a onda

Foto: Ricardo Apparicio.

a onda ainda não chegou

mas por onde passa,

molha, lava, arrasta

e deixa um rastro de espuma branca,

caminho que vou pisar.

a onda que se levanta ao longe

quebra no horizonte dos meus pés que andam

em estradas onduladas,

em esquinas sinuosas,

em espumas saborosas,

onda infinda

de um eufemismo ínfimo,

onda profunda

de pés de branca espuma

molhados na beira do mar.

I.R.

para gil

um chiclete com banana só é bom
um domingo no parque.
e se a paz invadiu meu coração,
e o amor da gente é como um grão
é porque só chamei porque te amo.

não chore mais,
minha parabolicamará está sempre ligada
e já tenho as passagens do expresso 2222.

chama o pessoal,
manda descer pra ver filhos de gandhi,
venha ver o mundo negro, o ilê ayiê,
venha para a patuscada,
e aquele abraço.

I.R.

el sabor de la vida

Foto: Marcelo Mosquera

lo más fácil es escribir el verso fácil

y decir que amo la vida

porque la vida esto o la vida aquello...

...o qué sé yo.

pero no sólo amo la vida

y la vivo como viene,

sino que me animo 

a lo difícil,

y elijo los condimentos

para que mi vida no sea una vida más,

sino la mía...

mi vida, mi receta, mi sabor,

cuchara de madera mezclando

ingredientes en una olla sopera.

I.R.

vivência

nem as lembranças de um passado que tive
ou as esperanças de um futuro que não conheço
devem me tirar do que vivo.

ser o que está sendo,
pois não chegamos na meta.
vivemos a meta no momento presente.

I.R.

bandeira

na escola,
quando eu era pequeno,
me ensinavam a amar a bandeira,
mas não me ensinavam
a amar meus semelhantes.

é que o estado quer escravos,
seres submissos dispostos a morrer por seus símbolos,
mas não seres humanos,
homens livres, dispostos a amar, serem amados,
e a viver uma vida de fraternidade.

I.R.

o que se vê

frases como

"você não sabe de nada",

"você ainda não viu nada",

"espere e verá"

ou

"você não viu da missa a metade"

me fazem lembrar que

não vi nem sei de nada,

e sei que espero, mas não sei se verei.

não me incomoda não ver.

mas que minhas asas não sejam cortadas

e eu possa voar em qualquer direção,

e talvez até possa ver 

o que alguém um dia já viu antes de mim.

I.R.

balão

Foto: Rogério Saraiva

o balão nem sempre marca o fim da festa.

para quem ama a vida, a festa é diária,

para quem ama na vida, a festa se renova.

assim se deu, com tereza e amadeu,

assim se dá, com amadeu e tereza,

juntos, eles têm certeza 

de que sua festa não terminou

quando lhes deram um balão.

I.R.

22

dois patos passeiam na lagoa,
e um louco os espera na margem.
dois patos se respeitam,
se descobrem, nadam juntos
e se ajudam na lagoa,
e um louco os espera na margem.
dois patos caminham pela margem,
e o amor, louco, nada e cresce na lagoa.
dois patos loucos
constroem um amor saudável
na margem e na lagoa
enquanto passam pedalinhos
e o sol reflete seus raios no espelho d'água.

I.R.

free

livre para ser feliz
e ser feliz para se libertar.

I.R.

colunas

subimos escadas em direção a nada...
pois não queremos chegar.
queremos subir e depois descer,
para depois de descer, poder subir.

nossas colunas não sustentam nossas ideias...
temos colunas que nada suportam,
e nem mesmo nos sustentam.
somos fabricantes de colunas inúteis,
e nos iludimos com que elas seguram o céu.

mas não somos patéticos.

talvez um dia nossas colunas possam
realmente sustentar o universo.

I.R.

livre para

não quero ser livre de,

quero ser livre para,

e com minha liberdade ser eu,

ser feliz.

e produzir e transformar

e ser um com o um e com o todo.

essa é minha meta.

meu plano de voo,

minha rota,

meu trabalho árduo

que só terminará no último suspiro.

a verdadeira liberdade para mim.

a verdadeira liberdade para todos.

nem tudo é relativo como me fizeram acreditar.

I.R.

senso comum

o senso comum não tem bom senso.
o senso comum pode ser amigo,
pode ser violento.
e abaixamos a cabeça para seus desígnios.
o senso comum nos iguala a nada.
mas meu insensato coração
quer que seu destino
seja encontrar o sentido das coisas.
e a sensação de nunca ter o dever cumprido.

I.R.

autoanálise

para descobrir o que está coberto
ou revelar o que está velado
não é preciso somente esforço,
mas compromisso.

para se ter compromisso em descobrir,
em revelar o velado,
não é preciso somente esforço,
mas coragem.

coragem mais compromisso mais esforço.
enfrentar o medo,
navegar em águas escurecidas,
retirar camadas e camadas de tinta
até chegar à nossa parede original.

I.R.

passar

não existe hora que não passe.
a hora passa
porque tudo passa.

a vida passa,
mas nos cabe decidir
se passamos por ela ou não.

I.R.