segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Carta para um "culpador"

Buenos Aires, 08 de agosto de 2011.

Prezado,

Como é fácil querer responsabilizar os outros das nossas decisões, não é mesmo? E como, constantemente e até sem perceber terminamos fazendo isso.

Vou te contar uma história que aconteceu comigo. Um dia na semana passada, meu filho, de manhã, estava meio irritado. Reclamava de tudo. Tudo para ele estava mal, era feio, e não queria fazer xixi, nem escovar os dentes, nem tomar café da manhã, nem nada.

Eu tentava explicar para ele que cada uma dessas coisas era necessária, e que ele aproveitasse o dia, que começasse “pra cima”, com alto-astral. Aqui, talvez eu devesse ter parado de falar e respeitado o seu momento irritadiço sem dizer nada.
Mas, sinceramente, não sei. Acho que a felicidade se aprende e o olhar otimista pode ser desenvolvido. Não sei se tudo isso é inato.

Bem, mas acabei me irritando. E terminei gritando com o pequeno. Dei-lhe um grito, ele tremeu todo, chorou um pouco e aí, finalmente parece que acordou e passou a curtir feliz o dia.

Confesso que gostei do resultado do grito, mas não gostei de ter gritado. Eu poderia ter reagido de outra forma, não ter gritado e passado pela sua irritação sem me deixar atingir. Nesse momento, pensei o que em geral os pais fazem.

Os pais costumam dizer aos filhos: “Tá vendo, gritei com você, mas não queria gritar. A culpa é sua por me fazer perder a paciência. Por que você me fez gritar? Parece que gosta.”

Mas para tudo! Sou um ser pensante, poderia ter escolhido outro caminho, ter feito outra coisa. Gritei porque decidi gritar. Ninguém me obrigou a tomar essa atitude. Então aí, consciente disso, escolhi o meu caminho. Não coloquei nos ombros do meu filho a responsabilidade pelas minhas decisões. É fácil dizer que a “culpa” e dos outros, não é mesmo?

Sou responsável pelos meus atos. Então, dei um abraço no meu filho, começamos a conversar sobre outras coisas e superei a decisão de ter gritado com ele. Outro dia já tinha aprendido que também não é bom assumir culpas ou responsabilidades de forma super dimensionada, carregando os nossos ombros com o que não nos pertence. Faz mal ao próprio espírito.

É isso, meu amigo.

Um abraço,

I.R.