domingo, 31 de maio de 2009

dor

concordo com o meu amigo
quando ele, no auge ou no início
de uma nova situação,
diz que dói.
e me dói plagiá-lo,
mas não tenho culpa
se a dor que carrego em mim
é parecida com a dele.
é uma dor, assim, repetida,
anáfora
analisada por uma analista
que jamais esqueci.
é uma dor anatômica,
encaixada no meu coração,
como se encaixa
no coração do outro poeta
uma dor que não é vã.
é uma dor analítica
analisada por um análogo marxista
que, segundo meu critério anarquista,
não compreende muito de análise,
mas diz tudo para me agradar.
é uma dor que vem, não vai, e que tem volta,
e que nenhum analgésico a fará passar.
é uma dor que dá nos poetas
e que nem um ou nenhum anagrama, um dia, há de curar.
é uma dor que vive em mim, inexplicada,
anamnese que não se pode esfacelar.

I.R.