sábado, 30 de abril de 2011

libélula


Foto: Andiyan Lutfi

uma libélula entra pela janela
para fazer uma última visita.
vê sua filha,
seus livros,
seu mundo...
voa batendo rapidamente as suas asas,
como se estivesse se despedindo,
dizendo que no futuro vão se encontrar,
que todos nos iremos encontrar.
a libélula, livre
como sua filha,
como eu,
como todos também somos,
sabe que a diferença é que ela já sabe ser livre
e nós ainda não.

I.R.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

casamento e escândalo

enquanto a imprensa mundial
dedica horas e dinheiro
a um casamento da 'realeza' britânica,
alguém, em um país pobre, morre de fome.
enquanto a imprensa local
perde tempo com a traição de uma atriz,
grávida, ao seu marido,
alguém, neste mesmo país, morre de fome.
a gente não quer só circo.
a gente quer pão, arte
e uma imprensa menos frívola,
um pouco menos marrom.

I.R.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

árvore juvenealógica


Foto: álbum de família

juvenal um dia conheceu elisa.
não conheço a história com detalhes,
mas sou parte do que veio a partir daí.
sei que juvenal e elisa se multiplicaram
e um dos resultados de juvenal moreira maia
foi juvenal moreira maia filho, meu avô,
que começou com maria heloïsa
e vieram eliana, eraldo, eduardo,
mas terminou com vanda,
e veio eneida e finalmente chegou
juvenal moreira maia neto, meu tio
que hoje também está em outra oportunidade,
mas na primeira teve juvenal moreira maia bisneto,...
meu primo.
nesta família de juvenais e letras e, me chamei igor,
talvez para evitar qualquer margem de confusão.

I.R.

terça-feira, 26 de abril de 2011

metamorplástico


Foto: I.R.

para as borboletas de plástico
as flores naturais não tem néctar ou aroma
e as de plástico são o seu habitat natural.

as borboletas de plástico não conhecem
o ritual de passagem
de lagarta à borboleta.
já foram feitas com asas
e espetadas em uma vareta jamais voarão.

I.R.

domingo, 24 de abril de 2011

quem se lembra?


Foto: blogandofrancamente.blogspot.com

os judeus estão vivos
os armênios estão vivos,
vivos estamos nós para nos lembrarmos
de que massacres, genocídios, holocaustos,
aconteceram, mas não deveriam acontecer nunca mais.

I.R.

sábado, 23 de abril de 2011

tarde bohemia


Foto:I.R.

no todos los bohemios necesitan la noche,
para algunos basta una feliz tarde de otoño,
la poesía de los pies
y que el sol o un gol sean su fuente de alegría.

I.R.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Carta "herética" de Sexta-feira Santa

Buenos Aires, 22 de abril de 2011

Prezado,

Quando eu era pequeno, queria ter um boneco do Senhor Morto (uma imagem de Jesus morto em tamanho grande, que para mim era um boneco bom de se brincar). Não me lembro quando foi a primeira vez que ouvi a expressão "Paixão de Cristo" e não soube que paixão era sofrimento até a minha adolescência e meus primeiros amores não correspondidos.

A chamada Semana Santa, e, principalmente, a Sexta-Feira, me trazem muitas recordações e reflexões. Reflexões estas que com certeza me levariam à fogueira se fossem publicadas em um blog há 500 anos.

A primeira delas é que acho bastante cruel por parte do ser humano crer em um Deus que precisa do sangue do próprio filho para qualquer coisa. Afinal, se Deus é mesmo Des, não precisa de nada. E se esse Deus é um Deus de amor, a última coisa que necessitaria é a morte e o sofrimento de alguém, em especial do seu filho.

Depois, vale a recordação de que não acredito no pecado. Mas além de cruel, acho covarde o homem crer que seus pecados são lavados pelo sangue e pelo sofrimento de Jesus. Lavar com sangue? Covarde, sádico e bizarro. Cada um é responsável por seus atos, por suas atitudes. Ação e reação. É fácil dizer que se aceita a salvação de Jesus e que as próprias atitudes são corrigidas pelo sacrifício de outro.

Agora, entendo que toda religião tem seus mitos. E que mito vende melhor que: meu deus morreu para salvar a humanidade, mas a morte não o venceu. Ele venceu a morte, ressuscitando depois de 3 dias de ter sido crucificado? Melhor marketing impossível.

Agora, outra coisa, se para os cristãos a morte de Jesus era necessária, caso contrário não haveria salvação, por que ter raiva de Judas e por que reclamar do que fez? Se Jesus tinha que morrer, tinha que ser traído, o papel de Judas é fundamental no processo. Alguém tinha que fazer o trabalho sujo. Sem Judas não há sacrifício de Jesus.

O certo é que não tenho nenhuma resposta para tudo isso. E não quero ter. Prefiro encarar tudo isso como algo hermético, um texto inciático relatando um rito de passagem. Creio no que é Divino. Sou teísta. Mas sei pensar, não como vidro nem acho que o sangue de Jesus tem poder.

Se ofendi você, peço desculpas. Reflito e pergunto. Sou um ser pensante. Se Deus nos fez pensantes, seria uma falta de respeito à Sua criação não pensar, não refletir, não desconfiar das "verdades" que querem nos vender por aí.

Abraço,

I.R.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

a gente também quer comida


Foto: I.R.

na hora da fome
a cabeça não quer poesia.
e aos olhos do poeta
até a lua ganha uma aparência mais comestível.

