Buenos Aires, 30 de setembro de 2010
Prezada Santa Edwiges,
já decidi. Na minha próxima encarnação quero nascer rico. E não digo isso porque me interesse os bens materiais ou o desejo de possuir uma fortuna.
Decidi que na próxima vou ser rico apenas para mudar o foco. É que preocupação com o dinheiro nós sempre temos. Ou por ter demais ou, como no meu caso, por ter de menos.
Então no fim do mês é aquela loucura para catar moedas no fundo do cofrinho, raspar aquela mixaria da conta, tomar cuidado para não entrar ainda mais no cheque especial, somar e chorar as dívidas com o cartão de crédito, com o cartão do supermercado e ainda tentar sobreviver com dignidade, sabendo que o salário do começo do mês não cobrirá todas as despesas.
Na próxima, está decidido, quero me preocupar se a bolsa de valores despencou ou não, em quanto está o valor do ouro, de quanto foi o lucro das minhas empresas, se compro um Picasso ou um Van Gogh para a sala, enfim, se contrato mais seguranças por ter medo de ser sequestrado ou se me mudo para Monte Carlo e passo noites me divertindo no cassino, sem pensar na remota possibilidade de falência.
Já tá. Não se discute e não se fala mais nisso. Na próxima, troco minha conta zerada no banco por algum paraíso fiscal.
Um abraço,
I.R.