quinta-feira, 27 de junho de 2013

manualidades

Foto: Iram Rubem Brandão

a vida que vivemos não tem manual,
mas tem trabalho manual,
e alguns cartazes
que vão nos dando indicações.
a vida não tem cartilha,
mas aprendemos que em porta podre
não adianta botar tranca,
e que o dono da banca
também é o dono da porta pobre.
sei que poemas não devem ser presos,
e não os prendo...
mas não aprendo que o botão on/off
existe para de vez em quando ser usado.

I.R.

terça-feira, 25 de junho de 2013

ilhado

Foto: Marcelo Barbusci

ilhado na cidade grande,
o homem concreto
procura um sonho
naquilo que lê.

pois cercado de cimento,
de ferro, tijolo,
de paralelepípedo,
o homem sabe que seu pesadelo
é ser de concreto
um homem estátua
com um texto de mentira esculpido
em sua mão também de pedra.

ilhado na cidade grande,
o homem é um náufrago
que procura seus sonhos
nas páginas dos classificados,
sem saber ao certo como poderá pagar.

I.R.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

estradas

Arte: Lena Maia (sobre foto de autor desconhecido)
 
a irreverência como forma de arte
independe de autores,
vai além de lordes e senhores,
é uma racha no asfalto duro
que balança os alicerces da paz.

verde, ar puro e consciência,
não é a coincidência o que buscamos,
mas descer a ladeira
com um pé no freio e o outro no acelerador.

abrimos caminhos
que nos abram múltiplas estradas,
nossa anarquia não quer ser dona do poder,
nossa utopia sabe que o caminho não termina.

I.R.

domingo, 23 de junho de 2013

descansando

se não tenho nada a dizer
ou se quero me contradizer,
não me digam nada.
se no telefone foi um engano,
se calar foi o meu plano,
sou humano,
e sempre posso me desdizer.

I.R.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

literal

Foto: Sandra Santos

todos somos imperfeitos
e cometemos faltas,
mas dentre os que erram,
(para não dizer pecam,
e não cair no discurso religioso),
alguém sempre  levanta a mão
para se colocar como superior aos demais.

somos todos iguais.

 mas essa mão que se levanta
e se põe numa postura superior,
acredita mesmo que é mais
se crê defensor da verdade,
da justiça e da legalidade.

num mundo de gente falha
sempre tem um vândalo
que levanta a mão
e atira a primeira pedra.

I.R.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

in my mind and heart

Foto: Jose Pedroso

a vibe que trago na alma
e compartilho com os meus,
com os seus e com os nossos,
é boa.
é uma vibe de paz e amor.

e essa vibe de amor e paz,
na fronteira entre o céu e a terra,
é capaz de entender
que não é só a ausência da guerra
o que um dia nos trará o amor.

a não violência,
a justiça social,
o amor ao próximo,
(ao próximo, não ao amigo)
não chegarão com a revolução,
mas com a realização de um projeto antigo

que todos sejamos um.
um só ser humano,
numa só vibe,
dando só mais um passo para a evolução.

I.R.

terça-feira, 18 de junho de 2013

re-evolução

considerando que a revolução
é a rotação de um corpo em volta de um eixo,
ou um giro completo de um astro em sua órbita,
começo a perceber que a revolução
é uma volta que termina no mesmo lugar.

mudam-se os atores,
mas os personagens são os mesmos.
pois nenhum protesto, passeata ou manifestação
podem mudar o coração do homem.

cartazes e palavras de ordem não me dizem nada.
o jornalismo não me diz nada,
as corporações vendem notícias
e os independentes querem me convencer de suas verdades.

renuncio à revolução.
não quero voltar ao mesmo ponto de onde parti.
quero pão, quero circo,
mas sem alienação.

abraço a evolução, a re-evolução,
e se sair às ruas, que seja como um novo homem,
o velho só pode repetir os erros que já cometi.

I.R.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

moinhos de vento

Foto: Maria Aparecida Souza Mafra

um telefone é mais do que um aparelho,
é mais do que um mero objeto
ou uma sequência de números
entre os inúmeros aparelhos
que soubemos inventar.

somos seres sociais,
e entre todos os animais
desenvolvemos a fala,
aprimoramos a comunicação.
e, com ela, a sensação
de que quanto mais falamos
ou mais nos comunicamos,
estamos menos sozinhos
e perto dos demais podemos estar.

um telefone...
mais do que uma necessidade,
é prova de nossa humanidade,
prova de que, apesar dos percalços,
estamos com os pés no chão.

não estamos descalços...
nem vivemos sós.
o outro está do outro lado da linha,
e abraçar sua presença é motivo de festa,
tanto dele quanto minha,
uma explosão colorida para cada um de nós.

