domingo, 29 de junho de 2008

Terceiro bilhete para um world músico

Buenos Aires, 29 de junho de 2008

Prezado,

o mundo é tão vasto, conhecemos tão pouco... e a globalização e as misturas, pelo menos às vezes, parecem ser mais incríveis até do que o que realmente são.

Fanfare Ciocarlia... entre a Romênia e o Japão... com todo o calor cigano.



Um abraço,

I.R.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Carta para um pecador

Buenos Aires, 26 de junho de 2008.

Prezado Pecador,

Antes de mais nada, quero dizer que esta não é uma carta para criticá-lo. Longe de mim tal atitude. Não sou o dono da verdade, não quero ser, não sou melhor do que ninguém. Para ser sincero, e por mais que você ache estranho, esta é uma carta para me confessar como membro do seu clube.

O pecado faz de nós verdadeiros seres humanos. Todos pecamos (entenda-se este verbo como presente e como pretérito perfeito). E quase todos gostamos de pecar. Um ser humano sem pecado não é um ser humano, é um deus ou uma deusa, mas não pode ser chamado de humano.

Atire a primeira pedra quem não comeu aqueles dois bombons a mais só por gula. Atire duas pedras aquele que sabendo que deveria se levantar não ficou mais 15 ou 20 minutos na cama. Atire 5 pedras o homem que não olhou para uma mulher na rua com olhos gulosos. Ou a mulher, que tendo visto o homem com uma bunda bonita não andou um pouco mais rápido para ver se o rosto também era bonito ou só a região glútea. Atire 16.000 pedras quem um dia não sentiu uma ponta de inveja do vizinho, do ator da TV, de um desconhecido na rua, do colega de trabalho ou até do BBB que ganhou um milhão de reais da Rede Globo.

E por aí vai, senhor Pecador. Nenhuma pedra pode e será lançada. Todas ficarão onde estão. Todas as pedras, caprichosamente, no lugar. Porque todos pecamos. E isso não faz de nós piores pessoas, apenas mostra como somos, imperfeitos, humanos, feitos de um barro meio tosco, mal cozidos, diria eu.

Agora, meu amigo Pecador, não nos deixemos enganar. Somos pecadores, sim, mas isso não significa que queremos o mal dos outros. Pecar não nos faz filhos da puta (com o perdão da trabalhadora, cujos filhos nem sempre são más pessoas). Porque sentir preguiça, por exemplo, não é a mesma coisa que não fazer nosso trabalho, esperando, querendo, exigindo, que outro o faça. Olhar uma pessoa com olhos gulosos não é o mesmo que estuprar alguém. Sentir uma pontada rápida de inveja não é a mesma coisa que fazer o possível e o impossível para prejudicar alguém ou para roubar o lugar de um colega. Fazer uma pequena fofoca em casa não é o mesmo que fazer intriga, fuxico.

Pecador, o mundo está cheio de Escrotos. E precisamos ter cuidado para não sermos confundidos, postos na mesma sacola. Todos temos caras de seres humanos, todos parecemos iguais como um caminhão cheio de ocidentais (claro... os orientais também acham que somos todos iguais). Mas não somos. Os Escrotos riem da desgraça alheia.

Os Escrotos fazem chacota com a miséria humana, fazem piada com o sofrimento das pessoas. Cuidado com os Escrotos!

Deus me livre e guarde dos Escrotos, e me garanta cada vez mais no meio da humanidade dos pecadores.

Um abraço,

I.R.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Sistema Solar

O mistério da vida aquém de Marte
É o segredo da mesma além de Vênus
Onde estamos vazios, nunca plenos
E a dúvida é o Mercúrio desta arte

Se penso, logo sou como Descartes
E existo, ou isso quase, pelo menos,
Palavras, equações, verbos, cossenos,
E sou meu próprio Júpiter à parte

E se às vezes pareço tão soturno
Será por meus anéis lá de Saturno,
Por ser irregular como um cometa

E Netuno governa a minha Terra,
Urano em casa dez a mim se aferra,
Sou Plutão que deixou de ser planeta

I.R.

domingo, 22 de junho de 2008

Segundo bilhete para um world músico

Buenos Aires, 22 de junho de 2008

Prezado,

espero que tenha gostado do vídeo de Cheb Mami. Aquela fusão com as gaitas de fole realmente são inesperadas. E como eu sei que você está sempre disposto a escutar algum som diferente, hoje eu te convido para dar um pequeno passeio pela África, Guiné Bissau, ao encontro de Manecas Costa. Sabe, esse tipo de música ou músico me faz pensar em quanto a música brasileira sofreu influência africana, mas ao mesmo tempo me pergunto em quanto a música brasileira pode ou pôde influenciar os atuais músicos africanos.



