sexta-feira, 27 de abril de 2012

trivial chique

Foto: Giulia Willcox

o divertido das pequenas coisas
é exatamente o fato de que elas são pequenas,
e sendo pequenas não tem grandes pretensões.

um ir à praia, um brincar no mar,
a sombra de uma amendoeira,
ou um bate-papo com amigos,
não são testemunhas de nada,
mas são prova viva de que se estamos vivos
podemos ser felizes com o corriqueiro.

com o costumeiro beijo na boca, 
com um cafuné,
um olho no olho e um nariz com nariz,
felizes com uns versos 
e com  o sabor de uma prosaica vida cheia de poesia,
cheia de vírgulas e de reticências...

I.R.


quinta-feira, 26 de abril de 2012

um gps nas mãos


Foto: Cecilia Gatti

somos apegados àquilo que nos divide,
pois é mais fácil criticar do que entender,
e dá mais prazer convencer do que aceitar.

somos apegados a nossas crenças,
agarrados a nossas vontades,
egoístas, imaturos, pouco honestos
até conosco.

e deixamos o próximo distante,
e o usamos em benefício próprio,
apropriando-nos de sua alma.

mas, calma.

o fim é sempre um durante,
e nossa rota, se quisermos, 
sempre podemos recalcular.

I.R.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

sós


Foto: Cristina Carriconde

talvez quando aceitarmos que estamos sós
poderemos viver em comunidade,
ou a dois.
pois amamos e nos cercamos de pessoas que nos amam,
temos amigos,
criamos laços, inventamos vínculos,
mas só quando aceitarmos que estamos sós
e convivermos com toda nossa solidão,
poderemos ir por aí
em direção ao outro.

I.R.

terça-feira, 24 de abril de 2012

passado, futuro e presente

Foto: Eduardo Starling

escolher viver apegados ao passado,
mas viver somente no passado
é viver uma vida que não pode ser mudada,
é viver uma vida que não pode ser vivida.

podemos tentar viver a expectativa do futuro,
mas o futuro não existe
e a vida está cheia de variáveis que não podemos controlar.
o futuro é uma vida que não pode ser vivida.

resta o presente,
que se apresenta como a própria vida,
porém, não o instante, como alguma vez disse,
mas o presente.

ser aquilo que se está sendo.

pois se somos o que estamos sendo,
à medida que estamos sendo,
conscientes de sermos vida,
podemos transformar até o mundo,
podemos humanizá-lo,
fazer do presente de cada um 
um presente vivo para todos.

I.R.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

contra o dragão da maldade



só quando conseguir tirar a armadura do ego,
e não estiver usando a espada do egoísmo
é que estarei armado.

só quando puder me libertar das armadilhas da ilusão,
das sombras no fundo da caverna,
da ideia de que meu eu é meu ou sou eu com e maiúsculo
é que terei vencido o dragão.

até lá, nem sou digno se der chamado aprendiz,
e observo a lua,
trabalhando para que um dia o sol
também se reflita em minha face.

I.R.

sábado, 21 de abril de 2012

aos amigos de nem sempre

os amigos que tenho já sabem
o que amigos que terei saberão,
que por mais que não nos vejamos,
não nos falemos nem nos escrevamos
com maior frequência ou assiduidade,
a amizade de cada um é um presente.
e cada momento que estamos juntos
ou cada palavra que trocamos
para mim é uma festa.

I.R.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

fonte de vida

Foto: Cristina Carriconde

a água que sobe e que desce não está represada,
nem toma represálias,
mas sai como um grito pela boca do homem.

após a dor, o sofrimento, 
o horror e o choro de milhões de vidas,
a falta de humanidade de assassinos
e a desumanização de assassinados também é parte de nós

mas a água, que vem ao mundo como um grito,
lava as feridas de nosso coração aflito,
somos um só sofrimento,
uma só fonte,
fonte de vida que quer verter em abundância.

I.R.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

hora de ser feliz



quando o silêncio é a melhor resposta,
a música ocupa os espaços em branco,
e os passos do dançarino,
embalados pela alegria de viver,
me lembram que a hora de ser feliz é sempre agora.

I.R.

terça-feira, 17 de abril de 2012

arcos da lapa

Foto: Eduardo Tasso

os caminhos da vida são cheios de falsos abrigos,
passagens estreitas, caminhos largos,
percursos longos, vias expressas,
os caminhos que transitamos são cheios de perigos,
mas nunca sabemos quais são.
por isso testamos,
por isso tentamos,
à espreita de uma nova curva,
por baixo de um novo arco,
à procura de um novo circo voador.

I.R.

sábado, 14 de abril de 2012

extremos

tento não convencer ninguém de nada.
nunca.
não sei me relacionar com extremistas,
fanáticos,
donos da verdade,
hétero ou homossexuais,
carnívoros ou vegetarianos,
evangélicos ou católicos
religiosos ou ateus,
os extremos nublam,
e, nublados,
não podemos pensar muito bem.

I.R.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

20/13

nem minha namorada
nem minha mulher,
nem minha quase nada
você não é minha,
pois não sou seu dono
nem você minha posse,
meu objeto.
mas aceito minha amada.
já que amo,
amo você todos os dias,
amo você de várias formas,
amo você, amada,
e a vida flui,
vida que se vive
com alegria.
vida que quer cada dia
viver mais.

I.R.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Carta para Divina

Buenos Aires, 12 de abril de 2012

Prezada Divina,

Não nos conhecemos, mas como a Internet tem dessas coisas meio fetichistas, terminei lendo comentários seus feitos para uma amiga, em seu perfil de uma rede social. Então, como a boa educação pede, muito prazer, meu nome é Igor.

Vou usar letras minúsculas para me referir a deus, igual a você.

