quarta-feira, 31 de outubro de 2012

noite das bruxas


Foto: Ilana Lansky

na noite das bruxas,
a lua cheia fabrica as sombras.

só acredito em gato preto
porque sei que eles existem,
mas são tão inofensivos
quanto os cachorros de mesma cor.

não acredito em azar
e menos em sorte.

passo por cima e por baixo de escada,
e só não quebro espelhos
porque dá prejuízo.

não uso figa, pé-de-coelho,
trevo de quatro folhas ou ferradura,
apesar de às vezes ser meio burro
ou meio cavalo, dependendo da ocasião.

não creio em olho gordo,
olho magro, olho de dieta,
nem em promessa, simpatia
ou superstição.

yo no creo en las brujas,
y sé que no las hay,
porque no las hay.

I.R.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

o que é real?


Foto: Antonio Manuel Pinto Silva

onde está a realidade?
pois o real não está naquilo que se vê
nem naquilo que se pensa que se sabe.
porque nossos olhos nos enganam
e o que supostamente sabemos
chega até nós passando pelos filtros
do preconceito, das experiências subjetivas
e pelas máquinas de lavar cérebros das grandes corporações.

as grandes marcas, as grandes mídias,
o capital e o ego, geradores de medo,
o medo do diferente, a rejeição ao outro.

a realidade não está naquilo que se vê
nem naquilo em que se crê.

pois quem acreditaria que somos o sol e a sombra?
quem aceitaria que somos cavalo e cavaleiro?

o real é que somos todos,
e sendo todos, somos nenhum.
somos um.


I.R.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

para passar


Foto: Luis Jungmann Girafa

dizem que se deus fecha uma porta,
abre uma janela.
mas não acho que deus seja engenheiro,
arquiteto
ou engenheiro.

nós abrimos e fechamos nossas portas,
nos trancamos e arrombamos nossas janelas,
construímos nossas paredes.

o mundo segue seu curso.

queremos passar pela porta paredão?
não esperemos um milagre,
usemos uma marreta.

I.R.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

imagens


Foto: Marta Monaco

nem sempre sabemos o que vemos.

olhamos por um espelho,
vemos uma vitrine?

vemos um reflexo,
olhamos uma foto em movimento
ou é a realidade congelada?

quem somos nas esquinas,
o que fazemos na rua campinas?
porque sorrimos,
ou não sorrimos e estamos com a língua para fora?

o que vemos, o que sabemos,
o que somos?

cabem muitas respostas
nos olhos e na boca de nosso interlocutor,
desse com quem falamos, desse que nos vê,
desse que está do outro lado...
ou da mesa,
ou do vidro,
ou do espelho.

I.R.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

alfinetes


Foto: Mete Baskoçak

quando a boca não pode dizer,
os olhos gritam.

olhos que podem falar de amor
ou de alegria,
também berram tristeza,
melancolia.

o nariz que respira profundo
não fala.
as mãos que amparam,
que sustentam o mundo,
não gemem,

os olhos que veem
são os mesmos que choram.
os olhos que imploram,
são aqueles que dizem,
mas se não podem falar por si sós,
só dizem que eu penso que querem dizer.

I.R.

domingo, 21 de outubro de 2012

a arte


Foto: Murilo VS

se vemos o copo
meio cheio ou meio vazio,
se temos ideias próprias
ou terceirizamos o que pensamos,
se a felicidade é algo pessoal
que se desenvolve dentro
ou se vivemos descontentes
ancorando uma dependência fora,

ter ou ser?

a vida é uma arte.
a arte de encontrá-la
e agarrá-la com as duas mãos,
ou com uma só,
ou com as pernas,
ou com a boca, na ausência total de membros.

a vida nunca é como o ego pensa que deveria ser,
pois se fosse ou se um dia chegar a ser,
o ego arma sua teia e nos engana
para querermos o que não somos.

ser ou ter?

a vida é uma arte.
a simples (ou complexa)
arte de segurar o rojão.

I.R.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

vida de quadrinhos


Foto: Daniel Araújo

viajar no metrô apertado,
andar de ônibus lotado,
seres humanos cara a cara
sem nada a dizer...

fazer fila de 40 minutos,
50 minutos, uma hora,
não saber o motivo da demora...
fila no banco,
fila no mercado,
fila para esperar o transporte lotado...

a internet fora do ar
o celular que não tem sinal,
seres humanos longe a longe
sem nada a dizer,
nem mesmo por sinais de fumaça.

ladrões de colarinho branco
e batedores de carteira,
o roubo é flecha certeira,
só não sabemos de onde vem.

essa é nossa aventura diária
na selva de pedra encantada onde sobrevivemos.

a esperança é a última que morre,
mas enquanto ela não morre
e renasce no próximo número,
sempre há um novo dragão cuspindo fogo
que vem para nos desesperar.