Um abraço,

I.R.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Segunda carta para o Zé

Buenos Aires, 19 de junho de 2008.

Prezado Zé,

É a segunda vez que escrevo para você em tão pouco tempo. Desculpa incomodar, mas sei que você sabe que amigo é para essas coisas, ou não?

Viu o jogo ontem? Eu só vi parte do segundo tempo, mas confesso que há muito tempo um jogo da seleção me motivava tão pouco. Acho que foi por uma série de fatores. Você me entende, não é? Primeiro a vitória suada em cima do Canadá, depois as derrotas para a Venezuela... Não, amigo Zé, pára tudo... derrota para a Venezuela!!!!!, e para o Paraguai... apostando numa tática de defesa e contra-ataque... Pára tudo, Zé! Pára o mundo da bola que eu quero descer. O Brasil, a seleção brasileira, pentacampeã, terra de Pelé, Garrincha, Zico, Roberto Dinamite, Bebeto, Romário e até Túlio Maravilha resolveu apostar no contra-ataque... Não pode ser sério.

E veio o jogo de ontem, feio, chato, com alguns poucos lances, que alguns jornalistas aqui insistiram em dizer que a Argentina foi muito superior ao Brasil. Se foi, não vi tamanha superioridade. Não sou crítico esportivo, mas como torcedor foi o pior Brasil e Argentina dos últimos 10 anos.

Falando em Argentina, hoje ta chovendo aqui em Buenos Aires. Já vejo a sua cara lendo esta carta e pensando que eu não tenho nada para falar e resolvi escrever sobre o tempo. Não, amigo, Zé, nada disso. Não sei se você sabe, mas as calçadas daqui não são de cimento, mas cobertas com lajota, com piso, que aqui são chamadas de “baldosas”. Caminhar por estas calçadas em dias de sol pode ser toda uma aventura, elas parecem um campo minado onde temos de driblar os inúmeros cocôs de cachorro instalados caprichosamente, pronto para se instalarem debaixo de nossos calçados. E em dias de chuva, como hoje, o problema é que muitas dessas lajotas estão soltas (a famosa “baldosa floja”), e caminhar por essas calçadas é uma aventura, onde podemos pisar numa dessas lajotas e ganharmos, em troca, uma chuva de baixo para cima de água suja (como a que inundou/sujou a minha calça hoje). Você não imagina, Zé, que maravilha!

E já que falei nos dias de chuva, essa história do piso solto não é tudo. Nesse vídeo-game bizarro em que se transformam as calçadas daqui podemos incluir o pessoal que anda com seus guarda-chuvas sem se preocupar se vão cegar ou não as outras pessoas da calçada. Não sei, mas talvez os que furarem mais olhos ganharão mais pontos, algum tipo de bônus ou até mesmo uma vida extra.

É, Zé, mas contando não tem graça. O bom é viver essa experiência, pelo menos uma vez na vida. Bem, agora vou fazer o Santiago arrotar.

Um abraço,

I.R.

PS: Quando encontrar a Adrianne, manda um abraço para ela. Diz para ela que é claro que me lembro dela.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Bilhete para um world músico

Buenos Aires, 18 de junho de 2008

Prezado,

há misturas que ganham um sabor diferente e todo especial. Veja (ou ouça).



Um abraço,

I.R.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Em brancas linhas

A folha que eu seguro em minhas mãos
Não comunica nada estando em branco
Mas devo admitir pra ser bem franco
Que nada comunico aos meus irmãos

Parede mal caiada em muitas mãos
Motor que não arranca nem no tranco
Verso torto em poeta meio manco
Derrotas esquecidas pelos vãos

Porque caso a vitória seja o fim,
Superação de início tão ruim,
Só quero retornar pra minha casa

Já que nem tudo agora tem conserto
Eu sinto no meu peito um grande aperto
Vazio como tábula bem rasa.

I.R.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Bilhete para quem me lê

Buenos Aires, 16 de junho de 2008

Apesar de não estar capacitado para comentar o que escrevo, acho válido (pelo menos hoje) deixar esse espaço habilitado. É isso, tá valendo comentar.