Em seus comentários, você afirma que deus não existe, porque no mundo acontecem desastres naturais, há miséria e crianças que são torturadas ou estupradas. Você diz que um deus não pode ser bom, já que existem pessoas que sofrem. Você questiona a fé e diz que a combate sempre, pois não entende essa visão que desconsidera o outro, a opinião do outro.

Eu não tenho uma resposta de nada. Para mim, a meta é aprender a conviver com a dúvida e não querer respostas. Minha fé, se podemos chamar assim, é a fé na incerteza. Mas ao contrário de todos os prognósticos, acredito em um algo que podemos chamar de deus.

A questão é que não acredito em um deus todo-poderoso, montado em um cavalo branco, empunhando uma espada ou alguma arma mais moderna, pronto para combater, matar os inimigos e resolver todos os problemas da humanidade. Você gostaria de que existisse um deus assim?

Então, qual é? Sou um cínico que aceito a violência, a fome, as guerras e me tranco em meu paraíso individual e foda-se o resto? Não. Pois não acredito que deus possa resolver tudo isso. É, Divina, apresento a você um deus limitado. Um deus que se autolimitou. Estamos, nós seres humanos, no mundo, e não somos fantoches de deus. Somos participantes de todo o projeto, desde que isto aqui chamado Terra foi criado e habitado por nós.

Você sonha com um mundo sem violência, sem fome, sem guerras, onde as crianças não são estupradas ou não morrem de desnutrição? O que você faz para reparar o mundo? O que você faz para trazer ética ao mundo, para fazer da existência humana algo melhor? Essa talvez seja a pergunta que todos devêssemos nos fazer. O que eu faço para que o mundo se transforme?

Talvez seja o momento de pararmos de culpar a deus pelos nossos erros, pela nossa falta de amor com os outros. Não é irreconciliável que eu agradeça a deus pela minha família, e ao mesmo tempo me preocupe com o bem-estar de uma outra família que está sofrendo. Não é impossível que eu agradeça a deus por ter dois braços e duas pernas e possa caminhar, e ao mesmo tempo lute por um mundo com acessibilidade para todos. E assim poderia passar parágrafos escrevendo outros exemplos.

Agora, se você quer uma resposta para o sofrimento, para a morte, para as catástrofes naturais, para por que o homem morre. Bom, Divina, como disse antes, não tenho resposta para tudo. Aprendo todos os dias a conviver com a incerteza, com as alegrias e com as tristezas, mas tenho fé. Tenho fé de que juntos, os que creem em deus e os que não creem em deus, podemos, se quisermos, construir um mundo mais ético, mais justo, mais tolerante, enfim, melhor de se viver.

Um abraço,

I. R.

terça-feira, 10 de abril de 2012

egoísmo



Foto: Cartu Lina

para criarmos um mundo 
exclusivo e egoísta,
não precisamos construir muros muito altos.

para armarmos uma realidade
individualista e intolerante,
não precisamos levantar paredes grossas.

basta uma estaca e um arame.
um arame farpado.
para não só estarmos isolados em nosso mundo,
cercados em nosso eu,
mas para machucar e ferir a quem quiser se aproximar de nós.

já volto.

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fui buscar meu alicate.

I.R.

domingo, 8 de abril de 2012

risos




Foto: Uriel Lansky

vejo o riso de Igor
e o riso de seu filho
são dois risos bonitos
são bem mais que dois risos

é o amor com seu viço
que ali se clarifica
no riso estão unidos
eu os contemplo lindos

há tal força de vida
no riso do meu filho
no do filho do filho
(vidas que se unificam)

eu: primeiro a ter vindo
há tantos tempos idos
neles dois me eternizo

não mais dois: UM comigo
(como Deus: uno e trino)
eu: meu neto: meu filho

           Eraldo Amay

Observação: Eraldo Amay é o pseudônimo de Eraldo Maia, poeta, e meu pai.

sábado, 7 de abril de 2012

quinta-feira, 5 de abril de 2012

conhece-te a ti mesmo

conhecer-se a si mesmo
é mais do que uma tarefa difícil,
é um trabalho árduo.

quem se conhece?
quem verdadeiramente
é livre
e se conhece?

eu não me conheço,
e a distância que estou de me conhecer é maior do que este verso.

estou aprendendo a não confiar em fórmulas fáceis,
fórmulas mágicas,
que prometem o autoconhecimento,
a liberdade,
a realização,
sem esforço, sem trabalho, sem sofrimento.

os que prometem tais coisas são mentirosos,
são embusteiros,
enganadores
em busca de dinheiro,
em busca de se transformarem em ídolos,
caçadores dos nossos corações.

conhecer-se a si mesmo
é um trabalho duro.
e a felicidade de ser livre
só pode nascer depois da dor de todo um caminho.

I.R.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

para pensar em você

se eu precisasse de imagens para falar de você,
uma foto não bastaria.
mas se fecho os olhos,
vejo o contorno dos seus lábios,
sinto seus dedos nos meus cabelos,
escuto suas palavras de carinho
e uma outra chamada de atenção.
se eu fecho meus olhos,
vejo seu coração,
sinto sua cabeça se apoiando em mim na hora de dormir.
escuto seu sorriso.
pois não preciso de fotos para falar de você.
basta eu fechar os olhos,
ou mesmo de olhos abertos,
que você se faz presente no meu pensamento.

I.R.

terça-feira, 3 de abril de 2012

3-4-12

a ordem natural das coisas não existe
e viver é conviver com inversões,
é administrar tristezas, diversões,
ou inventar a desordem naturalmente.

"alguma coisa está fora da ordem,
fora da nova ordem mundial"

mas a ordem natural das coisas não existe
e nem sempre é fácil conviver com isso.

I.R.