I.R.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

para termos um mundo melhor...


Foto: Angela Zaremba

não basta plantar uma ideia,
é preciso plantá-la,
colocá-la ao sol
e regá-la de vez em quando.

não basta semear ideias.
é preciso plantá-las,
cuidá-las em suas diferenças
e regá-las com sua própria constância.

não basta enxertar ideias,
porque mais do que plantá-las,
colocá-las ao sol ou regá-las,
é preciso calçarmos nossas ideias plantadas
e sairmos por aí...

reflorestando o mundo.

I.R.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

cri-ar-te


Foto: Daniela Zuim

fazer arte é trabalho
e trabalho sério.
ensaio,
rascunho,
treino,
técnica,
e a própria entrega
da própria alma,
para que o espírito da arte
mostre sua vida,
e ensine,
divirta,
emocione,
transforme.

fazer arte, trabalho sério...

fazer arte é pôr a própria cara
a serviço da criação.
é nos olharmos no espelho
e não nos vermos,
mas vermos o criador.

I.R.

sábado, 13 de outubro de 2012

dois e dois


Foto: Marta Monaco


o amor não tem descanso,
tem dedicação.
tem todo dia
o dia todo,

saudável sensação.

e mesmo no desentendimento,
o amor não é sofrimento,
é gozo, aprendizagem,
é cuidado e não descaso,
é amanhecer e é ocaso

amar é ser.
e ser é viver o amor em abundância.

I.R.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

só o silêncio


Foto: Vicente Sampaio

no solo árido
não existe consolo
para a falta de chuva.

caminho seco,
trilha de pedras,
o sol queima plantas
e ideias...

a solidão do homem
na aridez do solo
é só parte da estrada.

o último trem já passou.

no solo árido
não existe lágrima
para a falta de consolo.

no solo árido,
a lágrima do homem
é uma gota que evapora no ar.

I.R.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

paralelas


Foto: Denise Autran

caminhos paralelos,
texturas paralelas,
para onde vamos?

caminhos para ler,
textos para parar,
paralelismo onde somos.

como paraquedistas em queda livre,
a terra é o limite.

caminhos paralelos,
texturas paralelas,
diversidade...

... a possibilidade
de múltiplas leituras,
e a inevitabilidade de o paraquedas
um dia não abrir.

I.R.


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

maratona


Foto: Jose Pedroso

uma filha corre paralela ao pai.

vai correndo e vai crescendo,
vai crescendo e se desenvolvendo
a filha que brotou no pai,
o amor do pai por sua filha...

universos paralelos,
mar de rosas,
caminho de pedras,

uma filha corre paralela ao pai,
um pai, depois da pausa da foto,
corre paralelo à filha.

I.R.

domingo, 7 de outubro de 2012

luz de artifício


um mundo de luz e sombras,
sombras entre sombras e luz,
luz entre luz...
fogos de artifício caindo
sobre as águas tranquilas do paraná.

e eu, evitando maniqueísmos,
me escondo na sombra
me deixo iluminar na luz,
e explodo no céu,
como cascata dourada
que sabe que só pode ser muitas
se for uma só.

I.R.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

realidade


Foto: Fernando Dassan

a realidade só é real quando a vemos
com nossos olhos,
não por olhos alheios.

o real dá trabalho,
e é mais fácil terceirizar do que se envolver.

realidade: conjunto de notas musicais
ensaiadas com esmero e aprendidas com paciência.
(tocar de ouvido não nos aproxima.)

realidade: novela de ficção-científica,
confundida com livro de auto-ajuda.
(literatura de cordel, sim. mas as bulas de remédio
não podem nos dar uma ideia do que seja.)

o mundo só é real quando o vemos com nossas cores,
quando pintamos nossos quadros,
nossas sombras
e nossas imagens refletidas.

isso não significa que a realidade seja real.
isso não que dizer que o real seja verdade.

mas é nosso.

I.R.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

da rua


Foto: Ricardo Aprigio Fonseca

o verso de pé quebrado
ou a rima pobre,
a falta de ritmo...

o lugar comum.

falta de talento,
elogios vãos,
o descompromisso...

o senso comum.

pois a anti-estética
é caixa vazia,
e porque vazia
é que pesa mais.

I.R.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

para sophia



o homem não é bom nem mau,
mas todos os dias nos desviamos do caminho.

buscamos fama, poder, dinheiro,
queremos glória
e alimentamos nosso ego
com altas doses de biotônico,
dizemos e escrevemos palavras vãs,
sílabas vazias,
massa sonora inerte e inútil,

mas retornar é possível.
reviver nosso lado humano,
buscar o conhecimento,
ser amigo da sabedoria.

nascemos sem conhecimento disso.
mas antes de nos encontrarmos,
devemos crescer e nos perder.

seja bem-vinda!

I.R.

Poema para minha sobrinha, nascida hoje, 01/10.