I.R.

sábado, 15 de junho de 2013

camadas

Foto: Luiz Alfredo Ardito

uma história dentro de uma história,
com personagens indefinidos
em paredes descascadas.
as perguntas são mais interessantes
mais vivas e mais instigantes,
do que as respostas.
um conto dentro do que não conto,
sem vírgula, sem ponto.
e um poeta dentro de um poema
que não escreveu.
as janelas antigas estão sempre abertas
e as velhas grades não são mais do que enfeite.
aquilo que parece ruína,
na verdade é minha sina,
meu sinal de que há uma vida
dentro de outra vida,
dentro de outra vida,
numa sequência de janelas abertas
por onde meu corpo e minhas lentes passam
e eu repasso cada história com um novo olhar.

I.R.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

mil e três

era uma vez,
e assim começa a história.
um conto que encanta,
sem ponto final,
um relato de paixão, com toques de comédia,
um pouco de drama, também aventura
e quase nada de terror,
é uma história de amor...
interrompida em algum momento
quando o sol já brilha alto no céu,
como forma de suspense...
assim se passaram mil e uma noites.
assim chegamos ao dia mil e três.

I.R.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

bom sujeito

Foto: Rosângela Lago

me arrumei todo,
como se fosse domingo,
como se fosse dia de festa,
só pra ver o meu amor.

botei minha calça branca,
afivelei o meu sapato,
me arrumei todo
só pra ver meu bem amado.

esse amor que tem um jeito sincopado,
no partido, na roda, no pé, no breque,
no raiado,
e que, em momentos de arrastão,
me deixa extasiado e me arrepia.

um amor que é a alma do meu povo,
um jeito velho de se viver o novo,
no sapatinho ou no toque da marcação.

e se boto o pé marcando meu território,
mesmo sabendo que não há exclusividade,
e que os amantes somos muitos
para um amado de muitas formas,
é porque não me separo do danado
e já no primeiro toque meu corpo vibra,
minha cabeça vive esse som,
minha alma respira essa emoção.

I.R.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

movendo montanhas

Foto: Simão Salomão

comemos do fruto proibido
com nossa maior cara inocente
mas não pecamos,
pois não é pecado pensar;
não pecamos,
porque somos livres para discordar...
até mesmo de deus.

mas se por outros motivos
o mundo se afastou
daquele paraíso original,
e a vida deu lugar à morte,
a nossa sorte é que ainda não perdemos a humanidade,
entre nós ainda resiste a amizade
e sabemos que um abraço forte
pode ser mais forte do que qualquer oração.

I.R.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Soneto do Tempo

Não se vive pra trás e nem pra frente
Pois a vida não tem uma sequência
E se não tem manual nem é ciência
Pra viver nós só temos o presente

E o momento é o instante e o de repente
Viver é um despertar da consciência
De que a vida é uma aposta na insistência
De ser o mesmo, sendo diferente

E se posso viver o hoje agora
Eu vivo todo dia sem demora
Como alguém que se sabe desarmado

Pois viver nem é mole nem é duro
E não vivo pensando no futuro
E não vivo pendente do passado

I.R.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

primitivo

Foto: Rejane Dominguez

a foto que você tira
é apenas seu olhar sobre o que viu,
sobre o que vê...
mas a interpretação de quem vê o que você viu
não é sua
por isso o que interpreto do que vejo de sua foto
é meu olhar sobre ela,
então a foto é sua, é minha, é de que a vê
é do universo.

como meu verso
que você lê, mas eu escrevo.
e o que escrevo é o que penso, o que sinto,
mas o que você lê e interpreta
depende da sua mente aberta ao poema
e do seu coração.
a emoção de quem lê transforma o texto.
isso não é pretexto de nada,
nem um problema,
é uma ponte espaço-tempo,
um buraco de minhoca.

mas diante de um pôr do sol,
por mais verso ou foto que se tire,
deixamos de lado nossas filosofias,
buscamos em nós nossas melodias
mais primitivas
e cantamos à vida,
agradecendo o dom de existir.

I.R.

terça-feira, 4 de junho de 2013

essência

Foto: Márcio Pimenta

um piano
uma caixa de sapato
um caixão
não são diferentes.
são apenas recipientes
e nada mais.
uma caixa não é o sapato
um caixão não é o morto
e um piano
é uma mistura de teclas, cordas e pedais
mas não é música nem melodias atonais,
um piano é um meio-dia cheio de possibilidades
esperando que um pianista se sente
e de repente comece a tocar.

I.R.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

vivendo

Foto: Jonas S. Medeiros

não existem abismos seguros,
e as grades ou parapeitos
não deveriam nos proteger da vida.

as telhas vermelhas dão o tom,
o som não sai pela boca,
viver não é sorte,
nem vivemos a vida que nos toca.

tocamos a vida.
dedilhamos dia a dia
até arrebentar a última corda.

I.R.

domingo, 2 de junho de 2013

saber

Foto: Monica Toledo

a pessoa sábia
não sabe apenas
sobre as pedras do caminho,
o sábio sabe que não está sozinho,
e conhece o caminho das pedras,
para poder andar sobre as águas.

I.R.