Se alguém tinha percebido que na barra da esquerda o Carta e Verso tem uma lista musical, quero avisar que ela está atualizada. É bom variar as músicas. Não trocá-las seria mais ou menos como ter umas músicas no iPod e não mudá-las durante meses. Tem quem gosta, é verdade, mas como são poucas, acho que pode cansar.

Um abraço,

I.R. (Carta, Verso e Música)

domingo, 15 de junho de 2008

Bilhete para mim "y para todos los papás"


Descobri uma nova vantagem de ser brasileiro morando na Argentina. Como o "Dia dos pais" é no segundo domingo de agosto, e o "Día del padre" é no terceiro domingo de junho, posso comemorar esse dia duas vezes. Tá certo que no dia que o Santiago descobrir que essa regra também vale para o "Dia das crianças" e o "Día del niño", eu e sua mãe teremos problemas.

¡Feliz día para mí y para todos los papás!

I.R.

sábado, 14 de junho de 2008

Carta para o Zé

Buenos Aires, 14 de junho de 2008.

Prezado Zé,

Para ser sincero, não sabia para quem escrever, para quem contar certos pensamentos meus, filosofia barata de bar (ou de supermercado, não sei dizer). E aí pensei que você não se incomodaria. Você não se incomoda, não é? Bem, muito simples, se não quiser ler esta carta basta deletá-la, fechar a página, ignorar o link. Queimar vai ser meio complicado, a não ser que você esteja com raiva do seu computador.

Bem, mas vamos ao assunto, não é mesmo? Olha, Zé, eu descobri que ir ao Coto e passar meia hora na fila não é de todo mal. Tá, você deve estar me achando completamente louco. Você sabe que um pouco louco até pode ser, mas para completamente ainda me falta muito. O que acontece, é que no Coto vejo coisas, situações, que me mostram um pouco mais da natureza humana, ou então me fazem refletir sobre coisas que já tinha visto ou pensando antes.

Quer um exemplo? Bem, hoje eu estava na minha meia hora de fila habitual quando ouvi uma pequena discussão. Uma senhora Ruiva dizia a uma senhora Loura que não deixaria o senhor Sem Dente passar porque ela estava na fila, e não permitiria que o Sem Dente furasse a mesma. A dona Loura tentou argumentar, dizendo que eles estavam juntos no supermercado, e que ela tinha direito a que o Sem Dente estivesse ao lado dela, já que ela chegou na fila antes e o Sem Dente (faltava um... ou dois, não deu para ver perfeitamente) era seu parente. A dona Ruiva contra-argumentou que aquilo não era um motivo válido, já que se fosse assim ela teria de permitir que qualquer pessoa passasse na sua frente usando esse argumento de parentesco, e que se o Sem Dente quisesse ficar na fila teria de ficar atrás dela. A dona Loura podia ficar, já que havia chegado antes, mas o Sem Dente não. Teria que ir para o final da fila. E o Sem Dente acabou indo para outra fila, reclamando, claro. E mais tarde levou a dona Loura para a sua fila, com o apoio e a compreensão dos seus novos colegas.

Sabe, Zé, na hora eu pensei e continuo pensando que a dona Ruiva estava coberta de razão. Por que ela deveria aceitar que uma pessoa furasse a sua fila (com o carrinho cheio), apenas porque algumas pessoas insistem em dar uma de espertas ficando em filas diferentes para ver qual das duas anda mais rápido? Essa “esperteza”, esse “levar vantagem”, esse “estando bom para o meu lado, o resto que se dane”, me enche o saco. Sei que isso sempre esteve entre nós, mas acho que está mais presente, cravando em nossa carne as suas unhas, as suas garras.

E isso é o que se vê no supermercado onde você tem toda a família dividida em diversos caixas esperando o mais rápido; é assim no metrô onde todos dormem enquanto mulheres grávidas e senhores e senhoras idosos viajam em pé; é assim no ônibus onde a coisa não é diferente do metrô; é assim no trabalho, onde se espera ganhar dinheiro com o mínimo esforço, na base de esqueminhas, fingindo-se ser o que não é.

É, Zé, mas, infelizmente, parece que na nossa constituição o primeiro artigo mesmo é a Lei de Gérson, onde “O importante é levar vantagem em tudo. Certo?”.