I.R.

terça-feira, 19 de abril de 2011

o que os olhos não veem


Foto: I.R.

nossos olhos não veem a verdade,
porque não se pode ver nem sentir o que não existe.
ou melhor,
nossos olhos não podem ver a verdade
porque nem uma eternidade alcança para ver todas as verdades
que existem.
existem tantas verdades como estrelas no céu,
como bactérias e vírus e ácaros dando voltas por aí.
se cada cabeça é um mundo,
cada mundo tem um sol,
e somos um mundo no meio de 6 bilhões de mundos,
milhares e milhares de verdades...
porque existem tantas verdades como areia no deserto,
ou como areia branca na praia grande.
nossos olhos não podem ver a verdade,
porque nem todo quebra-cabeça forma uma unidade.
alguns tem peças que sempre serão independentes.

I.R.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

parceria


Foto: I.R.

(...)
"se você quiser eu posso murmurar
no seu ombro nu,
uma história, assim,
fábula,
êxtase eletrônico"
(...)

Igor Ravasco e Júnior carriço

domingo, 17 de abril de 2011

ciclo da vida


Foto: I.R.

nascer e morrer,
nascer, crescer e morrer,
nascer, se reproduzir, crescer e morrer,
nascer, crescer, se reproduzir e morrer,
o ciclo da vida talvez como o da flor,
ciclo como um cata-vento,
vida como um cavalinho de carrossel.

I.R.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

janela aberta


Foto: adriano mello


o cheiro molhado das gotas da chuva da noite anterior me fez acordar.
amanheceu, e um sol discreto se assoma pela janela aberta.
a vida entra por aí,
e a morte nada mais é do que a passagem da janela aberta à janela fechada,
por onde nem o sol nem o cheiro das gotas da chuva da noite anterior podem entrar.
por isso deixo a janela aberta,
e mantenho os meus olhos abertos,
não só para que a vida entre,
mas para que eu passe por ela, para que eu pule a janela aberta,
e descubra todo dia o que a vida tem do lado de fora para mim.

I.R.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

dois quatro três


Foto: I.R.

você não é a mulher dos meus sonhos,
e ainda bem que não é.
não quero uma vida ou uma mulher de sonhos
ou de prováveis pesadelos.
sou feliz com você real,
olhos abertos,
pés no chão,
que fala e escuta,
que pede e que aceita um pedido,
que me inspira, me ilumina
e se deixa iluminar pelos raios do sol.

I.R.

terça-feira, 12 de abril de 2011

poema para um franco

ei, mar,
faça uma boa viagem rumo ao infinito,
descanse em sua eternidade.
e se um dia você voltar em forma de chuva,
caia sobre mim
como se fosse um beijo
para que eu possa ao menos por um instante
senti-lo comigo outra vez.

I.R.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

cama de livros

tem muitos livros que li;
tenho muitos livros pra ler.
uma vida só vai ser pouco
para ler minha cama de livros,
onde me deito como faquir,
e vivo aventuras,
choro dramas,
medito, aprendo,
e busco pistas para prender o assassino.

I.R.

domingo, 10 de abril de 2011

as palavras estrangeiras

as palavras estrangeiras não precisam de passaporte,
entram e saem sem convite,
sem passagem.
as palavras estrangeiras simplesmente aparecem...
por costume ou por necessidade,
por sinal de status ou por bestice.
as palavras estrangeiras sempre estão presentes,
mas sei que querem ter um documento
para se tornarem imigrantes legais em léxico alheio
todas prontas para trabalhar,
algumas tal como estão
e outras esperando se naturalizar.

I.R.

sábado, 9 de abril de 2011

realengo


Foto: I.R.

tem vezes que a insanidade
extrapola os limites
do que podemos imaginar.

o difícil é conviver com a realidade
de que isso
um dia fez o pôr-do-sol começar às oito da manhã.

I.R.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

aos caranguejos


Foto: I.R.

a vida corre pra frente
não tem como voltar.
nem rio nem mar;
sucessão de mílésimos,
vivências, experiências,
acontecimentos,
conjunto de coisas até o último silêncio,
mas sempre pra frente.
não tem como voltar.
nem lifting nem peeling,
cirurgia estética, botox ou reencarnação,
a vida não tem um relógio invertido.
viver é divertido,
mas é bola pra frente,
não tem como voltar.

I.R.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Fato


Foto: M.E.L e I.R.

Pra viver, eu agora apuro o faro,
e me cuido do mar e da maré;
navego devagar, pé ante pé,
cuidando do meu muito despreparo.

E se me torno assim um bicho raro
e estranho, desconfiado qual Tomé,
talvez se deva ao mar ser só o que é,
e eu só me dar aos poucos, meio avaro.

Então é necessário nova rota,
abandonar o barco e ser a frota,
ser um peixe a fugir de cada anzol,

e vencer mar, maré e maresia,
a vida viver toda, não fatia,
construir um porto próprio e um bom farol.

I.R.

domingo, 3 de abril de 2011

tudo azul


Foto: I.R.

ao som de um blues
negro de nascença
vejo a natureza,
ao mesmo tempo em que as paredes se embranquecem,

e juntos,
dois povos manchados de sangue inocente
se entendem,
prestes a ver a cor do mar.

I.R.

sábado, 2 de abril de 2011

águas profundas


Foto: Hans Hillewaert via Wikimedia Commons/CC BY-SA

perdido entre patas,
abrimos portas chaveadas
à procura de um escape,
de uma marquise que nos proteja da chuva.
trancado em potes,
usamos longas pinças
para abrir comportas,
à procura de um porto,
um simples cais onde poder atracar.

I.R.