terça-feira, 30 de setembro de 2014

contradanza

Foto esquerda: Joana Senger - Foto direita: Simão Salomão

bailar es hablar con el cuerpo
lo que ninguna boca jamás podrá decir,
bailar es poesía concreta y en movimiento,
es un instante de libertad
lejos de cualquier confinamiento
el baile es tierra de sueños
que no se vuelven reales.
tal vez por eso hable, escriba y sueñe poco...
no tengo alas,
pero sé que no necesito pedir perdón.

I.R.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

cerração

Foto: João Freitas Valle

me recuso a ser uma sombra
com um não corpo contornado
no chão ou numa parede.
mas se o físico é o de menos,
e o que vale é a metafísica de dentro,
quero ser fumaça,
quero ser vento...
quero me espalhar
um comigo, um com todos
como fog, como neblina,
fumaça de cannabis menina
fazendo uma longa viagem
ou dando um rolê por aí.

I.R.

domingo, 28 de setembro de 2014

metatexto

Foto: Marli Sassi

no degrau que me sento,
sinto que sigo.
e o degrau é como um verso,
de um poema escalonado,
mensagem de texto,
ou de um subtexto
que talvez me contextualize.

no degrau onde me sinto,
prossigo
e sento como quem descansa
em cada linha que lê,
como quem desabafa
em cada palavra que escreve,
e que esconde em si o seu porquê.

I.R.

sábado, 27 de setembro de 2014

corredor cultural

Foto: Sergio Sakai

entre estantes passeio,
por entre prateleiras passo,
e me desfaço em livros,
e me refaço em letras,
e me confesso em poemas
que talvez um dia volte a ler.

I.R.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

concretamente

Foto: Fernando Dassan

faço bolhas de sabão,
porque, concretamente,
as de concreto não podem voar.
faço coloridas
e efêmeras bolhas de sabão,
que estouram com um dedo,
com o tempo ou com a mão,
porque as de concreto,
concretamente, não podem estourar.

I.R.

sábado, 20 de setembro de 2014

amistoso

Foto: Sandra Santos

talvez até fosse mais fácil
aprender algum macete,
desenvolver alguma fórmula,
construir uma maquete
e ensaiar antes de viver.
mas tanto a vida
quanto o que chamamos vida,
isso que vem sem manual e sem guia
e que encaramos todos os dias
não pode ser pré-vivida.
aqui não há treino,
todo momento é uma jogada da final.

I.R.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

da nitidez

Foto: Helo Von Gal

se nada é tão nítido
e ninguém é tão lúcido
a ponto de afirmar
que a verdade está aqui
e não acolá.
nada é tão idílico
ou nunca tão ilícito
a ponto de negar
que a verdade que vi
já não é a que está.

I.R.

domingo, 14 de setembro de 2014

geométrico

Foto: Hélvio Romero

não sinto saudades de quem fui,
mesmo gostando de ter sido,
e se tenho alguma pretensão
por quem serei,
talvez seja porque o estar sendo
traz em seu íntimo o sabor da esperança.

renasço todos os dias
e me reinvento de vez em quando,
atento à beleza desatenta do cotidiano,
presente em um olhar, em um abraço,
em um bate-papo que marca o traço
das ruas que atravesso.

I.R.

sábado, 13 de setembro de 2014

a nova lisa

Foto: Luiz Alfredo Ardito

sabendo que as posições mudam
e as posturas se transformam,
um dia a mona lisa desapoiou os braços
pôs a mão na cabeça
e começou a sonhar.
e sonhou com uma vida comum,
sem mistério algum,
como qualquer pessoa,
como qualquer mulher.
desejou estar na natureza
e não de costas para ela,
quis não sorrir...
mas que suas lágrimas de alegria
e também as de tristeza
fizessem de sua imagem um borrão.

I.R.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

monóculo

Foto: César Fotos

cada monóculo contém uma história
onde mais importante
que derrota ou vitória
é a verdade que o monóculo contém.
cada monóculo guarda uma verdade
que consideramos única,
real e definitiva.
cada monóculo é a realização
do nosso sonho de divindade
e do desejo de transcendência.
cada monóculo é um pedaço de consciência
que insistimos em ver como todo.
cada monóculo é parte,
é figura de quebra-cabeça,
o todo é só uma possibilidade
que talvez um dia apareça
se olharmos todos os monóculos juntos
e não um de cada vez.

I.R.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

odisseia

Foto: Ricardo Biserra

como penélope
desfaço de noite
o que fiz de dia...
teço uma vida em poemas
que não mostro,
rasgo ideias que não sobram,
escrevo versos definitivos
em tatuagens de henna.
como penélope,
desmancho meu trabalho
esperando ulisses voltar.

I.R.

domingo, 7 de setembro de 2014

herói e vilão

Foto: Alberto Cardoso

ninguém é apenas vilão,
ou somente herói
o tamanho da vilania
e do heroísmo
é relativo
e se a verdade às vezes dói
como a mentira
talvez seja porque mentira e verdade
nem sempre são fáceis de se definir.

I.R.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

valendo um abraço

Foto: Ygor Santamaria

todos em suas marcas.
preparar, apontar, valendo...
valendo e sem regras,
pois essa corrida não tem vencedores
nem vencidos,
e o importante é chegar à meta,
não ultrapassá-la,
e o bom é curtir o detalhe
o olhar que sorri, o sorriso que se abre
com a mesma longitude dos braços
também abertos...
gostoso é um dia estar na largada
e ser o que corre,
e num outro, ser o ponto de chegada.
início e fim, uma entrega
que não pode ser medida,
que se separa, já que não é desmedida,
mas que guarda no coração
o palpitar que um dia esteve junto ao seu.

I.R.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

ideia

Foto: Paulo Centeno

talvez eu tenha me perdido
no fundo de um lago
ou do oceano.
e se de vez em quando jogo as redes,
tarrafeio à procura de mim,
não é para voltar a ser o que fui.
sou pesca e pescador,
aquele que um dia,
no leito de um rio
ou na beira do mar,
voltarei a me encontrar,
e não seremos mais os mesmos
que até agora fomos,
pois sou uma ideia
dos dois lados da rede,
sou uma ideia em construção
ao redor de um eu.

I.R.