Um abraço,

I.R.



I.R.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Literacura

Uma literadura quase nada
Quando nasce somente do exercício
De um esqueminha, um falso sacrifício
Palavra intranscendente, sem sacada

Duração de uma ruga retocada
Literatraz tão pouco benefício
Mas ardilosa, é cheia de artifício
Literatriz de araque, marmelada

Mas descobrir cadê literaboa
Não é tarefa de qualquer pessoa
Nem todo mundo tem a sacação

De que a literavida na verdade
Não azeda, não perde a validade
Literasempre assim sem duração.

I.R.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Trikitixa, txalaparta - Carta, verso e música

Buenos Aires, 9 de junho de 2008

Prezado ouvinte,

Às vezes acho que este blog deveria se chamar Carta, Verso e Música, já que faço questão de que ela não falte neste espaço virtual-real. Esta não é uma carta, é apenas um bilhete para lembrar que existe música além do nosso umbigo brasileiro. Que fique claro, adoro quase tudo o que é produzido entre as linhas que delimitam o Brasil, mas conhecer outras expressões musicais é ter a prova do que já sei: que a minha cultura não é melhor do que a de ninguém nesse "mundo vasto mundo".



Um abraço,

I.R.

PS: Ah, os nomes do título correspondem a instrumentos usados na música tradicional do País Basco, como nessa, de Kepa Junkera.

I.R.

domingo, 8 de junho de 2008

Sétima arte

Sei que as histórias têm o seu começo,
Mas o final bem pode ser aberto,
Mostrando que há um futuro todo incerto,
Que eu, mais um personagem, também teço

Por uma história sempre nasce o apreço,
Queremos que ela esteja sempre perto,
E mais final feliz, um final certo,
Ou que tenha seqüências sem avesso

Mas nem todas as histórias tem seqüência
Nem todos os começos têm paciência
De uma segunda parte, um novo artista

E então podemos só imaginar
A seqüência num sonho a se filmar
A não segunda parte jamais vista

I.R.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Carta para Lenine

Buenos Aires, 5 de junho de 2008.

Querido Lenine,

Desculpe-me a intimidade, mas é que ir ao seu show ontem foi como ter ido ao show de um amigo, de alguém que conheço e convive comigo há muitos anos. E o show foi ótimo. Eu sabia que seria, mas sempre tive medo de criar expectativas sobre qualquer coisa. Acho que criar expectativas é abrir a guarda para a decepção.

Ontem procurei não criar nenhuma expectativa. Mas fui para o show com certeza. Com a certeza de que seria ótimo. Primeiro ouve uma prévia jazzística de um grupo que não sei o nome. Confesso que nessa hora me senti num barzinho, com músicos tocando e um pessoal sentado atrás de mim que não parava de conversar. Cá entre nós, existe coisa pior do que ir a um show e ter que agüentar conversas alheias sobre assuntos que não interessam enquanto você quer ouvir a música que está rolando?

Essa introdução durou meia hora, enquanto você se preparava. O público estava indócil. Não éramos muitos. O teatro estava cheio, mas não lotado. Dava pra ver alguns espaços vazios. Mas acho que você viu bem que quando o show começou o teatro parecia ter o triplo de gente. Todos cantando, todos felizes por ouvir a sua música e ouvir a sua poesia.

Foi a primeira vez que fui a um show seu. No Brasil nunca coincidimos. Tinha que ser aqui. Por quê? Não sei. Mas teve de ser aqui. E os primeiros acordes, “todo mundo tem direito à vida, e todo mundo tem direito igual”, e o arrepio que eu senti, e a certeza de que a poesia vive. A poesia vive em letras como as suas, como as de Caetano, as de Gil, as de Cazuza, as de Renato Russo. A poesia vive na voz de Maria Rita, de Céu, de Maria Bethânia. A poesia cantada, a vida em forma de música, e toda a vibração e energia do seu Som.

E durante o show ouvir você dizendo que toda aquela energia era o resultado de muito trabalho, muito sacrifício, e a certeza de que valeu a pena você ter sido cabeça-dura.

E depois o desfiar de suas músicas, seus sucessos, todos conhecidos, de “Olho de Peixe” a “InCitè”, e os pedidos de bis, vários, e a sua volta ao palco, generosa. E depois do show, a pequena cereja em cima do bolo. Ir aos bastidores, como um/uma adolescente que vai ver o ídolo, e emocionado, dizer a você “muito obrigado por ser cabeça-dura”, e depois da frase dar um abraço em você, como aquele que se dá nos amigos.

