem saberes que nunca li.
nunca te dei flores
nem te escrevi poemas,
talvez não faça nunca,
talvez este seja só o primeiro.

I.R.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

indivíduo

Foto: Jorge Ferrer

as estruturas que uniformizam
me infernizam
esperando eu me adequar.
e enquanto engomam meu uniforme,
eu, disforme, desconforme,
grito uma fome de justiça,
e uma sede de liberdade...
não sou contra o rebanho
nem a tendência gregária,
mas quero que minha janela,
mesmo solitária,
tenha um toque
disso que chamamos 'eu'.

I.R.