Mas agora que estou quase terminando essa carta, pensando bem, poderia ter escrito apenas um bilhete. É, só um bilhete. Escrito em letras garrafais: MUITO OBRIGADO!

Um abraço,

I.R.



I.R.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

À Brasileira

Não sei quem foi, quem é, será seu dono
Não sei quem descobriu a sua cadência
Não sei se foi pessoa ou consciência
Não sei quem é teu santo ou teu patrono

Mas sei que você nunca perde o tono
Sei que você é simples, sem ciência
Sei que seu baticum é quintessência
Que seu som é estéreo, nunca mono

E mesmo sem saber quem você é
E até sem te trazer aqui no pé
Vou morrer num pagode bom de bamba

E no meio de toda batucada
Vou descobrir o ser, o tudo e o nada
Na cadência bonita de um bom samba

I.R.





I.R.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Carta para um desconfiado

Buenos Aires, 3 de junho de 2008.

Prezado desconfiado,

Eu sei que a sua vida não deve ser fácil. É triste pensar que todos estão olhando para você, falando de você, e claro que mal, que as pessoas são todas traíras, prontas para te passar para trás.

Essa é uma carta que daria muitíssimo pano pra manga. Você sabe que os seus caminhos, senhor desconfiado, são infinitos. Você caminha pela rua e imagina que todos os olhos convergem para você, que aquelas pessoas que conversam na porta de um bar estão criticando a sua roupa, o seu cabelo, o seu jeito de caminhar. Você tem certeza de que as pessoas se aproximam de você apenas por interesse.

Você chega no trabalho e acha que seus colegas estão com uma faca escondida, prontos para cravá-la nas suas costas. Talvez seja por isso que você ande quase sempre encostado na parede. Você acha que todos os seus colegas querem o seu lugar na empresa. Você acredita que eles falam mal de você para o superior e que aquela promoção que seria sua será roubada pelo primeiro que puxar mais o saco do chefe.

Agora, quando o assunto são as questões do coração, aí, senhor desconfiado, você é campeão. Você sempre acha que a sua namorada tem outra, e se não tem, ainda vai ter. Acha que a espinha que está crescendo na sua cabeça, na verdade é um super chifre colocado naquele motel xexelento que você andou freqüentando há um tempo, mas que agora prefere fingir que nunca viu.

Bem, para a sua mania de perseguição e seus medos no trabalho, não sei muito o que dizer. Mas para suas inseguranças no amor, acredito ter, se não A, ao menos UMA solução. Peça currículo. Isso mesmo, senhor desconfiado, peça currículo às suas candidatas à namorada. Como? Da mesma maneira que uma empresa faz.

Confira a experiência que ela tem, veja quanto tempo “trabalhou” em cada serviço, e se for possível se apresentar com uma carta de recomendação, com certeza, será bem melhor. Telefone para os antigos “patrões” e descubra se foi despedida, pediu demissão, se houve justa causa ou foi demitida por mau desempenho das suas funções.

E antes que me digam, senhor desconfiado, que essa é uma carta machista. Senhora desconfiada, tudo que eu escrevi no masculino pode ser passado para o feminino. Mas talvez eu devesse acrescentar a sua desconfiança de que todas as suas amigas falem das suas celulites ou das suas estrias bem naquela hora que você se levantou e saiu da sala para atender o celular.

Você também, senhora desconfiada, peça o currículo ao seu candidato a namorado, mas não desconfie se ele chegar em casa com uma marca de batom na cueca. Tenha certeza de que ele mijou fora do penico.

Com desconfiança,

I.R.

domingo, 1 de junho de 2008

Invenções

Eu vivo de inventar todos os dias
Invento vidas, nomes e remédios
E solução prum terço dos meus tédios
Invento histórias, dores e alegrias

Sou de inventar também as euforias
Invento as desavenças e os assédios
Os "ais" pequenos, grandes, os "ais" médios
Invento ordens, invento hipocrisias

E vivo a minha vida de inventor
Sem deixar perceber ou só supor
Que de invenções minh'alma inteira vive

E invento aqueles versos que não li
E também as paixões que não vivi
Os amores passados que não tive

I.R.